quinta-feira, 6 de julho de 2023

Cinelândia, Curitiba, Paraná, Brasil


 

Cinelândia, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
Foto Postal Colombo N. 3
Fotografia - Cartão Postal


Este histórico Cartão Postal de Curitiba, década de 1950, editado pela Foto Colombo com o título "Cinelândia", nos mostra o pequeno trecho da Avenida Luiz Xavier onde funcionavam alguns cinemas de Curitiba naquela época.
"Toda cidade, pequena ou grande, tinha um ou mais cinemas em sua rua principal. Curitiba tinha a sua chamada "Cinelândia", que ia da Praça Osório até a rua Doutor Muricy e arredores. Boas e elegantes lojas; cafés e confeitarias completavam o espaço para conversas, ver e ser visto. A demanda pelos filmes era grande e algumas salas para exibi-los, enormes e luxuosas. Do final dos anos vinte até os anos setenta era assim. [...]
Era a época dourada dos cinemas, nas telas e nos negócios. Num momento da história em que a comunicação só tinha como concorrência o rádio, jornais e revistas, as famílias, pelo menos uma vez por semana, saíam de casa para assistir um filme. Aliás, frequentemente mais de um filme no mesmo dia, pois o ingresso era muito barato (centavos de dólar) e os horários das sessões eram sempre os mesmos: 14, 16, 18, 20 e 22 horas, salvo obras com metragens mais longas. [...]
Outra curiosidade: não se comprava o ingresso para a sessão, você podia entrar no meio ou ficar para a próxima para rever algum trecho que desejasse. Era ótimo não se preocupar com horários. A variedade da programação era diferente de hoje, geralmente cada cinema passava um filme, pois as cópias vinham de fora e eram poucas (em torno de seis para o Brasil todo). Isto gerava uma grande defasagem entre a produção e a exibição: aqui em Curitiba, era de mais ou menos dois anos naquela época. [...]
Assistir a um filme naqueles dias era um evento social com certa pompa. No Cine Ópera, por exemplo, enorme com três plateias, mais de 2000 lugares e inaugurado em 1942, os frequentadores chegavam bem antes da sessão e era possível a apreciação da enorme cortina de veludo vermelho, que cobria a tela e brilhava com seus fios dourados as luzes da boca do palco; a música orquestral, cuidadosamente selecionada e reproduzida de discos, se ouvia também na sala de espera com sofás e bombonière, onde só se vendiam balas e bombons.
Música mais alta e pomposa: era o prefixo, cada cinema tinha o seu a anunciar o início da sessão quando as luzes começavam a diminuir. Em seguida o gongo com as três notas como se fossem as três pancadas de Molière. A cortina começava a abrir lentamente e apareciam na tela slides com anúncios de publicidade. Em seguida o cine-jornal ou atualidades que eram trocados a cada semana e por isso nem tão atuais assim: reportagens nacionais e internacionais que você teria ouvido pelo rádio ou lido em jornais mas que apresentavam as imagens em movimento e comentários narrados por Luiz Jatobá ou Cid Moreira que nestas grandes salas ficavam com a voz mais pomposa. Eram de aproximadamente dez minutos; na última parte futebol com alguns lances de uma partida importante. Depois um documentário ou desenho animado e os trailers dos futuros lançamentos ansiosamente aguardados.
Nos cinemas chamados “poeiras” ou nas matinês, ainda um capítulo de algum seriado que na semana anterior terminara em um momento culminante. Então o filmão. Se fosse de longa metragem, haveria um intervalo para esticar as pernas, ir ao banheiro, bombonière, conversar sobre o que se tinha visto até ali. Esses filmes vinham com a sua música para ser tocada nestes intervalos. Se chegasse com a sala já escura, havia a figura do “lanterninha” para guiá-lo na procura por lugares ainda vagos, ou reprimir comportamentos indesejáveis com aquele facho de luz. No “The End” a cortina se fechava novamente como em um teatro, escondendo a tela branca, vazia.
Este ritual, o lento apagar das luzes, gongo, o abrir da cortina, preparava os sentidos e a mente da plateia para o espetáculo que viria a seguir ao mesmo tempo que criava a expectativa, a magia para o novo mundo de fantasias. Aquelas salas enormes lotadas nos colocavam como cúmplices de todas as ações que se desenrolavam na telona, como só as grandes multidões propiciam. E o ingresso era barato, cinema como diversão popular no bom sentido."

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