sábado, 22 de janeiro de 2022

Lamborghini Huracán STO, Itália - Jeremy Clarkson

 














Lamborghini Huracán STO, Itália - Jeremy Clarkson
Fotografia


Houve uma época em que você torcia para ter que parar num sinal, porque era a oportunidade para fazer um pega com o cara ao lado na mudança para verde.
Era, claro, algo inteiramente sem sentido, porque não havia prêmio em dinheiro, nem pódio, nem prosecco. Tudo que você tinha era o direito de chamar a atenção enquanto esperava na recepção da oficina, até que alguém viesse trocar a embreagem que você demoliu.
Depois que coloquei um “filtro de ar esportivo” no meu Ford Cortina 1600E, passei dias rodando pelas ruas de Doncaster, chamando para um pega quem quer que eu encontrasse; depois, fiquei explicando para a turma que, devido ao motor de fluxo cruzado poder respirar mais facilmente, ele estava produzindo 300 cv. Daí eu ter terminado com a pose de muito motorista em sinais de trânsito.
Era tudo grandioso, mas eis que um dia isso acabou: vieram as câmeras de velocidade, o Partido Verde aplaudiu e campanhas de segurança viária se formaram, e toda a alegria do dirigir foi eliminada. Os jovens decidiram que é mais fácil circular de ônibus: hoje, é raro ver alguém com menos de 25 anos que se preocupe em tirar carteira de habilitação.
Todavia, notei que o grande prêmio do sinal verde está ensaiando voltar. Graças, quase que inteiramente, à natureza evangélica do entusiasta “fraco de cabeça” da Tesla.
Na semana passada parei em um sinal num Lamborghini Huracán STO, com uma profusão de adesivos, spoilers e fibra de carbono. E, pelo canto do meu olho, notei um motorista, de quarenta-alguma-coisa, agitado no banco do seu Tesla. Pensei, e torci, para que ele estivesse sendo eletrocutado, mas não. Ele estava olhando, se agitando e apontando para o sinal, porque estava a fim de um pega com o Lambo.
Não sei que modelo de Tesla era, porque não estou interessado neles. Mas presumo que estivesse equipado com aquele ajuste idiota que permite que o carro arranque como um gato escaldado. Como se chama isso? “Modo Musk”? “Modo pinto pequeno”? “Meus filhos me fizeram comprar um lixo desses e, agora, tenho que demonstrar para todo mundo que ele está no Modo Nave Espacial”?
Desnecessário dizer que, quando o sinal mudou para verde, ele arrancou como se tivesse levado um chute do (jogador de rugby) Jonny Wilkinson. Provavelmente ele produziu para ele mesmo um efeito-chicote e deve usado metade da carga da bateria que precisava para voltar para casa.
Se eu tivesse resolvido aceitar o desafio, é possível que o pequeno e apertado hatchback batesse o Lambo. Mas, e daí? Um micro-ondas pode amolecer uma batata mais rapidamente do que um forno, mas nem de longe o resultado pode satisfazer.
Velocidade é algo maravilhoso, não há dúvida. Mas ela deve ser acompanhada de algo mais. Barulhos de dinossauros. Sons que façam seu sistema límbico vibrar. De modo que você tenha a sensação de estar fazendo algo emocionante. E é isso o que você tem no Lambo.
Apregoa-se que o STO é um carro de corrida para andar na rua, mas não se engane, pois não é. Claro, tiraram a tração dianteira para torná-lo um tração-traseira apenas, mas isso só reduz seu peso em 20 kg, e depois acrescentaram esterçamento das rodas traseiras: logo, metade da perda de peso é sacrificada. E tem a tomada de ar no teto que, na verdade, não conduz ar para o motor.
Esse é o modo de ser Lambo. Fazem carros que são emocionantes e metem medo. Carros que vão melhor como pôsteres na parede de um garoto. A Ferrari lhe venderá um bisturi finamente polido. A Lamborghini lhe venderá um bate-estacas verde limão.
Potência? Bem, o motor de 5,2 litros produz 640 cv, o que certamente é um bocado, mas no mundo rarefeito dos supercarros de hoje em dia não é nada que valha a pena escrever a respeito. Quero dizer que ele leva 3 segundos cheios para ir de 0 a 100 km/h, mas isso não interessa, porque trata-se de um V10 – o último V-10 em produção – e, como todos os V10, é uma obra-prima.
O barulho amedronta como um filme de terror: é alto de não se acreditar. Vulcanicamente alto. E quando passa de 4.700 rpm e seus ouvidos ficam pedindo piedade, algumas válvulas abrem e ele fica ainda mais alto. É o som de um motor inerentemente desbalanceado e completamente livre. Como estivesse tocando sua música através do conjunto de alto-falantes de 29.000 watts da banda Grateful Dead no Cow Palace, nos EUA.
Tivesse eu escolhido tirar um racha com o sujeito em seu Tesla, ele teria se sujado quando eu tivesse percorrido 100 metros.
Adorei de verdade este carro. Adorei o interior sem carpete, o painel descomplicado, o sistema de navegação por satélite Audi e o exótico botão de partida. Gostei do modo como ele pode ser dirigido quando não se está a fim de andar rápido, em que fica não muito distante do civilizado.
Há duas coisas das quais não gostei. Entrar nele. E sair dele. Quando você tem minha altura, 1,96 metro, e muita massa, essas são duas coisas que você não pode fazer dignamente. O STO é como um terno italiano. Ele simplesmente não é feito para cavalheiros grandes.
Tem também a decisão idiota da Lamborghini de copiar a Ferrari e colocar todos os controles principais no volante de direção. Experimente baixar os faróis enquanto desliga a seta. Não pode ser feito, especialmente se você ficar com torcicolo ao tentar embarcar e se sentir numa sala escura com um leão à procura de algo.
Puristas sempre argumentarão que a Ferrari produz um carro melhor e isso provavelmente é verdade. Se você é Lewis Hamilton ou Max Verstappen, você realmente pode andar com um supercarro numa pista a uma velocidade tal que diferenças mínimas começam a ser sentidas.
Todavia, não sendo nem um, nem outro, você não será capaz de fazê-lo. Você apenas quer um Ferrari porque é um Ferrari. E tudo bem. São carros extremamente bem projetados e construídos e você poderá comentar num pub que é capaz de sentir a atuação da válvula e o comportamento dos pneus e tudo mais que você é incapaz de sentir. Porque você não é piloto, mas, digamos, economista.
É onde entra o Lamborghini STO. Sim, ele tem uma bitola maior do que a do já sensacional Huracán Performante, no qual é baseado, e freios Brembo CCM-R e amortecedores de ajuste magnético de dois estágios. Ele tem o arsenal técnico para dar o que falar e a trilha sonora para sugerir que ele pode andar de verdade, mas em minha experiência Lambos sofrem um pouco se você for para uma pista e arrepiar.
Contudo, isso não interessa, porque Lambos não são comprados por gente como Rod Stewart, Kim Kardashian, Pierce Brosnam, e eu. Eles são comprados por gente que gosta do visual e do som, e do puro prazer das coisas.
Certo, um Tesla é mais rápido nas largadas dos sinais, mas as pessoas não fazem isso mais, a menos que achem ter alguma coisa para provar, o que motoristas de Tesla invariavelmente têm. Contudo, por que você não tenta parar na frente do Hotel de Paris em Mônaco no seu utensílio elétrico e ver quão rápido os atendentes vêm abrir sua porta? Depois faça o mesmo num STO.
Na verdade, não faça isso. É melhor sair do carro quando não tiver ninguém olhando.

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