terça-feira, 26 de novembro de 2019

Restaurante Ancoramar, Antigo Restaurante Albamar, Rio de Janeiro, Brasil




Restaurante Ancoramar, Antigo Restaurante Albamar, Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
Fotografia

Começou em 1908, quando um complexo foi projetado para organizar o antigo mercado do Largo de Moura. Inaugurado pelo prefeito Pereira Passos, tratava-se de um comércio focado em peixes, graças à proximidade do porto. Tinha planta quadrada, com pavilhões longitudinais e cinco torreões octogonais – um maior no centro, com relógio, e quatro menores nos ângulos externos.
O antigo Restaurante Albamar foi inaugurado numa das torres desse complexo, no dia 12 de novembro de 1933, iniciando uma trajetória de referência gastronômica no Centro do Rio de Janeiro, na atual Praça Marechal Âncora. Nos anos 50, a construção da Perimetral fez com que o mercado fosse demolido, mas o Albamar sobreviveu como parte da história do Rio de Janeiro. Em 1962, o pavilhão onde funciona o Albamar foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O interior foi reformado, em 1964, pelo arquiteto Roberto da Costa Soares.
Em 2016, após a demolição do elevado da Perimetral e a revitalização do Centro do Rio de Janeiro, o Albamar também se atualizou. Para marcar a nova fase, o restaurante passou por obras, ganhou um bar sofisticado no térreo e mudou seu nome para Ancoramar.
Mas, como ser empresário nesse país é complicado, em anúncio feito ao Jornal “O Globo“, o dono do tradicional restaurante disse que deve encerrar suas atividades até o final do ano. Segundo o proprietário, José Eustáquio, o eminente fechamento do estabelecimento se deve a vertiginosa queda de faturamento.
Esse é o segundo caso de um estabelecimento tradicional da cidade que anuncia o fechamento nos últimos dias. O icônico Bar Luiz anunciou o fechamento já para o próximo dia 14/09, após 132 anos de operação no Centro do Rio. Diante da notícia, clientes, não clientes e até concorrentes se mobilizaram com doações de funcionários e produtos na tentativa de salvar o bar.
Localizado na Zona Portuária, o imóvel de 1908 (o restaurante começou em 1933), que pertence à União, tombado pelo Iphan, e administrado pelo Rio Previdência, está cedido ao empresário, através de contrato de concessão, até 2027. Mas, se nenhuma reviravolta acontecer, o restaurante provavelmente fechará em dezembro.
De acordo com Eustáquio, a média de clientela é de apenas 15 pessoas por dia, num espaço que comporta até 360 divididos em três salões (120 em cada andar, sendo dois andares usados para eventos). A estrutura do estabelecimento também reduziu drasticamente: os 42 funcionários hoje são apenas 11.
O cardápio teve preços reduzidos em quatro oportunidades. O gasto médio por cliente que em 2014, quando iniciou a concessão, era de R$250 hoje é de R$120. O restaurante agora tem um menu executivo a R$ 55, com entrada e sobremesa. Eustáquio diz que consegue pagar o valor atual de aluguel, e os salários dos funcionários, mas não os impostos, e que essa dívida gira em torno de R$100 mil.
Pelo contrato de concessão, o aluguel deveria custar R$25 mil mensais, mas, como o dono investiu cerca de R$1,3 milhão em obras de reforma, o custo hoje é de R$ 2,6 mil por mês, como compensação. A parte interna foi totalmente modificada, mas a fachada não foi completamente restaurada. A reforma da cúpula será concluída em até duas semanas, mas Eustáquio diz que ainda faltariam cerca de R$500 mil para o restante.
“Se houvesse viabilidade até valeria investir. Mas hoje meu plano é fechar. Eu não lucro mais nada, consigo sobreviver apenas com os eventos. A intenção é continuar até a semana do Natal, até para fazer festas de fim do ano e pagar a rescisão dos funcionários com essa arrecadação“, diz o empresário, que já enviou laudos ao Rio Previdência alertando para o risco de queda da varanda. — “Eu não uso mais esse espaço, pois não é seguro“.
O primeiro problema que Eustáquio enfrentou foi burocrático. O nome Albamar não pôde ser utilizado, explica, porque um parente, chamado Fernando, de um antigo funcionário se apresentou logo após a licitação lhe informando que o nome fora patenteado por ele. Pela utilização, cobrou R$ 800 mil. Eustáquio chegou a oferecer R$120 mil, mas, sem o negócio, decidiu mudar o título para Ancoramar.
“Isso foi um prejuízo inicial de 40% no faturamento. O TripAdvisor e o site Albamar diziam que o restaurante estava fechado. Muitos clientes ficaram desinformados. Como um bem tombado, deveria ter sido respeitado“, diz Eustáquio, que, em resposta, patenteou a logo original, com o nome diferente.
“Depois, entrei na justiça obrigando eles a mudarem o endereço do Albamar. porque continua aparecendo nosso endereço, só que não somos mais Albamar. Vencemos a ação e hoje eles pagam R$200 diários de multa. No acumulado, já devem R$70 mil. Como não vão conseguir pagar, pode ser que eu recupere a marca. Mas vai ficar para o Iphan“, desabafou.
O Albamar foi inaugurado em 1933, num complexo que ficou conhecido como o mercado do Largo de Moura. Nos anos 1950, o complexo foi demolido para a construção da Perimetral, e o mercado transferido para a Cadeg. O imóvel do Albamar foi tombado pelo Iphan em 1962. Desde então, o local ficou famoso por receber figuras políticas importantes, como Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek. Nos últimos anos, deputados da Alerj viraram figurinha carimbada no local. Inclusive, a Lava-Jato representou queda no faturamento, pela prisão de vários dos antigos assíduos clientes.
Nota do blog: E assim, o último pedacinho do Mercado Municipal da Praça XV, criminosamente demolido, vai desaparecendo...



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