Pavilhão Mourisco, 1907, Botafogo, Rio de Janeiro, Brasil
Rio de Janeiro - RJ
Fotografia
Projetado inicialmente para ser um music-hall, nos moldes do Horloge ou do Ambassateurs, ambos situados na avenidas dos Campos Elíseos, em Paris, o Pavilhão Mourisco nunca chegou a ser uma casa de espetáculos, mas teve sucesso como restaurante, montado com um luxo realmente asiático, e bar durante os primeiros anos de sua existência. Foi encomendado durante a gestão do prefeito do Rio de Janeiro, Francisco Pereira Passos (1836-1913), mas foi inaugurado no início de 1907, quando a prefeitura já estava sob o comando de Francisco Marcelino de Souza Aguiar (1855-1935).
Localizado na praia de Botafogo na recém inaugurada, em 1906, avenida Beira-Mar, em frente à rua Voluntários da Pátria, seu projeto foi do arquiteto e engenheiro francês naturalizado brasileiro Alfredo Burnier (18?-1929), da Diretoria de Obras e Viação da Prefeitura do Rio de Janeiro. Seu estilo era, de acordo com o também arquiteto e engenheiro, o espanhol Adolfo Morales de Los Rios Filho (1887-1973), "neo-persa, nada tendo de mourisco, como vulgar e erradamente, foi denominado".
Segundo Charles Julius Dunlop (1908-1997), autor da coluna “Rio Antigo”, no jornal Correio da Manhã:
“À noite, o Pavilhão era todo iluminado. No terraço, em torno, havia mesas, onde se bebia cerveja e refrescos. Na parte interna ficavam o salão de chá e o restaurante, para os jantares e as ceatas alegres nos discretos gabinetes reservados. O edifício era coberto por um grupo de cinco cúpulas douradas. Duas escadas de mármore davam acesso às varandas no primeiro pavimento, calçadas a ladrilho espanhol. Nas colunas ao lado das entradas e no teto decorado liam-se numerosas inscrições árabes. No porão alto ficavam as cozinhas, a despensa e a adega. A pequena construção que se vê à esquerda era o “guignol”, que fazia a delícia da petizada . Nas tardes de espetáculo, o teatrinho de marionetes era cercado pelas crianças. A hora de subir o pano, tomavam lugares nos bancos enfileirados diante do palco, o arrecadador de níqueis procedia à sua frutuosa diligência e o divertimento principiava, sob risadas gostosas da criançada. Nos fundos do teatrinho havia um carrossel e um rinque de patinação”.
Já no ano de sua inauguração abrigou os convidados da prefeitura do Rio de Janeiro durante a Festa Veneziana, realizada em 11 de março de 1907 com a presença do ex-presidente da Argentina, o general Julio Roca (1843-1914) e foi o local de um banquete em comemoração ao jubileu artístico do maestro e compositor Arthur Napoleão (1843-1925).
Em 1908, foi noticiado que o número de patinadores amadores aumentava no rinque de patinação do Pavilhão e os eventos sociais elegantes eram frequentes. Diversos ocorreram, organizados pelo governo, durante a Exposição Nacional de 1908, na região da Urca, vizinha ao bairro de Botafogo, em comemoração ao centenário da Abertura dos Portos às Nações Amigas. Porém algumas notícias insinuavam que sua gestão era incompetente, pois no início da noite já faltavam vários itens como sorvete, cerveja e gelo.
Seu carrossel e a democrática aproximação de classes que ele produzia foi assunto, em tom sarcástico, da coluna “Notas Mundanas” da revista Fon-Fon de 4 de abril de 1908.
Em 1910, o chefe de polícia Leoni Ramos (1857-1931) foi homenageado com um banquete e outros aconteceram no local ao longo desse ano e de 1911, mas já nessa época a imprensa noticiava o pouco movimento no Pavilhão Mourisco e arriscavam até profecias comparando sua solidão com a do Palácio Monroe. O fato é que os dois prédios foram demolidos: o primeiro em 1950 e, o segundo, em 1976.
Em 1912, procurava por todos os meios e modos tornar-se o ponto atraente por excelência da jeneusse dorée que ama as noitadas alegres e ruidosas.
Os aniversários da revista Fon-Fon, em 1912 e em 1913, foram comemorados no Mourisco assim como um grupo de amigos ofereceu, no local, um banquete ao deputado Flores da Cunha (1880-1959).
Em 1913, os escritores Manoel Ugarte (1875-1951) e Coelho Neto (1864-1934) também foram homenageados com banquetes no Pavilhão. Em Em 1914, foi realizada uma festa de caridade com a presença dos caricaturistas Raul Pederneiras e J. Carlos (1854-1950).
Em 1915, o prefeito Rivadávia Corrêa (1866-1920) cedeu o Pavilhão Mourisco, já mal conservado, para sediar chás e concertos dançantes, eventos beneficentes das Senhoras do Patronato de Menores. Em deles, houve uma apresentação do músico Catulo da Paixão Cearense (1863-1946). Para esses eventos foram feitas algumas restaurações e construções.
Em 1917, O Pavilhão Mourisco estava fechado e no ano seguinte foi publicada uma matéria na Revista da Semana informando “que mais uma vez desvanecia-se a esperança de ver o Pavilhão Mourisco reintegrado na função que lhe destinara o grande Passos, de um pequeno Armenonville no extremo das avenidas e jardins da Beira-Mar. O concessionário explica sua desistência pela vizinhança infectada City Improvements, que a certas horas do dia e da noite espalha pela enseada de Botafogo os seus miasmas pestilentos, o que, aliás, igualmente sucede no jardim da Glória e na praia do Russell”. Continuava apontando também a abertura da avenida Atlântica e a edificação de bairros como Copacabana, Leme e Ipanema como outros motivos do abandono do Mourisco.
Em 1919, foi construída a nova sede social do Club de Regatas do Botafogo, onde ficava o rinque de patinação e os preparativos para a participação do Brasil nos Jogos Olímpicos da Antuérpia de 1920, que seria a primeira do país em olimpíadas, foram realizados no Pavilhão Mourisco, que sediava provisoriamente a Confederação Brasileira de Desportos.
O prédio foi cedido pela prefeitura para ser a sede da União dos Escoteiros do Brasil, em 1926, mesmo ano em que foi inaugurada a primeira linha de ônibus lançada pela Light, que ligava o Mourisco à avenida Almirante Barroso. O Mourisco tornava-se, assim, uma topomínia.
Em 1932, aconteceu no Pavilhão Mourisco um festival de arte em benefício da Caixa da Associação dos Funcionários do Lloyd Brasileiro, uma noite de verdadeiro encanto…Nela tomaram parte elementos de relevo nos meio artísticos e mundanos desta capital.
Sediou, sob a direção da poeta Cecília Meireles (1901-1964), a Biblioteca Infantil do Distrito Federal, de 1934 a 1937, quando foi fechada, pelo Estado Novo, tornando-se um departamento coletor de impostos. Em dezembro de 1949, a última inquilina do antigo Pavilhão Mourisco, a Casa Maternal Recreio Pindorama para Crianças foi transferida de lá para uma casa também em Botafogo. Finalmente, em março de 1950, o Pavilhão Mourisco foi demolido.
Atualmente, no local está o Centro Empresarial Mourisco.
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