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domingo, 17 de novembro de 2019
Cine Piratininga, São Paulo, Brasil
Cine Piratininga, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
Já falamos muitas vezes sobre os cinemas da cidade. Por muitas décadas ir ao cinema foi a maior diversão dos paulistanos. Desde a época dos filmes mudos, multidões eram atraídas aos cinemas e havia salas para todos os gostos e tipos de espectadores. Desde as mais luxuosas, no Centro da cidade, na área que ficou conhecida por Cinelândia, nas imediações das Avenidas São João e Ipiranga, até os humildes cinemas de bairro, que reuniam as famílias de trabalhadores. Esses, nos fins de semana, mantinham sessões corridas que atraiam hordas de crianças e jovens que acompanhavam os seriados de Hollywood.
A partir dos anos 40 os cinemas foram se tornando cada vez maiores e mais sofisticados e alguns eram verdadeiros palácios de diversão e a sua decoração e arquitetura faziam parte do espetáculo.
O maior deles, foi o Cine Piratininga, no Brás. Projetado por Rino Levi, um dos grandes arquitetos modernistas da cidade. Seu projeto já era em si “coisa de cinema”. Rino foi responsável por grandes edifícios da cidade como o Teatro de Cultura Artística, o Hospital Albert Einstein e o Cine Ipiranga. O Piratininga tinha todas as marcas da sua arquitetura, moderna, mas de inspiração clássica, característica da arquitetura italiana daquela época. Sua entrada era monumental e tinha um pé direito altíssimo. Mas o que mais chamava a atenção era o seu tamanho. Comportava confortavelmente 4.313 espectadores, e talvez fosse um dos maiores do mundo. Consta das enciclopédias que o maior cinema da Europa, o Gran Rex em Paris, construído nos anos 30 e que funciona até hoje, tinha “apenas” 2.800 lugares. A metade do Piratininga!
O Piratininga marcou época no Brás e, dizem os velhos frequentadores, vivia lotado. Apresentava todo o tipo de filme, mas seu forte, era a programação “familiar” e as grandes produções hollywoodianas que causavam sensação na sua tela imensa.
Como grande parte dos velhos cinemas, o Piratininga também viu seus dias de glória passarem. Foi fechado no início dos anos 70 e transformado em estacionamento. No entanto, o prédio continua de pé e, embora o telhado tenha sido demolido, ainda é possível ver a aparência geral da sala e o aspecto monumental que ela tinha. O Piratininga não teve a sorte de outros cinemas da cidade que se transformaram em igrejas. Como igreja, provavelmente estaria preservado e poderia mostrar, ainda que em parte, a sua arquitetura que impressionava os paulistanos de outros tempos.
Houve uma época em que ir ao cinema era um acontecimento muito diferente do que é hoje. Quando a TV ainda não existia ou ainda era um artigo de luxo nas residências e aparelhos de DVD ou mesmo streaming eram coisas de ficção-científica, as salas de cinema eram a grande diversão.
Pessoas frequentavam cinema para assistir desenhos, episódios do Tarzan e, claro, longa metragens. E foi na primeira metade do século XX que São Paulo teve o auge de suas salas de cinema, as quais atualmente não resta mais nenhuma funcionando. E é sobre uma destas salas que falarei, o Cine Piratininga.
Ao se falar de Cine Piratininga é preciso antes explicar que no mesmo quarteirão houveram em períodos distintos duas salas com esta denominação. A primeira, inaugurada em 1910, ficava na rua com o mesmo nome e foi criada por Fernando Taddeo, um heroico desbravador de salas de cinema em São Paulo e não durou tanto tempo por inúmeros problemas estruturais. A outra sala, objeto deste post, está na Avenida Rangel Pestana.
Construído na década de 1940 com projeto arquitetônico do fantástico Rino Levi, o cinema fica sob edifício homônimo e ocupava um local que outrora foram dois outros cinemas menores, Mafalda e Brás-Bijou. Era uma sala gigantesca e luxuosa que se orgulhava de poder acomodar com conforto cerca de 5000 mil pessoas o que fazia dele o maior cinema do Brasil e com toda certeza um dos maiores da América Latina.
A sessão inaugural foi em 26/03/1943, onde foram projetados os filmes “Boêmios Errantes”, com Spencer Tracy e “Nas Asas da Glória”, com Chester MorriO Cine Piratininga foi um local onde muitos dos moradores do Brás frequentavam quase todos os finais de semana e não era raro estar completamente lotado.
Ao redor do cinema um fabuloso comércio se sustentava com lojas, padarias, teatros, hotéis e hospedarias, além da estação de trem do Brás (ex-Roosevelt) que fica nas proximidades. O Piratininga marcou sua época, fez história, e como quase tudo que é do passado paulistano, foi sendo esquecido até desaparecer por completo.
As atividades do Cine Piratininga encerraram em meados da década de 1970, quando já em franco processo de decadência a sala não atraia espectadores. Em decorrência disso, virou um estacionamento existente até hoje.
Que a decadência do Brás e seu entorno foi um processo fatal e irreversível todos sabemos, as razões são muitas e os responsáveis também, mas algo deveria ser feito para preservar o antigo patrimônio histórico da região que é riquíssimo e que está, no pouco que ainda existe, caindo aos pedaços. Mas, sendo sincero, não acredito que tal situação vai mudar...
Nota do blog: Quando eu morava no Brás, não tínhamos garagem e meu pai guardava o carro no Cine Piratininga. Lembro das inúmeras vezes que fizemos o caminho Cine Piratininga-casa e vice-versa a pé para buscar/deixar o carro. Se você quiser ver o que restou, fica na Avenida Rangel Pestana, 1540, no Brás.
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