São Paulo e a Invenção da "Maça do Amor"
Artigo
Se a história
de São Paulo é um mundo de curiosidades, acontecimentos importantes e fatos
desconhecidos, a nossa gastronomia não fica atrás. E, por incrível que pareça,
fazendo uma pesquisa sobre as origens da maçã do amor, acabamos por descobrir
que essa iguaria nasceu na cidade de São Paulo.
Tudo começa em
1954, ano do IV Centenário da cidade, quando o catalão José Maria
Ferre Angles desembarca no Brasil com a sua família. Infelizmente, com graves
problemas financeiros, Angles precisava dar um jeito de sustentar a todos e,
pensando nisso, criou a iguaria para vender pela cidade. As maçãs eram um fruto
de fácil acesso no país e, para inovar, Angles as cobriu com uma calda vermelha
cristalizada com o intuito de vendê-las em feiras, praças e festas
juninas. Entretanto, as maçãs começaram a ficar famosas quando o catalão
participou da primeira feira de utilidades domésticas, que aconteceu na cidade,
em 1960.
Diante do
sucesso do doce, o Angles convocou sua família para discutir e planejar um
nome. As sugestões mais simples, como “maçã caramelizada” e “doce cristalizado”
acabaram sendo descartadas. Coube ao próprio catalão escolher “maçã do amor” e,
sua inspiração, veio da Bíblia (em relação ao fruto que expulsou Adão e Eva do
Paraíso).
Entretanto, os
livros registram que o norte-americano William W. Kolb teria produzido a
primeira maçã do amor (ou “candy apple” em inglês) em 1908. No entanto, é
importante não confundir: “As
maçãs carameladas realmente já existiam, mas a calda vermelha e a adição do
palito são invenção do meu avô”, garantiu Leandro Lopes
Farre a uma entrevista ao Estadão. Segundo ele, as novas características
foram suficientes para a criação de uma identidade que permitiu o registro da
patente no Brasil.
Para conseguir
“registrar” a ideia, a família Angles teve que enfrentar um duro processo
burocrático. Em 14 de junho de 1962, a patente do método de cristalização
da “maçã coberta com açúcar colorido artificialmente”, saiu pelo prazo de 15
anos. Quem concedeu o
benefício foi o extinto Departamento Nacional de Propriedade Industrial, que,
desde 1970, virou Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
O processo durou
três anos. Em 1961, a Diretoria de Bromatologia e Química do Instituto Adolfo
Lutz em São Paulo analisou o produto e emitiu um parecer, citando as
características dele, como cor, cheiro, sabor e aspecto. Este definido como
“maçã com cobertura de açúcar colorido”.
O pedido da
família Farre também parou nas mãos do Serviço de Policiamento da Alimentação
Pública do estado, que liberou um alvará de Aprovação e Registro de Produto
Alimentício. A patente é um título de propriedade temporária sobre uma invenção
ou modelo de utilidade.
O catalão
ainda teve a genial ideia de revolucionar o churros no
Brasil. Apesar de ser a mesma massa vinda da Espanha, ele
decidiu cortá-lo e recheá-lo com doce de leite, ao invés de servi-lo em
“roda”. Seu primeiro ponto foi inaugurado em frente às Lojas Brasileiras,
na Rua Direita, em 1974. O primeiro churro recheado do mundo foi um sucesso.
A Casa do
Churro existe desde 1991 e seus carros-chefes são os recheios de doce de leite,
chocolate, goiabada, geleia de morango e catupiry. “Meu avô patenteou estas criações”,
contou Leandro. “Mas,
como só ambulantes vendiam os doces, não dava para cobrar royalties deles.
Agora elas já são de domínio público”.
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