Auto Retrato (Portrait de L'Artiste / Self-Portrait) - Jacques-Louis David
Museu do Louvre, Paris, França
OST - 81x64 - 1794
Jacques-Louis
David (Paris, 30 de agosto de 1748 – Bruxelas, 29 de dezembro de 1825)
foi um pintor francês, o
mais característico representante do neoclassicismo. Controlou durante anos a atividade artística
francesa, sendo o pintor oficial da corte francesa e de Napoleão Bonaparte.
Jacques-Louis
David nasceu de uma próspera família parisiense. Quando tinha nove anos seu pai
foi morto em duelo, e sua mãe o entregou aos cuidados de seus tios
abastados, que providenciaram para que ele tivesse uma educação primorosa
no Collège des Quatre-Nations, mas ele jamais foi um bom aluno - sofria de
um tumor na face que afetava sua fala, e passava o tempo a desenhar. Desejava
ser pintor, contrariando os planos de sua mãe e tios, que o queriam um
arquiteto. Vencendo a oposição, buscou tornar-se aluno de François Boucher, seguidor
do rococó e o principal pintor de sua geração, que era também
seu parente distante. Mas Boucher, em vez de aceitá-lo como discípulo, o enviou
para aprender com Joseph-Marie Vien, um
artista que já trabalhava numa linha classicista, e o jovem ingressou então na
Academia Real.
Tentou o Prêmio de Roma por quatro vezes, sendo em todas
preterido. Depois do quarto fracasso iniciou uma greve de fome, mas não a levou
ao cabo. Finalmente em 1774 teve sucesso, dirigindo-se a Roma para
ingressar na Academia de Roma,
e a ajuda do professor Vien o poupou de um estágio preliminar em outra escola,
o que era uma praxe. Lá executou inúmeros desenhos e esboços das ruínas da
cidade histórica, material que o proveu de inspiração para as arquiteturas de
suas telas ao longo de toda a vida. Estudando os antigos mestres, sentia uma
predileção por Rafael Sanzio, e ao visitar Pompeia ficou maravilhado. Depois destas impressões tão
fortes decidiu adotar em seus trabalhos um estilo de acordo com os conceitos do
classicismo.
Sua
convivência com os colegas na Academia de Roma não
era fácil, mas em geral era-lhe reconhecido o gênio. Depois de cinco anos na
capital italiana voltou a Paris, onde teve uma recepção calorosa, que lhe abriu
as portas da Academia Real, para onde enviou duas pinturas de admissão, ambas
incluídas no Salão de 1781, uma honrosa exceção aos critérios rígidos que
norteavam o concurso. Seu sucesso precoce lhe rendeu a hostilidade de membros
da administração da Academia, mas teve o favor real de poder instalar-se
no Louvre, um privilégio concedido somente a grandes artistas. Ao
mesmo tempo desposou Marguerite Charlotte, filha do administrador do palácio,
M. Pecol, casamento que lhe trouxe dinheiro e quatro filhos. Já com muitos
alunos, recebeu a encomenda do rei para pintar Horácio defendido por seu
pai, mas ele argumentou que só em Roma poderia pintar romanos, e conseguiu de
seu padrinho os recursos necessários para a viagem.
Novamente na
cidade eterna, David pintou O Juramento dos Horácios (1784),
uma de suas primeiras obras-primas, cuja novidade maior foi a clara
caracterização dos papéis masculinos e femininos, seguindo preceitos de Rousseau, e o elogio de
ideais patrióticos republicanos, temas que continuaria a abordar por muito
tempo.De acordo com o historiador Arnold Hauser, esta obra "constitui um
dos maiores êxitos registrados na história da arte. Apesar de seu tratamento
linear e cerebral, conseguiu obter um grande efeito dramático. Ainda em Roma o
pintor acalentou a ideia de tornar-se o diretor da seção da Academia Francesa
naquela cidade, mas alegando-se sua pouca idade, seu pleito foi recusado.
Sua próxima
obra de vulto foi A Morte de Sócrates (1787),
exibida no Salão de 1787, que foi comparado a criações imortais de Michelangelo e Rafael Sanzio. Diderot a qualificou de "absolutamente
perfeita", e obteve igualmente a aprovação real.
Em seguida
pintou Os litores trazendo a Brutus os corpos de seus filhos, e um retrato
de Lavoisier, mas neste ínterim, eclodindo a Revolução, todas as obras
deveriam ser aprovadas de antemão para serem exibidas, e Os litores foi
recusado por ser sua simbologia republicana, o mesmo ocorendo com o retrato,
recusado pelas associações do famoso químico com o partido Jacobino. Contudo, quando os jornais noticiaram a
proibição o público ficou ultrajado, e o júri teve de reconsiderar, expondo o
quadro dos Litores sob uma escolta voluntária de estudantes de arte.
David apoiou
a Revolução Francesa desde
o início, era amigo de Robespierre e membro do Clube dos Jacobinos.
Enquanto outros deixavam o país em busca de novas oportunidades, David
permaneceu para auxiliar na queda do antigo regime, votando pela morte do rei;
de fato, na primeira Convenção Nacional que
se reuniu ele foi alcunhado de "terrorista feroz". Logo, porém, ele
voltou sua crítica contra a Academia, possivelmente por causa da hipocrisia que
sentia nos bastidores e da oposição que suas obras haviam sofrido no início de
sua carreira. Seus ataques lhe trouxeram ainda maiores inimizades, uma vez que
a instituição era um refúgio dos realistas, mas com o aval da Assembleia
Nacional ele planejou reformas na antiga escola segundo a nova constituição,
passando a desempenhar um papel de propagandista da República tanto por sua
atuação pública como através de suas pinturas.
Quando Voltaire morreu em 1778 a Igreja negou-lhe sepultura
cristã, e foi enterrado perto de um mosteiro, mas quando as propriedades
eclesiásticas foram confiscadas David foi indicado chefe de uma comissão para
trasladar os despojos do filósofo para o Panteão. A cerimônia
mobilizou uma multidão de cem mil pessoas, a despeito da chuva e do protesto
dos conservadores. Foi o primeiro de uma série de grandes festejos organizados
pelo pintor para a República, que espelhavam os antigos ritos pagãos, fazendo uso de uma série de símbolos retirados da
antiguidade greco-romana. Os líderes da revolução logo compreenderam o
enorme apelo que tais festas exerciam sobre a massa popular, por sua rica
visualidade carregada de símbolos, sua teatralidade, e tais métodos foram mais tarde
usados por Lenin, Hitler e Mussolini como instrumento de sua propaganda. O último
grande festival organizado por David, e dedicado ao Ser Supremo, foi por
ocasião da decapitação de Maria Antonieta.
Momento marcante
da Revolução que ele fixou em tela foi a Morte de Marat, um testemunho de
sua filiação política e ao mesmo tempo uma obra-prima. Quando apresentou a tela
na Convenção, disse: "Cidadãos, o povo novamente clamou por seu
amigo; sua voz desolada foi ouvida: 'David, toma teus pincéis, vinga Marat!'…
Eu ouvi a voz do povo, e obedeci". A obra foi um sucesso político
imediato, e tornou-se também uma de suas criação mais bem sucedidas - simples,
direta, e poderosamente tocante - consagrando o retratado, agora um mártir cívico, e o autor no ambiente revolucionário, onde
ele, como auxiliar de Robespierre no Comité de Segurança Geral,
foi um dos mais ferventes promotores do Terror. A esta
altura a França estava envolvida em uma guerra com outras potências europeias,
e aparentemente estava em vantagem. Assim o estado de emergência que havia
suscitado o Comitê de Segurança Geral deixou de existir. Conspiradores
aproveitaram o momento e prenderam Robespierre. Apesar de manifestar seu apoio
a ele, David não foi executado, apenas preso. Na prisão fez um auto-retrato,
mostrando-se muito mais jovem do que aparentava. Visitado por sua esposa no
cárcere, concebeu a ideia para uma nova obra, A intervenção das Sabinas,
como um apelo pela reunião nacional e pela paz, depois de tanto sangue
derramado.
Logo Napoleão reinava, e o ambiente se transformara
radicalmente. Os mártires da Revolução foram removidos do Panteão e
re-enterrados em vala comum, e suas estátuas destruídas. Sua esposa, que era
realista, conseguiu livrar David da prisão, e apesar de terem-se divorciado
desde o episódio do regicídio, ela declarou que nunca deixara
de amá-lo, e por fim voltaram a se casar em 1796. Reabilitado e reintegrado em
seu atelier e posição, voltou a aceitar alunos e se retirou da política.
Napoleão e
David admiravam-se mutuamente. David desde o primeiro encontro ficara
impressionado com o então general, e quando este subiu ao trono
David solicitou fazer o seu retrato. Depois o pintou na cena da coroação, nas
bodas com Josefina, outra grande
composição, e de novo na da Passagem dos Alpes, montado em um fogoso pônei
branco. Por sua vez, Napoleão o indicou pintor oficial da corte, e pediu que
ele o acompanhasse na campanha do Egito,
mas o pintor recusou, alegando que era velho demais para aventuras, e enviou em
seu lugar um de seus estudantes, Antoine-Jean Gros.
Quando a
monarquia Bourbon foi restaurada David foi um dos proscritos.
Contudo Luís XVIII concedeu-lhe anistia e até mesmo ofereceu-lhe uma posição na corte,
mas David recusou, preferindo o autoexílio em Bruxelas. Lá pintou Cupido e Psiquê, vivendo
tranquilamente com sua esposa, e dedicando-se a composições em pequena escala e
a retratos. Sua última grande criação foi Marte desarmado por Vênus e as
três Graças, terminada um ano antes de sua morte. Segundo expressou, desejava
que a obra fosse o seu testamento artístico. Exposta em Paris, reuniu uma
multidão de admiradores.
Faleceu depois
de ter sido golpeado por um carro na saída do teatro, em 29 de dezembro de
1825. Seu espólio foi vendido, mas as pinturas remanescentes obtiveram baixos
valores. Por suas atividades revolucionárias seu corpo foi impedido de retornar
à pátria, e foi sepultado no cemitério Evere,
em Bruxelas. Seu coração, porém, repousa no cemitério Père Lachaise,
em Paris.
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