Dodge Charger 1968, Estados Unidos
Fotografia
Talvez a mais
antológica perseguição do cinema seja a do ator Steve McQueen, a bordo de um
Ford Mustang, seguido por um Dodge Charger R/T, ambos 1968. Logo McQueen
inverte o jogo. O Mustang surge no retrovisor do Charger, pouco antes de
disparar em seu encalço pelas ladeiras de São Francisco. Se o Mustang dispensa
apresentação, o Charger americano é mais conhecido por fãs da Dodge e do filme
Bullitt (1968) no Brasil. Ao contrário do que pode supor um leigo, ele é bem
distinto do Charger brasileiro, variação do Dart. O Charger americano era
baseado no sedã intermediário Coronet e surgiu com a linha 1966.
Dois anos
antes a Pontiac havia criado com o Tempest GTO a febre dos carros
intermediários com motores V8 cada vez mais nervosos. Eram os muscle-cars
(carros musculosos). O Charger surfava nessa onda. Seus faróis eram escondidos
por um prolongamento da grade. Seguia o estilo fastback, sem colunas centrais,
mas com largas colunas traseiras. Sob o capô, o básico vinha com o V8 5.2 (318
pol3) de 230 cv, mas havia o V8 5.9 (361) de 265 cv, o V8 6.3 (383) de 325 cv e
o Hemi 426 de 7 litros e 425 cv (potência bruta). O câmbio podia ser manual de
três ou quatro marchas ou o automático Torqueflite de três. Um ano depois, o V8
440 Magnum (7 litros) ofereceria 375 cv. Em 1968, o seis-cilindros de 3,7
litros complementou a oferta.
Uma sutil
curvatura nos para-lamas suavizou o desenho e a coluna traseira ficou mais
estreita. Nascia assim um clássico. O Charger R/T das fotos é de 1968, como o
de Bullitt. O assento baixo e macio é típico dos Dodge. Os pedais são suaves,
mas o acelerador é um pouco duro devido à carburação Quadrijet. “Quem conhece
Dodge identifica o carro de olhos vendados pelo cheiro do couro misturado ao da
tapeçaria”, diz Dario Gantus, restaurador especializado em Dodge V8. Há que se
acostumar à bravura do V8 de 7,2 litros (440 pol3) para o Charger não escapar
das mãos.
Pouco mudaria
em 1969, quando a grade foi dividida ao meio e lanternas retangulares
substituíram as circulares duplas. A série 500 abria mão do alongamento das
colunas traseiras e dos faróis cobertos para render mais aerodinâmica na
Nascar. Vinha com o V8 440 ou o Hemi 426. Depois ganhou uma frente pontuda e um
enorme aerofólio, que rendeu 320 km/h de máxima e uma série de 505 carros de
rua.
Uma nova
geração, com largas colunas traseiras, chegou para 1971. Restrições às emissões
e a crise do petróleo de 1973 tiraram da geração seguinte parte do brilho esportivo
até 1978. Em 1983 o nome Charger voltou a figurar no catálogo da Dodge como uma
versão de desenho mais esportivo da plataforma subcompacta K, que só adotava
quatro cilindros. Enquanto isso, os protagonistas da série de TV Os Gatões
faziam muita algazarra numa cidadezinha americana a bordo de um Charger 1969
customizado abóbora. O enredo virou filme em 2005. Chamado de General Lee, o
carro realçou a vocação artística e o carisma da segunda geração do Charger,
símbolo de uma era que hoje parece mesmo só ter existido na ficção.



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