Curiosidade / História
Para entender um pouco mais sobre o título da matéria que elaboramos, vamos voltar um pouco no tempo e conhecer um pouco da história petrolífera brasileira. A primeira multinacional a trabalhar com derivados do recurso no Brasil foi a Standard Oil Company of Brazil, anos depois a Esso Brasileira do Petróleo Limitada.
Suas atividades começaram em 17 de janeiro de 1912 com a autorização do Marechal Hermes da Fonseca, então presidente do país. Um ano depois, a The Anglo Mexican Petroleum Products Company Limited, atual Shell, também veio para o nosso território através do Decreto 10.168 do mesmo presidente.
Nesse período da nossa história, éramos um pouco mais de 22 milhões de habitantes e a nossa frota de veículos era de 3.000, todos importados. Apesar disso, o consumo de gasolina, lubrificantes e óleos crescia. Com essa necessidade, o mercado foi se abrindo e a concorrência aumentando.
No dia 18 de abril de 1920, em vários jornais do Brasil, inclusive os de São Paulo, surgiu a primeira publicação.
Se fosse publicado nos dias de hoje, este anúncio causaria repulsa e indignação, mas na época causou muita curiosidade. Afinal, o que representava aquele emblema ?
A segunda veio no dia 22 do mesmo mês, explicando o que tal desenho representava ao redor do mundo. O texto, bastante curioso, dava explicações da origem histórica do símbolo, mas nada ainda de dar detalhes ainda do que viria a ser a razão daqueles anúncios.
Não se tratava de crença religiosa ou algo do gênero, mas sim a marca (ou emblema como dizia no anúncio) da empresa Anglo-Mexican Petroleum Company ou, como conhecemos hoje, a Shell. A empresa estava no Brasil desde 1913, mas foi na década de 20 que ela realmente se expandiu por aqui, instalando bombas de gasolina de rua e em garagens de São Paulo e no restante do país. A publicidade com a suástica era para fazer os produtos da empresa ainda mais conhecidos por aqui.
O símbolo não se restringia a publicidade. Estava também presente nos papéis timbrados da empresa, nas embalagens e também em seu maquinário, como as bombas de gasolina. Na imagem abaixo, junto a outras marcas, podemos observar alguns dos produtos da Anglo-Mexican que ostentavam a suástica.
Em 1920 o símbolo ainda não era ligado ao regime nazista. Naquele momento a suástica não tinha recebido a associação a algo tão terrível e negativo para a humanidade e era até simpático adota-lo como um emblema. Porém alguns anos mais tarde, com a crise da Alemanha pós Primeira Guerra Mundial, o nazismo começaria a crescer e o símbolo adotado por Adolf Hitler era justamente a suástica, que já estava disseminada também pela empresa. Embora idêntica, a suástica nazista tinha a orientação diferente desta, apontando pro lado oposto.
Mesmo com os nazistas utilizando largamente a suástica desde a segunda metade dos anos 20, a Anglo-Mexican manteve-a como emblema da empresa. O símbolo só seria descartado com a ascensão no nazismo ao poder, na Alemanha, em 1933. Neste mesmo ano, a empresa voltaria aos principais jornais do Brasil para anunciar a adoção de um novo símbolo, hoje também mundialmente conhecido: a concha.
Era o fim da linha para a suástica na empresa e apenas o início como símbolo marcante do nazismo e dos horrores que viriam com a Segunda Guerra Mundial. O emblema antigo é tão tabu que não há qualquer menção a ele no site da empresa. Porém, acredito que a história foi feita para ser contada e não escondida.
Fica a pergunta: Se não tivessem os nazistas adotado a suástica, será que o símbolo estaria sendo utilizado até hoje pela empresa?
Veja abaixo mais duas publicidades antigas da Anglo-Mexican, respectivamente de 1931 e 1933:
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