Quando a Moderna Arquitetura Brasileira Deu os Primeiros Passos Para Ganhar o Mundo - Artigo
Artigo
É da maior importância para a arquitetura brasileira as
passagens pelo Brasil do franco-suíço Le Corbusier e do norte-americano Frank
Lloyd Wright, considerados dois dos mais importantes arquitetos do século XX.
Le Corbusier em 1929 realizou conferências em São Paulo e
no Rio de Janeiro e em 1936 supervisionou, a convite do então
presidente, Getúlio Vargas, a construção do edifício da nova sede do Ministério
da Educação no Rio de Janeiro – hoje Edifício Gustavo Capanema.
Convidado para integrar o júri de um concurso internacional de
arquitetura, Frank Lloyd Wright desembarcou no Brasil em 1931 e permaneceu três
semanas no Rio de Janeiro, convivendo com Lucio Costa e Gregori Warchavchik e
publicando em jornais do Rio uma série de artigos em prol de uma nova
arquitetura.
A presença, no início do século passado, desses dois arquitetos
estrangeiros influenciaria os profissionais brasileiros e colocaria o país no
radar da arquitetura internacional.
O Brasil se mostrava um território propício para arquitetos
estrangeiros. O modernismo que já se instalara no Brasil formalmente durante a
Semana de Arte Moderna ganhava amplitude com a presença dessas e de outras
personalidades. Assim como o processo de industrialização.
Após as visitas de Le Corbusier e Frank Lloyd Wright, dois
outros acontecimentos projetariam internacionalmente a nova arquitetura
brasileira.
Em 1939, o pavilhão brasileiro na Feira Mundial de Nova York,
projetado por Lucio Costa e Oscar Niemeyer, foi considerado, por público e
imprensa, um dos pontos altos da exposição. Para muitos, a repercussão
positiva da crítica internacional ajudou a alavancar a carreira dos dois
arquitetos, antes da construção de Brasília.
E aqui cabe a história: patrocinador responsável pela
participação brasileira na feira, o Ministério do Trabalho realizou um concurso
para a escolha do melhor projeto, o qual teve Lucio Costa como vencedor. Ao
saber que o segundo lugar ficara com Niemeyer, Costa renuncia a ideia original
e propõe um projeto conjunto com Niemeyer, que lembra o fato em suas
memórias:
"Quando Lúcio soube que fora classificado em primeiro
lugar e eu em segundo, abalou-se serra abaixo – estava em Petrópolis – para ver
os projetos e achando o meu trabalho muito bom procurou o ministro João Carlos
Vital, dele conseguindo que viajássemos para os Estados Unidos e juntos
elaborássemos o projeto definitivo. Esse, aliás, constitui o único projeto que
recordo com certo constrangimento, convicto de que me deveria ter limitado a
ajudar o desenvolvimento do seu projeto sem procurar influir na solução.
Conforta-me um pouco saber que no projeto apresentado prevaleceu sua ideia
inicial, os ‘pilotis’ e o partido mais vazado que se impunha. Eu era jovem e a
arquitetura, para mim, uma atração incontrolável".
A arquitetura moderna brasileira estava, afinal, materializada
aos olhos estrangeiros, faltando apenas um primeiro documento, uma primeira
publicação que a consagrasse internacionalmente.
Essa publicação foi o catálogo da exposição Brazil Builds, Architecture New and Old,
1652-1942, inaugurada em 1943 – cerca de quatro meses após o Brasil
ter declarado guerra à Alemanha e à Itália – no Museu de Arte Moderna (MoMA).
A mostra, que exibiu a arquitetura brasileira, moderna e antiga
para o mundo, apresentava construções de 12 estados – Rio Grande do Sul, Rio de
Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco,
Paraíba, Ceará, Amazonas e Pará –, indo da arquitetura religiosa e edificações
rurais de cunho produtivo, como os engenhos e as fazendas de café, ao que vinha
sendo construído no país na época, como o edifício do Ministério de Educação e
Saúde.
O arquiteto Philip Goodwin, coautor do projeto do prédio do
MoMA e então presidente do departamento de arquitetura do museu, foi personagem
importante na organização da mostra, junto com o arquiteto inglês George
Everard Kidder Smith. Juntos, os dois viajaram para o Brasil com a missão
de colher dados sobre a arquitetura brasileira.
"O Museu de Arte Moderna, de Nova York, e o Instituto
Norte-Americano de Arquitetos, achavam-se ambos, na primavera de 1942, ansiosos
por travar relações com Brasil, um país que ia ser nosso futuro aliado. Por
esse motivo e pelo desejo agudo de conhecer melhor a arquitetura brasileira,
principalmente as soluções dadas ao problema do combate ao calor e aos efeitos
da luz sobre as grandes superfícies de vidro na parte externa das construções,
foi organizada uma viagem aérea", escreve Goodwin, no catálogo da
exposição. "G. E. Kidder Smith, arquiteto, acompanhou-me para tomar vistas
e aspetos arquitetônicos", conta.
Em dois meses de viagem foram produzidas quase mil fotografias
e colecionadas imagens dos arquivos do Instituto de Arquitetos do Brasil e do
SPHAN, desenhos originais de Niemeyer, impressões e fotografias de vários
outros esboços de desenhos, entre outros materiais.
Além das fotografias de G. E. Kidder Smith, foram adquiridos
registros de Marcel Gautherot e de Eric Hess, entre outros fotógrafos
brasileiros.
O catálogo da exposição, que abriu caminho para a divulgação da
moderna arquitetura brasileira fora do país, não só nos Estados Unidos, mas na
Europa, é até hoje um livro de referência para muitos arquitetos e
pesquisadores.
"É um esforço para mostrar aos norte-americanos o encanto
das velhas e a inspiração das novas construções no Brasil. Também outros muitos
latino-americanos podem não estar familiarizados com esta face da cultura dos
nossos vizinhos brasileiros. E estes fatos justificam o esforço", conclui
Goodwin, no texto de apresentação da publicação.
Link do catálogo: https://www.moma.org/documents/moma_catalogue_2304_300061982.pdf
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