Convenção de Itu, Itu, São Paulo, Brasil (Convenção de Itu) - Jonas de Barros
Itu - SP
Museu Republicano Convenção de Itu USP, Itu, Brasil
OST - 88x139 - 1920/1921
Nas palavras de Sérgio Buarque de Holanda, “o Partido Republicano se tornou em São Paulo, muito antes, e muito mais do que em outras províncias, uma força poderosa, coesa, organizada, apta, por isso, a assumir posição de hegemonia, ao desaparecerem, depois de 89, os freios que limitam a expansão de suas energias”.
O Partido Republicano veio à luz na famosa convenção realizada em Itu em abril de 1873. Por que Itu? Uma das razões foi o fato de um dos principais articuladores do evento, o rico fazendeiro João Tibiriçá Piratininga de Almeida Prado, que já se havia destacado no cultivo da cana-de-açúcar e do café, e agora era dono de extensas plantações de café, residir nessa cidade.
João Tibiriçá Piratininga, como era mais conhecido, ou simplesmente João Tibiriçá, pertencente a uma família cujos ardores nacionalistas, ou paulistas, levara-a a adotar o nome do cacique que dominava o Planalto, à época da fundação de São Paulo, e o primitivo nome da região da capital, fez as vezes de anfitrião dos convencionais.
Outra razão para a escolha de Itu foi que a cidade vivia, nessa
ocasião, dias de festa. A convenção foi marcada para 18 de abril.
Na véspera dia 17, seria inaugurada, com as pompas já nossas conhecidas, as iluminações e as fanfarras, a Estrada de Ferro Ituana.
Os convencionais poderiam, assim, além de vir de trem, aproveitar para participar da festa, ainda que uma festa monarquista, com a presença da principal autoridade do regime na província, o presidente João Teodoro.
À convenção compareceram 133 pessoas, provenientes de 16 diferentes municípios paulistas e, três delas, da capital do Império.
Entre os 133, havia 78 fazendeiros, contra 55 de outras profissões. Já se vê que foi um congraçamento sobretudo interiorano e, mais que interiorano, cafeeiro.
Entre os presentes incluía-se um moço de 32 anos, Manuel Ferraz de Campos Sales, que, destinado a ocupar, 25 anos depois, a presidência daquela República pela qual se engajava, já naquela época não representava pouca coisa, herdeiro que era de rica família de Campinas.
Como se adivinha, não eram fazendeiros quaisquer. Era a fina flor, ou, pelo menos, boa parte da fina flor da elite paulista, e aqui dois sentimentos opostos se impõem — um familiar e outro de estranheza, um de que pisamos em terreno conhecido, outro de que esse terreno conduz a bizarras paragens.
Em 18 de abril de 1923, a cidade de Itu estava em plena festividade com a inauguração do Museu Histórico Convenção de Itu, denominação dada pelo jornal Republica, fazendo referência a Convenção de 1873 ou então, do Museu Histórico Republicano, denominação dada pelo jornal A Cidade, que se identificava como órgão do Partido Republicano de Itu.
Ambas as denominações, refletiam posicionamentos políticos de cada um daqueles jornais, evidencia esta que ainda carecem de uma pesquisa mais minuciosa. Contudo, ambos, através de seus redatores, não mediram esforços para transformar aquele evento não apenas em um ato público, mas também político.
A República, através de seu redator Affonso Borges, fazendo jus ao título que havia dado, procurou evidenciar os trabalhos dos “propagandistas da Republica” destacando, sobretudo, a presença de alguns deles chamados pelo redator de “venerandos anciãos”, “velhinhos conscientes de seu próprio valor voltavam-se os olhos admirados dos que procuravam e viam neles a estampadas as peripécias das grandes lutas outrora travadas para a implantação do regime democrático em nosso País”, e complementa, “ a mocidade foi-se, mas a energia do paulista assenta-se no espírito, repousa no coração e não desaparece com a idade”.
Ainda neste mesmo artigo, a descrição dada pelo articulista às festividades, permitiu observar que a cidade estava bastante movimentada, pois inúmeras pessoas haviam chegado à véspera, adiantando-se a comitiva presidencial para garantirem uma comodidade. Hotéis, ruas, praças e casas de negócios estavam cheias e, segundo a mesma notícia, de “uma gente alegre e divertida”.
Ao se aproximar a hora da chegada do trem Presidencial, trazendo Washington Luís, então no cargo de presidente do Estado de São Paulo e sua comitiva, “o povo previamente avisado por um boletim, começou a se deslocarem em direção à estação que, às 11 horas, não comportava a enorme multidão que se acotovelava dentre do edifício [estação] e nas suas imediações”.
O redator do Republica, ao comentar os feitos do presidente, procurou também deixar registrado a familiaridade e proximidade de Washington Luís com a cidade de Itu, e depositando no próprio Washington, os créditos pela concretização da instalação do Museu em Itu. Assim registrou:
“ um dia, quem sabe se pela primeira vez, o dr. Washington Luís veio a Itu, quando o Dr. Jorge Tibiriçá, então presidente do Estado fez uma visita a fazenda Pirapitingui, onde se fizera grande plantação de arroz.
Rapidamente, em algumas horas, apenas de permanência nesta cidade, os olhos perspicazes do então Secretário de Justiça e Segurança Pública relancearam por esses velhos casarões e os seus ouvidos escutaram perfeitamente o sussurro abafado das glorias soterradas”. E vai mais além afirmando que como “Republicano de estirpe, é aqui que ele vê o berço da Republica”.
Assim, acreditava o redator, que toda a movimentação em torno do Museu Histórico da Convenção de Itu, era também o momento de um despertar da memória local, pois a cidade representava um “verdadeiro museu de relíquias republicanas” a céu aberto, mas “tudo estava adormecido sob o pó da mais criminosa indiferença” e guardados, entre outros, “nos velhos casarões remanescentes do século XIX”.
Já para o jornal A Cidade, a inauguração do museu foi também o momento de rememorar os cinquenta anos passados da Convenção de 1873. Para tanto, reservou duas de suas páginas para publicar as Atas do movimento republicano de Itu. Uma delas datada de 10 de setembro de 1871 e, a outra, de 14 de julho de 1872, ambas assinadas por Paula Sousa, secretário do partido do Partido Republicano de Itu. Esses documentos, segundo o mesmo jornal, haviam sido guardados por mais de quarenta anos por Paulino de Lima.
Este jornal, também não mediu esforços em descrever em sua edição de 22 de abril de 1923, passo a passo, o roteiro oficial empreendido por Washington Luís e sua comitiva. A denominação de Museu Histórico Republicano, dada pelo jornal A Cidade, ia ao encontro a sua declarada filiação ao Partido Republicano. Assim, embora não deixasse de mencionar os convencionais de 1873, procurou enfatizar a importância da Convenção de 1873 para História de São Paulo. E assim resumiu: “A Convenção de Itu é um dos fatos de relevo da nossa História Pátria e que tanto honra o patriotismo dos paulistas bandeirantes impávidos do ideal democrático”.
As festividades contaram também com inúmeros convidados de outras localidades, como a Companhia de Guerra da Força Pública e a banda de música de São Paulo trazido a cidade de Itu, graças aos serviços oferecidos pela Estrada de ferro Sorocabana, que não mediram esforços para colocar vários trens especiais para a localidade.
Segundo o Inspetor Geral, os trens especiais para Itu permitiram a “correspondência direta de todos os pontos extremos da Sorocabana”. Os provenientes de Piracicaba e Mairinque fariam a baldeação em Itaici e, deste local, partiriam para Itu. Os de São Paulo, vindos em trens da São Paulo Railway trocariam de composição na estação de Jundiaí e, deste local, partiam para Itu.
Criado para ser um memorial da História Republicana Paulista, a instalação do Museu se concretiza em meio às comemorações do Centenário da Independência do Brasil em 1922, cujas festividades proporcionam a capitalização de recursos, em especial, acumulados pela cultura cafeeira para a construção de parques, construções públicas e monumentos e em meio aos “primeiros sinais de desgaste” do Partido Republicano Paulista.
É também neste período que se deu a inauguração do monumento do Ipiranga e a reorganização do Museu Paulista, conhecido como Museu do Ipiranga. Parte desta reorganização contou com a remodelação da decoração interna do edifício e a criação da Sessão de História Nacional, com destaque para História de São Paulo, a qual ficou subordinada o Museu Republicano e, a Sessão de Etnografia.
Segundo Affonso de Taunay, a ideia de adquirir o sobrado que em 1873 sediou a Convenção e transformá-lo num memorial da Convenção e do Partido Republicano Paulista, já estava sendo cogitada desde os anos de 1917-1918.
Esse interesse havia se manifestado, segundo Taunay, pelo então prefeito da cidade de Itu, Graciano Geribello, que tentara sensibilizar o Governo do Estado de São Paulo, na época presidida por Altino Arantes, a comprar a “Casa da Convenção”, o que se efetivou apenas na gestão Washington Luís, que “sempre interessado e estudioso da Historia paulista, viabilizou o projeto”.
A Cidade, jornal do Partido Republicano de Itu, em matéria publicada em 15 de abril de 1923, nos fornece uma indicação que vem ao encontro com a afirmativa de Taunay, quando este se referiu as tentativas empreendidas pelo prefeito Dr. Graciano Geribello para a compra daquele edifício. Através daquela nota-se que, em 1919, Graciano “aproveitando sua passagem [Altino Arantes] pela Rua Carmo, mostrou a S. Excia o prédio da Convenção”.
Além das comemorações empreendidas pelo estado de São Paulo em meio às festividades do Centenário da Independência e o processo de efetivação da instalação do Museu Republicano, a cidade de Itu passava por uma “modernização urbana”. Através da aprovação de um projeto de lei pela câmara municipal, posteriormente transformada em Lei Municipal, determinou a modificação da nomenclatura de ruas e praças da área central, fazendo desaparecer as denominações originárias do período colonial dos espaços públicos.
Assim, o Largo de São Francisco passou a ser denominado de Praça D. Pedro I; a Rua da Palma, para dos Andradas e a Rua Direita para Paula Souza. O mesmo, para a Praça Municipal (Largo do Carmo) que passou a ser denominada de Praça da Independência.
É também neste ano, que Washington Luís inaugura a estrada de rodagem ligando São Paulo a Itu, um dos marcos de sua administração, cujo lema a ele atribuído era “governar é abrir estradas”. Neste momento, Geribello estava no cargo de Prefeito Municipal, sendo seu vice Luiz Gonzaga Bicudo. Além das costumeiras boas vindas, segundo as Atas da Câmara Municipal redigida em primeiro de maio de 1922, houve uma solenidade no salão nobre da Câmara tendo por finalidade a inauguração oficial de um retrato de Washington Luís. Pelo menos 100 pessoas estiveram presentes nesta solenidade, entre elas, o historiador e jornalista ituano Francisco Nardy Filho.
Assim, pode-se afirmar que a presença de Washington Luís em 18 de abril de fazia parte de uma série de outras viagens que ele fez a Itu. Há registros de sua estadia em vários anos. Em 1908, quando exercia o cargo de Secretário da Justiça e da Segurança Pública do governo de Jorge Tibiriçá Piratininga, quando visitou as plantações de arroz existentes na fazenda Pirapetinguy pertencente a Campos Netto. Voltaria a Itu, pelos menos nos anos de 1909-10, 1922, 1923 (duas vezes) e 1926 como candidato a presidente da República. Em 1926, participou de um almoço comemorativo a inauguração do novo edifício do Asilo Nossa Senhora da Candelária juntamente com Carlos de Campos então presidente do Estado de São Paulo. E, em 1953, quando recebeu o título de cidadão ituano.
A inauguração do museu também se deu em um momento de transição política local. Graciano Geribello, embora tenha sido eleito para seu terceiro mandato como prefeito da cidade para o período de 1923-1925, delicadamente renuncia ao cargo. Nesta eleição havia dois candidatos: Graciano Geribello e Luiz Gonzaga Bicudo. O primeiro recebeu 6 votos e o segundo 2 votos. Contudo, vale informar que as eleições para prefeito e vice-prefeito eram indiretas e realizadas entre os vereadores eleitos da Câmara Municipal.
Nas Atas de 15 de janeiro de 1923, encontra-se o seguinte pronunciamento de Geribello após sua vitória que “acabara neste momento de receber da Câmara Municipal mais uma prova de confiança reelegendo para o elevado cargo de prefeito, agradecia penhorado aos seus colegas de Câmara essa prova, porém motivos de ordem particular o obrigava a renunciar esse cargo”. Promovendo nova votação foi eleito Luiz Gonzaga Bicudo e para vice-prefeito João de Almeida Camargo.
Essa transição política, que ainda demanda pesquisas, parece ter interferido também nos trabalhos da Câmara local. Uma evidencia dessa constatação é a ausência de comentários a respeito da inauguração do Museu Republicano. Assim, nem mesmo a grande movimentação em torno daquela festividade e a presença do presidente do Estado de São Paulo Washington Luís, foram motivo de comentários pelos vereadores.
A sessão de 14 de abril de 1923 quando, provavelmente, poderia ter sido registrada a inauguração, a sessão da Câmara não pode ser realizada por falta de quórum. Nesta ocasião compareceram apenas Graciano Geribello e Luiz Gonzaga Bicudo, este último já como prefeito da cidade. A próxima sessão, ocorrida a 12 de maio de 1923, os trabalhos ficaram por conta das discussões acerca da ausência de “moradias higiênicas” (casas operárias) para a população operária, num momento em que a localidade se via em meio a um desenvolvimento das indústrias locais.
Por outro lado, a inauguração oficial do museu, foi destinada para convidados e autoridades, o que é notado em uma carta encaminhada por Taunay, agora oficialmente como Diretor do Museu Republicano, à Washington Luís em 21 de abril de 1923. Observa-se que entre os assuntos tratados, há um pedido de autorização para que “se deixasse o Prédio da Convenção ornamentado durante alguns dias”, com as folhagens, até o dia primeiro de maio. Isso, para que “as pessoas dos arredores e fazendas de Itu possam vir à cidade e ver o local do fato de 18” [inauguração].
O diretor Affonso de Taunay também se destacou pela atuação na administração e organização do Museu Republicano, bem como, pela rede profissional e pessoal que construiu durante as décadas em que frequentou a cidade. Entre 1923 e 1946, adquiriu telas, móveis e objetos de diferentes estilos, procedências, e épocas e encomendou retratos a diferentes artistas. A exposição idealizada por Taunay procurava evidenciar a participação dos paulistas, por meio do Partido Republicano Paulista, no processo de proclamação da República.
Era na cidade de Itu e na região que conseguiu inúmeros contatos para a execução do seu projeto, além de ter recebido doações tanto de membros do Partido Republicano Paulista como de familiares dos convencionais.
No interior de uma das residências ituanas, foi buscar um conjunto de mobílias para compor a primeira sala de exposição do museu: a Sala da Convenção. A mobília, um conjunto de cadeiras e outros móveis, datados do século XIX, que atualmente compõem a “Sala da Convenção”, pertenciam à residência de Felício Marmo, professor da escola ituana Cesário Motta.
A mobília adquirida era adequada ao projeto de Taunay em criar uma sala de visitas de uma “rica residência” da época áurea do café e assim, aproximar o visitante do ambiente vivenciado pelos republicanos da segunda metade do século 19. A intenção era fazer com que o visitante se sentisse transportado ao passado. Para completar, retratos dos republicanos que presidiram os trabalhos da Convenção de 1873.
Outro projeto foi a criação da Galeria dos Convencionais, da qual colaborou imensamente o Sr. Sampaio de Capivari. Para a criação desta área, Affonso Taunay encomendou a artistas de renome uma série de retratos de líderes políticos participantes da Convenção, e pessoas envolvidas com o movimento republicano. Entre os retratistas estavam: Oscar Pereira da Silva, Pedro Alexandrino, João Baptista da Costa, Henrique Bernadelli, Paulo Valle Júnior, Henrique Tavola, Pedro Bruno, Bernardino de Souza Pereira, Framta Richter, Tarsila do Amaral, Teodoro Braga, José Wasth Rodrigues, Henrique Manzo, Ernani Dias e N. Petrilli.
Para a produção dos retratos os artistas utilizavam como referência fotografias. A utilização dessas pinturas estava centrada no valor pedagógico atribuído à imagem e na concepção de História, partilhada por Taunay, pois para ele a pintura tinha valor de documento podendo substituir fontes de época.
Em 1921, o pintor ituano Jonas de Barros, entrega a Taunay, a pintura idealizada da Convenção republicana: Quadro “Convenção de Itu (1873), finalizado em 1921, obra que se tornou referência nos livros didáticos.
Em outubro de 1923, Taunay apresentou aos vereadores de Itu, o projeto pormenorizado e um exemplar acondicionado em “quadro com vidro emoldurado” confeccionado pelo pintor Oscar Pereira da Silva.
Taunay também marca sua presença como grande incentivador e orientador de trabalhos para a História local e regional. Em meio as suas correspondências, observamos que muitos o procuravam interessados em desenvolver e conhecer a História de suas cidades.
Embora seja uma pesquisa ainda a ser desenvolvida, vale ressaltar sua presença em pelo menos alguns trabalhos, como de Aluísio de Almeida, que desenvolveu vários trabalhos sobre a cidade de Sorocaba, Francisco Nardy Filho, autor de vários volumes sobre a História da Cidade de Itu e de Luis Castellari, historiador saltense e autor de História de Salto. Neste último livro, uma carta de Taunay endereçada ao autor e escrita em dezembro de 1942 , transformou-se em apresentação de seu livro, editado na década de 1970.
Taunay, durante o período em que dirigiu a Instituição foi responsável pela formação do primeiro grupo de funcionários do Museu Republicano, todos ituanos ou aqui residentes. Entre eles, os conservadores, Evaristo Galvão de Almeida, entre os anos 1923-1924; Izabel Ferraz, entre 1924-1926, Otilia Penteado de Paula Leite, 1926-1930; Arthur Ferraz Sampaio entre os anos de 1930-1939, mas nomeado somente em 1936 e Maria Antônia Luporine Sampaio entre 1939-1974.
A ferrovia e o Clube Republicano.
A cidade de Itu, em 17 de abril de 1873, um dia antes da reunião dos núcleos ou Clubes Republicanos paulistas e que ficou conhecida como “Convenção de Itu”, a cidade encontrava-se em festa, em meio às comemorações em torno da inauguração da estrada de ferro Ituana.
Companhia Ituana de Estrada de Ferro foi organizada em 1870, a partir da venda de Ações e teve como uma de seus idealizadores e primeiro presidente José Elias Pacheco Jordão, um dos principais líderes do Partido Conservador da Província de São Paulo. José Elias foi também agricultor em Rio Claro onde possuía fazendas de Café e um dos pioneiros nas experiências com o trabalho livre em regime de parceria.
Esta ferrovia, considerada na época, “uma utopia um sonho” conforme opinião publicada na Imprensa Ytuana em 26 de agosto de 1888 após o falecimento de José Elias Pacheco Jordão era também em outros comentários considerada um símbolo da modernidade e do progresso econômico local. Idealizada e custeada pelos fazendeiros da região com vistas a intensificar a comercialização de produtos agrícolas como o café, o algodão e a cana de açúcar, integrando-se com a cidade de Jundiaí, entroncamento da linha ferroviária da São Paulo Railway, com a cidade de São Paulo e com o Porto de Santos.
Há pelo menos dois documentos no acervo do Museu Republicano referentes da inauguração da ferrovia ituana. Um deles é o texto intitulado Recordações Históricas – 1873, escrito por Cesário Motta Junior em 1890. Cesário foi uma testemunha ocular dos fatos, pois acompanhou seu pai a Convenção de Itu.
O texto de Cesário Motta descreve as festividades e o espírito da cidade nos idos de abril de 1873, como toda enfeitada com “ala de bambus e palmeiras”, e arco “encimado por um anjo, com o dístico “Ao Progresso Ituano”. Este documento foi amplamente utilizado para reconstituir aquela inauguração que é considerada por muitos autores como decisiva para a escolha do dia e da localidade para a realização da Convenção de Itu. Mas, segundo Ana Luiza Martins a ferrovia trouxe também “para uma festa da Monarquia, 133 representantes dos clubes republicanos de 17 municípios paulistas”.
Outro documento relacionado à ferrovia é uma litografia de autoria de Jules Martin que, certamente esteve presente na inauguração, pois o seu desenho corresponde às descrições publicadas pela imprensa local. Cerca de seis mil pessoas presenciaram a inauguração da estrada e da estação da Ytuana, um número muito expressivo, pois a população total de Itu, em 1873, era estimada em 10.821 habitantes destes 4.245 eram escravos.
Vieram visitantes de toda a região para a festa, sendo que o largo da Estação Ferroviária transformou-se em um amplo estacionamento para as carruagens e troles. Além disso, observou-se a presença, conforme o anúncio publicado no jornal O Ytuano de 25 de março de 1873, de uma grande fileira de dois andares de palanques com camarotes, especialmente construídos para o evento e alugados por José Januário e Irmão.
Esta litografia foi reproduzida em um dos painéis de azulejos existentes no saguão de entrada do Museu Republicano, intitulado Inauguração Solene da Estação de Itu – 18 de abril de 1873. Para Affonso Taunay, esta imagem talvez seja o mais antigo documento impresso da iconografia ituana, o qual representa “a estação recém-inaugurada de Itu e sua vizinhança no momento da chegada do trem inaugural que trazia o presidente da Província de São Paulo Dr. João Teodoro Xavier.”
Em 1870, ano em que se organizou a sociedade para a construção da estrada de ferro ituana, integrantes do partido liberal radical do Rio de Janeiro, publicaram no jornal A República, veículo de propaganda do Partido Republicano do Rio de Janeiro, um documento com o título de Manifesto de 1870, documento, considerado como o “registro de nascimento” do Partido Republicano no Brasil.
Em Itu, o movimento republicano se institucionaliza e dá os primeiros passos para a organização do Partido Republicano local, em 1871, com a formação do “Club Republicano” de Itu. Neste ano, a cidade que foi considerada umas das mais importantes da Província de São Paulo, especialmente pela produção do açúcar, chá e do algodão, tinha em funcionamento a fábrica de fiação e tecelagem São Luiz, a primeira fábrica de tecidos a vapor da Província de São Paulo.
Em 15 de setembro deste mesmo ano, um daqueles simpatizantes da republica, e que se autodenominou “um observador”, ao traçar elogios à formação do Clube ituano, por meio do jornal Correio Paulistano, afirmou que naquela localidade o grupo republicano não fora formado apenas por liberais radicais, mas também, por conservadores. Afirmou ainda que, esta particularidade estava relacionada ao fato de que: “envergonhemo-nos do papel ridículo que temos feito e não sejamos mais o mero instrumento de especulações políticas”.
Segundo a primeira Ata deste Clube, documento do acervo do Museu Republicano e datado de 31 de dezembro de 1871, a diretoria foi formada por João Tibiriçá Piratininga, presidente; Antonio Francisco de Paula Souza, secretário; Ignácio Xavier de Campos Mesquita, 2º. Secretário; João Tobias de Aguiar e Castro e Francisco Emigdio da Fonseca. Todos participariam da Convenção de Itu em abril de 1873.
Uma de suas deliberações foi o encaminhamento ao Clube Republicano do Rio de Janeiro, autores do Manifesto de 1870, da adesão dos ituanos ao movimento. Este documento, contou com 140 assinaturas de membros que se declararam lavradores, capitalistas, negociantes, dentistas, farmacêuticos, advogados e artistas. Observa-se que muitos deles eram formados pela Faculdade de Direito de São Paulo, embora não se declarassem bacharéis, mas que passaram a exercer outras atividades após a formação como de fazendeiros, funcionários públicos, delegados, juízes de paz, entre outros. Vale salientar que muitos daqueles formaram importantes lideranças políticas no período imperial brasileiro.
Assim, ficaram registradas na primeira Ata do Club de Itu de 1871 as motivações que levaram a adesão ao Club Republicano do Rio de Janeiro:
“Cincoenta anos de triste experiência monárquica convencerão aos abaixo assinados, lavradores, capitalistas, comerciantes, que só o governo do povo e para o povo é que podem vir a felicidade, progresso e engrandecimento de uma pátria. Em consequência protestam eles contra a atual anarquia monárquica e seus corrompidos e desmoralizadores desmandos e regozijam-se em poder participar do Club Republicano do Rio de Janeiro, que envidarão todos os seus esforços para que a “Republica Federativa” seja em breve uma realidade entre nós”.
Entre as determinações, observa-se que o Club Republicano ituano tendo como presidente João Tibiriçá Piratininga, o mesmo que iria presidir os trabalhos da Convenção de Itu, passou a funcionar como “núcleo e centro” político do ainda não oficializado Partido Republicano Paulista, o que viria a se concretizar apenas com a Convenção de Itu, em 18 de abril de 1873.
Outra abordagem foi o da criação de uma escola noturna, que seria mantida por meio de contribuições mensais dos republicanos da localidade, para a alfabetização e, também, da fundação de um jornal “propagandista das ideias” do Clube Republicano. Um dos defensores da escola foi José Vasconcellos de Almeida Prado, também convencional de 1873.
Essa escola, cujos documentos também fazem parte do acervo do Museu, teve continuidade e, em 31 de dezembro de 1871, encontrava-se com 25 alunos matriculados, tendo como professor Braz Carneiro Leão, republicano convencional e proprietário do Hotel do Brás, um dos redutos das reuniões políticas locais e, como assistente de professor, o também republicano convencional João Xavier da Costa Aguiar.
Para verificar a viabilidade da fundação de um jornal republicano na cidade, foi nomeada uma comissão formada por João Tobias de Aguiar e Castro e Antônio Francisco de Paula Souza, convencionais de 1873. Um ano após a fundação do Clube, nota-se que o professor da escola era José Ignácio do Amaral Campos e que a proposta da fundação de um jornal local foi adiada. A justificativa para tal decisão estava nos altos custos para a compra do maquinário e a dificuldade em encontrar funcionários habilitados.
A questão referente a fundação de um jornal local voltado para a propaganda republicana, voltou a ser discutida na Convenção de Itu em 1873, mesmo tendo em circulação na cidade desde janeiro daquele ano o jornal O Ytuano, tendo como proprietários o Dr. Antônio Augusto Bittencourt, formado pela Faculdade de Direito de São Paulo. Esta folha, segundo a Gazeta de Campinas, de 12 de janeiro de 1873, não tinha “Caráter político” e pretendia atender e “ser útil ao comércio, lavoura, artes, sciencias e literatura”, sendo assim não atendia as necessidades de um partido recém fundado.
A fundação do jornal se colocava como uma necessidade estratégica da propaganda republicana. Conforme a Ata da Convenção, o assunto foi debatido por Ubaldino do Amaral, Barata, Jorge de Miranda, Manoel de Moraes Barros, Antônio Augusto da Fonseca, Antônio Cintra, Joaquim de Paula Souza, Américo de Campos e Joaquim Roberto de Azevedo Marques.
Mas, registrando na Ata daquela Convenção, o presidente da sessão, João Tibiriçá Piratininga alegou que naquele momento, “o assunto não era dos que deviam ser votados, por não fazerem parte das bases da organização”, referindo ao Partido Republicano, mas que não deveriam “esquecer-se que é de suma importância e grande alcance não se descuidarem os republicanos da imprensa, elemento essencial de propaganda das ideias e princípios, que são professados pelos cidadãos presentes”.
Mas se ainda não havia sido fundado um jornal em Itu declaradamente republicano, a ideia permanecia viva. Registros das atividades do Clube Republicano de Itu indicam que este contribuiu para a manutenção do jornal A República do Rio de Janeiro e da fundação do jornal A Província de S. Paulo (atual O Estado de S. Paulo), organizado em fins de 1874. Desde último, foram fundadores os republicanos e convencionais de 1873: João Tobias de Aguiar e Castro, João Tibiriçá Piratininga Américo Brasiliense de Almeida Melo, Américo de Campos, Francisco Glicério, José Vasconcellos de Almeida Prado e Manuel Elpidio Pereira de Queiroz, todos convencionais.
Contudo, a flexibilidade política do jornal A Província de S. Paulo e da adesão de membros do Partido Liberal motivaram críticas, especialmente por parte de alguns republicanos de Itu. Entre eles, Francisco Emigdio da Fonseca Pacheco, o “Totô Fonseca”, convencional e uma das mais atuantes lideranças políticas locais. Em correspondência enviada a Américo Brasiliense, em 17 de outubro de 1874, foi enfático em sua decisão em não colaborar com a fundação daquele jornal, escreveu:
“a folha que queremos crear não pode contar com assinantes d’aqueles partidos, e será sustentado somente pelos republicanos; ora sendo assim porque não será ele órgão do partido republicano, e não advogará exclusivamente seus interesses? Atravessamos uma época da balbúrdia política, e nestas circunstancias mão me animo a concorrer para a criação da – Província – que não tem cor política”.
A Convenção e a escolha por Itu
Uma reunião em 1872, nas dependências da casa de Américo Brasiliense de Almeida Mello em São Paulo, deu início a articulações políticas de republicanos representantes da capital e do interior, entre eles, estava o ituano e convencional José de Vasconcellos Almeida Prado. Naquela reunião deliberaram acertar uma data e também a cidade que deveria sediar o então “Congresso Republicano”, tendo como objetivo organizar o Partido Republicano Paulista na Província de São Paulo. Entre as deliberações estabelecia-se que:
“fosse, como de fato foi, nomeada uma comissão dentre os cidadãos presentes para que se dirigisse aos amigos e núcleos republicanos da província, convidando-os a que organizassem o partido, afim de que se ache pronto, sendo necessário, a entrar na luta; e mais que promovesse por todos os meios ao seu alcance larga e eficaz proteção a empresa republicana, principalmente aos jornais que sustentam aquela idea na corte e nesta província”.
Diante disso, foram colocados em votação e consultados todos os Clubes Republicanos já organizados do interior da Província. Eram duas as cidades mais indicadas para sediar o Congresso Republicano: Campinas e Itu. A cidade de Campinas, onde o movimento contava com a presença de importantes lideranças como Américo Brasiliense, Jorge Miranda, Francisco Quirino dos Santos, Campos Salles e Elias do Amaral Souza, e também de Francisco Glicério, se manifestam publicamente através do jornal Gazeta de Campinas, em 7 de novembro de 1872, que “ o lugar mais conveniente para a reunião desse Congresso não é esta cidade e sim a de Itu”.
Desta forma, em dezembro de 1872, Itu já havia sido escolhida para sediar o encontro dos Republicanos, como também, o dia em que seria realizada a Convenção estipulada em 18 de abril de 1873, um dia após a inauguração da estrada de ferro. Mas, provavelmente a ferrovia não tenha sido o único motivo para que todos os núcleos republicanos existentes na Província de São Paulo tenham escolhido a cidade de Itu para a realização daquela reunião. Certamente, a escolha vai além dos posicionamentos político-econômicos dos fazendeiros, pois muitos deles eram descendentes de famílias ituanas, e que haviam se enriquecido pelo café do “Oeste Paulista”. Assim, a coesão dos ideais republicanos passava também pelas ligações familiares entre irmãos, sobrinhos, pais e filhos, como os irmãos Lobo, os Almeida Prado, os Campos: Bernardino e Américo, entre outros. A vinda para Itu, terra natal de seus familiares, também fortaleceram os laços de amizade, política e interesses econômicos: “estavam realmente em casa”.
Segundo descrições do jornal Correio Paulistano de 24 de abril de 1873, no dia da inauguração da ferrovia, os camarotes construídos para a chegada do trem encontravam-se “adornados com a maior elegância e esmero, nos quais avultavam cerca de mil senhoras, oferecendo vistoso e atrativo espetáculo” Arcos, bandeiras, flâmulas, ramos e flores, compunham a festa. A chegada do trem inaugural do Presidente da Província Dr. João Theodoro Xavier e sua comitiva ocorreram ao som das músicas e foguetes e a multidão saudando a chegada do trem, segundo palavras do próprio jornal, “o monstro mecânico que naquele momento simbolizava as patrióticas aspirações do município ituano”.
Entre os discursos proferidos naquele dia 17 de abril estava o do Dr. Cândido Barata, republicano e como representante do Clube republicano da Capital de São Paulo que no dia seguinte, em 18 de abril, estaria presente na Convenção de Itu. Barata, em seu discurso, além das saudações ao presidente da companhia e a ferrovia, o iniciou com forte posicionamento político, utilizando-se da frase: “Um dia o povo é rei”, demonstrando que naquela solenidade a verdadeira realeza era a do povo”. A festa era também da República! Assim descreveu o mesmo jornal Correio Paulistano de 24 de abril de 1873, as festividades da inauguração.
“a mesa em forma de X, com 250 talheres, ostentava as mais delicadas iguarias, frutas, doces e bebidas”. Completava esta, “no centro, figurava, como um primor de confeitaria, uma locomotiva feita de coco, coberta de flores de coco, com um vagão semelhante cheio de frutas especiais de Itu: abacaxi, cajus, maças, etc, trabalho primoroso feito em Itu”. Ainda descrevendo a festa, continua: “as ruas da cidade estavam ordenadas de palmeiras, flâmulas, festões e bandeiras e as casas igualmente adornadas”.
Enquanto se realizavam as festividades em torno da ferrovia, na casa de João Tobias de Aguiar e Castro, conforme memória intitulada A “Convenção” e publicada em 21 de abril de 1895 no Jornal A Cidade de Itu, reuniram-se os republicanos para tratarem da eleição do Diretório do Partido Republicano de Itu que se formava.
No dia 18, data da Convenção de Itu, o Jornal Correio Paulistano daquele mesmo dia 21 de abril, ainda descrevendo as festividades em torno da ferrovia, indicou que ao meio dia na igreja Matriz, houve um Te Deum com a apresentação de uma “musica especialmente escrita para aquele ensejo pelo distinto e inspirado ituano o Maestro Elias Álvares Lobo”, e que à tardinha marcou sua presença na Convenção de Itu, onde estivem presentes mais de 200 pessoas.
Da família Lobo se destacou no movimento republicano ituano, o irmão do Maestro, José Álvares da Conceição Lobo que, em fins de 1889, após a proclamação da República, ainda se mostrava ativo em suas atividades políticas locais. Evidência disso é a correspondência que recebeu, em 19 de novembro de 1889 logo após a Proclamação da República, do Engenheiro Antônio Francisco de Paula Souza, importante projetista e construtor das ferrovias paulistas entre elas a ituana. A carta tendo a indicação de “Urgente e Reservada”, sublinhava a necessidade da adesão e apoio dos ituanos ao recém-nomeado Governo Provisório do Estado de São Paulo, formado pelo ituano Prudente de Moraes, Rangel Pestana e Joaquim de Sousa Mursa.
Nesta correspondência, Paula Souza, solicita a presença em São Paulo, especialmente dos empregados da Companhia Ituana de estradas de ferro, pois “ que sempre foram na sua maioria senão na sua totalidade Republicanos”, afirmativa esta que demonstra que, além de alguns republicanos que participaram como acionistas daquela ferrovia, se concentravam uma grande porcentagem de imigrantes que lá trabalhavam como empregados e que também se declararam como republicanos. O mais interessante é que também solicita a presença da banda de música: a Banda dos Artistas, formada, segundo Paula Souza, por “empregados da Cia”. Além dos empregados e da Banda dos Artistas, solicitou também que levassem uma bandeira “azul e branca”, feita pelo próprio Paula Souza, ainda quando morador em Itu, que se encontrava guardada no Hotel do Braz, cujo proprietário era o republicano e convencional, Braz Carneiro Leão.
A Convenção de Itu não passou despercebida, pois notícias de seu acontecimento se propagaram em jornais como Correio Paulistano e Gazeta de Campinas, entre outros. O Ytuano, jornal local, deu grande ênfase à inauguração da ferrovia, mas também, reservou um espaço para a divulgação da Reunião Republicana.
Além de destacar as mais de 200 pessoas ali presentes, também evidenciou a força política de Américo Brasiliense que havia sido escolhido como presidente da Convenção, mas que foi presidido pelo presidente do Clube Republicano de Itu, João Tibiriçá Piratininga. Segundo este noticiário, em decorrência de “ter declinado da presidência o Dr. Américo Brasiliense, que havia sido aclamado, por entender que o Sr. Tibiriçá competia a ele, como representante da diretoria do Clube Republicano desta cidade”. O Dr. Américo Brasiliense de Almeida Mello foi nomeado o secretário da Convenção de Itu.
Da Convenção de Itu, apenas se tem relatos através das notícias publicadas na imprensa, das memórias escritas por Cesário Mota, de1890 e das de José Vasconcellos de Almeida Prado, quando entrevistado por Affonso de E. Taunay em 1923.
Para ele, a residência de seu irmão Carlos Vasconcellos de Almeida Prado, foi naturalmente indicada para aquela reunião, dada ao seu tamanho e, também, por serem eles republicanos. Contudo, nota-se que na cidade havia outros edifícios de igual ou mesmo maiores para sediar a Convenção, como a residência de João Tibiriçá Piratininga, o presidente da Convenção. De qualquer forma estavam em família, pois Tibiriçá Piratininga era tio de Carlos e José Vasconcellos de Almeida Prado. Nota-se, que até o ano de 1888, Carlos ainda era o proprietário da Casa da Convenção, como também o local ainda servia para reuniões republicanas.
Assim, José Vasconcellos descreveu em suas memórias do dia 18 de abril de 1873;
“Desde muito antes da abertura da sessão, o sobrado estava completamente cheio de republicanos e de curiosos. Tivemos receio que o soalho afundasse. Não se podia entrar nem subir, tal era a aglomeração de gente. Em cima, á porta que dava ingresso a sala de reunião, o livro de presença para os que fossem republicanos ou quisessem batizar-se como tais, naquela data. Foi uma bela festa cívica”.
Segundo o jornal República, do Rio de Janeiro, em matéria publicada em 28 de abril de 1873, a Convenção de Itu poderia ter sido ainda maior, pois não haviam estado ali presentes núcleos republicanos importantes do interior como Itapetininga, Rio Claro e Pirassununga. Assim, em 18 de abril de 1873, às cinco horas da tarde e finalizando a meia da noite, iniciou-se a reunião política no sobrado de Carlos Vasconcellos de Almeida Prado.
O único documento da Convenção, o livro de Ata, doado ao Museu Republicano por Carlos Reis em 1923, ficarão registradas as deliberações para a formação e organização do então Partido Republicano Paulista, bem como os nomes e número de cada um dos 133 representantes dos Clubes Republicanos da Província de São Paulo. Nota-se, entretanto que no livro de Atas constam o registro de 129 pessoas, sendo de Itu (32) , Jundiaí (9), Campinas (14), São Paulo (09), Amparo (04), Bragança (04), Mogi-Mirim (02), Constituição - atual Piracicaba (05), Botucatu (04), Tietê (01), Porto Feliz (14), Capivari, (14), Sorocaba (05), Indaiatuba (09), Bethem de Jundiai - atual Itatiba (01) , Vila de Monte Mor (01), Jau 01) e Rio de Janeiro (02).
Mas, em outro livro, o de registro de assinaturas, destinado àqueles que “fossem republicanos ou quisessem batizar-se como tais, naquela data”, doado por Jorge Tibiriçá Piratininga, filho de João Tibiriçá Piratininga ao Museu Republicano , em 1923 é que se observa as 133 assinaturas, número constantemente citado quando se lê trabalhos sobre a Convenção de Itu.
Das deliberações registradas na Ata da Convenção constam:
“ 1ª Será constituída na Capital da Província uma Assembleia de representantes de todos os municípios.
2ª Funcionará, a primeira vez, em dia marcado pelos presentes cidadãos, e posteriormente como e quando for determinado pelos meios adotados em sua Constituição.
3ª Cada município elegerá um representante.
4ª O sistema eleitoral será o do sufrágio universal, e a idade de 21 anos completos e a não condenação criminal darão o direito de voto a todo cidadão
5ª A Assembleia de representantes no fim de cada Sessão nomeará uma Comissão para no intervalo das reuniões dirigir os negócios do Partido, entender-se com os Clubs municipais, e tomar as providencias exigidas pelas circunstancias, que se derem, ficando porem seus atos sujeitos á aprovação da Assembleia”.
Estas bases (orientações) do Partido foram distribuídas para todos os núcleos republicanos da Província de São Paulo e publicadas em jornais de grande circulação, como o Correio Paulistano. Este jornal, em 22 de maio de 1873, traz em sua coluna intitulada “Crônica Política”, uma Circular aos Republicanos, afirmando que como “foi convencionado na reunião em Itu”, convidava os municípios da Província a “fazerem-se representar” na Assembleia marcada para o dia 1º. de julho daquele mesmo ano na cidade de São Paulo. Coube a organização dessa reunião em São Paulo aos republicanos ituanos João Tibiriçá Piratininga e João Tobias de Aguiar Castro.
Nota-se também que as festividades da inauguração da ferrovia e, também da fundação do Partido, se estenderam até o dia 20 de abril, quando foi oferecido um “Jantar Republicano” na residência do irmão de Carlos, o Capitão Bento Dias de Almeida Prado, posteriormente, o Barão de Itaim, para os membros do Partido que ainda haviam permanecido na cidade.
O Museu Republicano “Convenção de Itu”
Em 1923, cinquenta anos depois da Convenção de Itu teve início os trabalhos da instalação, na mesma residência que sediou a Convenção de Itu em 1873, da criação de um memorial da história republicana paulista. Ideia que já estava sendo cogitada desde os anos de 1917-1918 e inserida nas comemorações do Centenário da Independência do Brasil, iniciadas no ano anterior a 1922, que proporcionaram a capitalização de recursos, em especial, acumulados pela cultura cafeeira para a construção de parques, construções públicas e monumentos, e também em meio aos “primeiros sinais de desgaste” do Partido Republicano Paulista.
Dentro dessas Comemorações, se insere a remodelação do Museu Paulista, conhecido como Museu do Ipiranga e a presença de Affonso de Taunay e a remodelação institucional como um Museu Histórico e a criação da Seção de História Nacional, com destaque para História de São Paulo, à qual ficou subordinado o Museu Republicano. Affonso de Taunay desempenhou o cargo de Diretor do Museu Paulista e do ituano entre os anos de 1923-1946.
Na cidade o interesse na instalação do Museu, segundo Affonso de Taunay, partiu de Graciano Geribello, então prefeito, que tentara sensibilizar o Governo do Estado de São Paulo, na época presidida por Altino Arantes, na comprar da “Casa da Convenção”, o que se efetivou apenas na gestão Washington Luís, que “sempre interessado e estudioso da Historia paulista, viabilizou o projeto”.
Washington Luís conhecia muito bem a cidade, afinal era casado com Sofia Paes de Barros neta do ituano e convencional Rafael Tobias de Aguiar Pais de Barros, o segundo Barão de Piracicaba. Entre inúmeras passagens por Itu, foram registradas as de 1908, quando exercia o cargo de Secretário da Justiça e da Segurança Pública do governo de Jorge Tibiriçá Piratininga, quando visitou as plantações de arroz existentes na fazenda Pirapetingui, pertencente a Campos Netto. Voltaria a Itu, pelos menos nos anos de 1909-10, 1922, 1923 (duas vezes) e 1926 como candidato a presidente da República. Em 1926, participou de um almoço comemorativo à inauguração do novo edifício do Asilo Nossa Senhora da Candelária, juntamente com Carlos de Campos, então presidente do Estado de São Paulo. E, em 1953, quando recebeu o título de cidadão ituano. O Museu Republicano foi aberto ao público em 18 de abril de 1923. Contava com vários objetos, móveis e documentos, muito deles, doados pelos membros do Partido Republicano Paulista, bem como, pelos familiares dos convencionais. Destacam-se destes primeiros acervos do Museu, inúmeras telas e retratos, entre elas o quadro A “Convenção de Itu – 1873”, encomendada por Taunay ao artista ituano Jonas de Barros e pintada em 1921.
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