segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Rua do Mercado, Rio de Janeiro, Brasil


Rua do Mercado, Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
Fotografia


A rua já se chamou Praia e Rua do Peixe, e leva o nome de Mercado porque ao seu lado havia um mercado popular, ao lado do chafariz da Praça 15, onde posteriormente foi construído um grande edifício para abrigar um mercado demolido em 1906.
Inicialmente em tempos mais remotos foi chamada de Praia do Peixe, quando constituía o litoral, e em seguida foi chamada de Rua do Peixe por causa de venda de peixe e atracamento de pequenos barcos de pesca no local ou de comércio de peixe.
O nome atual, Rua do Mercado é porque era a principal via de acesso ao antigo mercado demolido em 1906 que ficava no local onde é hoje o prédio que foi construído para ser a sede da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.
Em tempos longínquos a Praia do Peixe começava no Bairro da Misericórdia no sopé do Morro do Castelo que não mais existe, e continua até o antigo Arsenal de Marinha que ficava bem mais à frente do lado direito de quem olha para Praça XV vindo do mar.
Quando foi construído o antigo cais que seria do Hotel Pharoux (hotel que ficava aproximadamente onde é o anexo da Câmara dos Deputados do Estado do Rio de Janeiro, ao lado do Paço Imperial, a extensão da Praia do Peixe ficou limitada ao trecho compreendido entre o Largo do Paço e as imediações da Alfândega (As construções da Alfândega ficavam também do lado direito da Praça XV de quem vê pelo mar, perto da Rua da Alfandega).
Foi no terreno desta Praia, imediatamente ao lado direito da Praça XV (vista do mar) é que surgiu o primeiro e verdadeiro mercado do Rio de Janeiro, originariamente um aglomerado de vendedores ao relento, ao estilo das feiras-livres, dos dias de hoje.
Posteriormente foi erguido um edifício em estilo neoclássico, projetado pelo Arquiteto Grandjean de Montigny, membro da assim chamada "Missão Artística Francesa" e um dos co-fundadores da Academia Real de Belas Artes, ainda no tempo de D. João VI.
Até o ano de 1921, esta rua perto do mercado, situada quase à beira do mar, era até então um endereço ou logradouro sem nome, mas neste mesmo ano, a rua foi chamada de Borja Castro, para homenagear um grande engenheiro, contemporâneo de André Rebouças. Borja Castro foi o construtor do cais vizinho para atracação dos barcos peixeiros no local.
No antigo mercado popular que existiu no local, de tudo se vendia, quase tudo se encontrava. Para o lado Largo do Paço (Atual Praça XV) a venda predominante era de artigos comestíveis como peixes que era abundante e barato e produtos da terra.
Segundo B.Gerson que por sua vez citou o viajante francês F. Dabadie, este relatou que nas barracas do mercado popular podia-se comprar de tudo, quer sejam macacos, aves, lagartos e jacarés. No local circulava gente de todas as idades, de todos os tipos e cores, e ouvia-se inúmeros idiomas.
Indo para o lado da Rua do Ouvidor, predominavam quinquilharias, bugigangas e tecidos, como disse B. Gerson através de citação do escritor M.Morais Filho, que descreveu o mercado na segunda metade do século 19. Eis a citação:
“... o canoeiro acotovelava o plantador da roça, o embarcadeiro o traficante de escravo, o carregador branco e de pés descalços o negro vergado ao peso dos fardos, uns apressados em iransito, outros anunciando em vozerias os anacrónicos bazares do tempo do rei... De breve fundo, e de portas que se abriam para fora como oratórios murais, as casas de adélos fi-nuravam, naquelas alturas, exibindo a cúpidas vistas grosseiras roupas superpostas em estreitas prateleiras... e os expeditos caixeiros, de mangas arregaçadas e calças curtas, sem meias e de tamancos, enfiavam a cabeça por baixo (dos balcões), faziam rabo de arraia pulando para dentro e para fora, trazendo e levando fazendas, servindo à tumultuaria freguezia, entre reclamos, descomposturas e blasfémias...”
Os mercadores que faziam negócios por lá, que eram devotos de N.S. da Lapa, e que devido ao desenvolvimento das minerações se multiplicaram e progrediram, haviam mandado erguer para culto próprio, um oratório, quase no final do Beco do Arco do Teles. Entretanto, no ano de 1747, o mercadores mais abastados ou ricos, estando entre estes os que se tornaram proprietários de lojas ou casas de armarinhos, resolveram se constituir em irmandade, a Igreja de N.S. da Lapa dos Mercadores, que fica Rua do Ouvidor, esquina com a Travessa do Comércio, sendo que, assim a irmandade passava a ter sua própria e ampla capela. O nome "casas de armarinhos" se deve ao fato de que os proprietários destas casas de comércio não andavam mais com seus armarinhos carregados às costas como ambulantes, passando pelos caminhos do ouro.
A Igreja de N.S. da Lapa dos Mercadores tem entalhamentos de autoria de Antônio de Pádua e Castro e decorações de estuque de Antônio Alves Meira.
Em um dos nichos da Igreja, existe uma granada guardada, que caiu na igreja em 1893, durante a rebelião da Armada (Marinha) contra o governo do Marechal Floriano Peixoto. Esta granada quando caiu, derrubou do alto de um zimbório uma estátua que lá ficava exposta. Entretanto a estátua não foi danificada.
Diante da nova igreja, quando nela as primeiras missas se rezavam em 1750, um novo beco nasceu, chamado hoje dos Mercadores, mas que da Capela nesse tempo se chamou, e depois das Carnes Secas, quando nele se instalaram os atacadistas do ramo, e ainda de José Maurício, em louvor do padre que foi o maior dos nossos compositores sacros.
A Travessa do Comércio que se inicia no Arco do Teles que por sua vez situa-se na Praça Quinze, termina na Rua do Ouvidor, e tem em uma de suas esquinas a Igreja de N.S. da Lapa dos Mercadores.
Esta travessa já teve outros nomes no passado, como Beco do Peixe, Travessa Nova do Peixe quando foi aberta à quase 250 anos atrás. Acabou ficando conhecida por algum tempo por Travessa Arco, e finalmente passou a se chamar Travessa do Comércio a partir do ano de 1863. Em uma das casas sobrados desta travessa, viveu Carmen Miranda no início de sua carreira artística. Nesta época, na mesma casa, a mãe de Carmen Miranda tinha uma pensão que servia refeições.
A Rua do Mercado, paralela à Travessa do Comércio (que começa no Arco do Teles), fica mais para o lado do mar, tendo sido chamada Praia do Peixe desde tempos remotos até o ano de 1894, quando recebeu foi batizada de Rua do Mercado, em homenagem ao mercado velho que nela extendia até o Largo do Paço, atual Praça XV.
No ano de 1935, tentaram mudar o nome da Rua do Mercado para Rua Paulo Bregaro, para homenagear o mensageiro que foi despachado da Corte por José Bonifácio ao encontro de D. Pedro I em São Paulo, levando as notícias que levariam o monarca a declarar a independência às margens do Rio Ipiranga, com o famoso grito do Ipiranga. Embora a homenagem fosse justa, a tentativa de rebatizar a rua não vingou, pois no linguajar do povo continuou a ser Rua do Mercado.
No começo do Século 20, existiu na Rua do Mercado a primeira fábrica brasileira de aparelhos elétricos, de um certo C. Duarte, surgida de forma modesta, com um capital inicial de apenas 50 Contos de Reis.
O edifício do mercado projetado por Montigny foi demolido em 1906 e em seu lugar foi erguido um edifício ocupado pelo Ministério da Agricultura e também chamado Entreposto do Peixe, que também foi posteriormente demolido.
E no local deste edifício também demolido, nas últimas décadas do século 20 foi erguido um edifício em estilo pós-moderno, para ser a sede da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. O local onde um dia existiu um mercado de peixe e de artigos diversos, passou a ser destinado ao Mercado da Bolsa de Valores situado no Rio de Janeiro, até então ainda segundo maior do Brasil.
O edifício chamativo continua no local, mas parece que o ponto não é capaz de abrigar "mercados" muito duráveis. Nem bem o edifício foi inaugurado a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro fechou as portas. Além de abrigar o moderno edifício construído para a Bolsa de Valores do RJ, a Rua do Mercado possui um antigo casario eclético bem preservado, majoritariamente construído entre o final do século 19 e início do século 20. O local hoje em dia é repleto de bares informais, interessantes e aconchegantes. Muito próxima do Arco do Teles e fazendo esquina com a Rua do Ouvidor, o local é bastante frequentado tanto por cariocas como por visitantes e turistas que querem conhecer o Centro Histórico do Rio de Janeiro e suas imediações.

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