Buggy Glaspac 1973, Brasil
Fotografia
Amigos de
infância e filhos de ingleses, Donald Pacey e Gerry Cunningham fundaram no
Brasil a Glaspac, em 1962. Eles eram fornecedores de empresas automotivas e
foram pioneiros no país no uso de plástico reforçado com fibra de vidro –
material utilizado para fabricar guaritas, carrinhos de sorveteiro, pedalinhos
e pranchas de surfe.
O contato com
os surfistas fez com que os sócios conhecessem o estilo de vida desses jovens.
Nos EUA, a cultura praiana dos anos 60 estava ligada ao Meyers Manx – um bugue
desenvolvido por Bruce Meyers sobre a mecânica Volkswagen.
A dupla viu a
oportunidade de replicar o Manx por aqui – e a ideia era genial, pois o Brasil
tinha muitos Fuscas e, claro, muitas praias. Só faltou pedir permissão ao
fabricante. “Nunca contactamos o Meyers, nem tínhamos licença para replicar o
Manx”, afirma Gerry Cunningham.
“O primeiro
protótipo veio de uma miniatura da Corgi Toys em escala 1:43, ampliada em
compensado, poliuretano e massa plástica. A partir dela desenvolvemos o molde e
depois os gabaritos para encurtar o chassi Volkswagen em 35 cm”, conta.
O Glaspac
diferenciava-se do Manx por três detalhes: formato do capô, parte traseira da
carroceria e apliques laterais para melhorar o acabamento. Mas, apesar da
simplicidade, o início da fabricação não foi fácil. “A resina de poliéster
passou a ser produzida aqui, mas a fibra de vidro continuava importada da
Inglaterra.”
Outra
dificuldade foi desenvolver os componentes. Nenhum fornecedor manifestou
interesse em um automóvel que parecia ter vindo de outro planeta.
Com pouco
dinheiro em caixa, as negociações eram complicadas. A solução foi produzir as
rodas de aço alargadas e armação do parabrisa na própria Glaspac. Os pneus
vieram da Goodyear, por iniciativa de um executivo norte-americano que queria
presentear o filho com um bugue. O volante Fórmula 1 era fornecido pelo vizinho
e amigo pessoal da dupla, o piloto Emerson Fittipaldi.
A homologação
exigiu inúmeras viagens ao Rio de Janeiro e até o emplacamento foi um problema:
os vistoriadores implicavam com detalhes técnicos, que iam do motor exposto à
largura dos para-choques.
O primeiro
Buggy Glaspac foi montado em 1969, pintado de laranja. O segundo era rosa e foi
decorado com adesivos hippies flower power. A estratégia de marketing consistiu
em viajar até o Rio e estacioná-lo na Praia do Arpoador: o alvoroço do público
interditou o trânsito até Copacabana. O carro retornou a São Paulo como o novo
objeto de desejo da juventude: recebeu convites para aparecer em novelas e reportagens
e tornou-se o preferido de artistas e esportistas.
A produção
chegou ao limite de 30 bugues por mês, totalizando mais de 1.000 carrocerias.
Mas apesar do relativo sucesso, era difícil fechar as contas, já que a VW não
fornecia nem o chassi nem motores. “Chegamos a comprar Fuscas novos para
desmontar e vendíamos as carrocerias para frotas de táxi, mas o Buggy
zero-quilômetro era inviável financeiramente”, lembra Gerry.
Então passaram
a vender apenas o kit com carroceria, bancos, console, armação e vidro do para-brisa,
barra anticapotagem, faróis, para-choques e outros acessórios, como o volante
Fittipaldi, capota (rígida ou de lona) e até kits para aumento de cilindrada
(1,6 ou 2 litros).
A partir de
1972, o cliente podia enviar à Glaspac um Fusca acidentado ou em mau estado. O
corte do chassi e a montagem foram realizados pela Montauto até meados dos anos
1970, quando a Glaspac deixou de produzir kits. Os moldes foram cedidos sem
ônus à Montauto, dando origem ao bugue BRM. A Glaspac continuou no mercado de
réplicas até o falecimento de Pacey, em 1984, e encerrou suas atividades na
década de 1990.




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