Gurgel Carajás, Brasil
Fotografia
Os anos 80
começavam bem para a Gurgel. Além do sucesso de seu X-12, a fábrica começava a
entrar em outros terrenos além do dos jipinhos, ainda que mantendo a mesma
mecânica Volkswagen refrigerada a ar.
Em 1981, com a
inauguração da fábrica de Rio Claro (SP), além de estrearem o G800, que se
somava ao X-15 no leque de utilitários da marca, era lançado o XEF,
explicitamente urbano.
Em 1984, a
Gurgel alçou um voo ainda mais alto. Dessa vez, a ousadia ia um pouco além da
montagem clássica de um boxer a ar na traseira de um chassi próprio.
Era o primeiro
Gurgel de motor dianteiro, usando as unidades refrigeradas a água da marca que
sempre fornecera trens de força aos modelos anteriores. O nome Carajás era
referência à serra paraense e aos índios da tribo localizada às margens do
Araguaia.
Uma vez que
deveria enfrentar subidas escorregadias e com bom grau de inclinação, a tração
não podia ser dianteira como a de Gol, Passat e Santana.
A alteração
ficava ainda mais complicada pelo fato de as transmissões VW brasileiras serem
do tipo transeixo, com o diferencial incorporado à carcaça. Onde o câmbio
estivesse, lá deveria estar a tração.
Entrava em
cena mais uma vez o espírito prático da Gurgel.
A exemplo do
que a Porsche fez no 924, mandou um câmbio VW para trás, com transmissão da
força a cargo de um tubo de torque que, sem as juntas de um cardã, ficava mais
protegido das intempéries por não possuir componentes mecânicos expostos
girando.
Com motor
dianteiro e câmbio traseiro, também as massas entre os eixos eram mais bem
distribuídas.
No Brasil, o
Carajás foi o único com tal esquema mecânico, que permitia suspensão
independente nas quatro rodas e, consequentemente, vão livre mais plano, sem um
diferencial protuberante.
A exemplo dos
outros Gurgel, não contava com tração nas quatro rodas, mas dispunha do
Seletraction, que permitia transferir toda a tração para apenas uma roda,
travando-se a do lado oposto, uma ajuda nos pequenos atoleiros.
Além das
versões com motor AP-1800 a gasolina e álcool, também existia uma versão
diesel, usando o 1.6 que impulsionava a Kombi. Com baixo consumo, tinha
autonomia de mais de 1.500 quilômetros.
Visando
público mais exigente que o do X-12, o Carajás vinha em duas versões de
acabamento: básica e luxo, esta última com vidros verdes e melhores forrações.
Também era
marca registrada a ventilação de teto por meio de clarabóia, cujo ar captado
podia ser dirigido individualmente a cada passageiro. Tal sistema era
disponível na versão TR (Teto Rígido), gama de carrocerias completada pelas TL
(Teto de Lona), RL (Rígido Lona) e MM (Modelo Militar).
Aproveitando
ao máximo peças já existentes, muito do Carajás já havia sido visto em outros
carros. Exemplo disso estava no painel, que combinava mostradores de Ford
F-1000, Gol e Fiat 147.
Para cada
função, uma chave era necessária: nas portas, a dos caminhões Mercedes, no
tanque, as da Fiat. Já o porta-malas era aberto com uma chave VW e, em um
involuntário luxo, a partida ficava a cargo de uma do Landau.
Dois anos após
seu lançamento, QUATRO RODAS testou as três motorizações de uma vez só, na
edição 311, de junho de 1986.
Elogios para
espaço interno, porta-malas de 496 litros e sistema de ventilação. Também era
alvo de bom conceito a disposição dos bancos, com o traseiro ligeiramente mais
elevado que os dianteiros.
Porém, a
visibilidade frontal era apontada como ponto fraco, principalmente para
motoristas com menos de 1,70 metro: afundados no banco, tinham à sua frente
parte do estepe, montado sobre o capô à moda de alguns Land Rover.
Criticada
também foi a solução para o tubo de torque, que simplesmente alongava o
eixo-piloto da transmissão de Kombi, obrigando que os engates fossem mais
lentos e aumentando a possibilidade de desgaste dos anéis sincronizadores.
O conjunto,
com o tempo, também se revelou frágil, uma vez que o torque de um AP-1800 é superior
ao esforço que uma transmissão de VW refrigerado a ar poderia suportar.
De qualquer
forma, isso não impediu a boa recepção àquele veículo que, apesar de aparentar
grande porte, é 13 centímetros mais curto que um EcoSport.
Mudanças foram
poucas em sua carreira: em 1988, a tampa traseira deixava de ser em duas
partes, à moda da Rural Willys, para ser em uma peça só e abrindo para cima. No
mesmo ano, as versões eram renomeadas, passando para LE e VIP, esta última com
vidros escuros de fábrica, mas como opcionais.
Em 1989 também
surgia uma versão de quatro portas, que, além de raras unidades para uso civil,
teve alguma repercussão para uso policial, em alguns casos fechando-se a
traseira para acomodar um camburão.
A carreira
dele acabaria se encerrando em 1994, com a falência da Gurgel. Porém, desde o
começo dos anos 90, só podia ser adquirido por encomenda, em parte devido a
impasses com a VW, cujas vendas de seu jipinho 181 no Caribe foram prejudicadas
pela boa recepção do X-12 nas ilhas da salsa, do mambo e do zouk.
Também a
Gurgel passava a priorizar o BR-800, carro de menor porte e com motor próprio.
Hoje em dia,
achar um bom Carajás é missão para Sherlock. Muitos foram descaracterizados
tanto estética quanto mecanicamente. O VIP 89 do comerciante Nuno Cadete, com
seus 70.000 quilômetros, é um dos que sobreviveram ao tempo.





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