Rio de Janeiro - RJ
N. 125
Fotografia - Cartão Postal
O primeiro delineamento da Perimetral, em 1946, foi elaborado
pelo Departamento de Urbanismo da Prefeitura do Distrito Federal, na administração
de Hildebrando de Araújo Góis (1946-7), e previa a inauguração de uma via
sem qualquer elevação. À sua concepção acompanhou a execução de outros planos
que projetavam o Rio para a volumosa circulação de veículos automotores. Assim,
a partir da implantação de um complexo viário que afirmava o predomínio do
carro e do ônibus como meios de transporte da cidade, desprezava-se a escala do
pedestre.
Par e passo à construção da Perimetral, diversos traçados
para esta cidade dos carros foram implementados como as vias
expressas do Aterro do Flamengo – inauguradas nos festejos do
4oº Centenário, em 1965, e cuja construção advém do desmonte do morro de
Santo Antônio, iniciada, em 1955. Resultou também na abertura da avenida Chile,
que cruzando o Centro, prolonga-se pelas avenidas Almirante Barroso e Alfredo
Agache, em sentido perpendicular à Perimetral.
Essas intervenções incluíram a abertura dos túneis Santa
Bárbara, inaugurado em 1963, e Rebouças, concluído em 1967, que redefiniram a
ligação da Zona Sul e Zona Norte. A partir destas duas obras, ergueram-se vias
expressas elevadas atravessando os bairros do Catumbi e do Rio Comprido,
respectivamente. Em outra frente, se implementou a Radial Oeste – que conduz da
Praça da Bandeira à Zona Norte –, e se construiu o complexo do Trevo dos
Estudantes e do Viaduto dos Marinheiros– que organiza o fluxo contínuo das
avenidas Presidente Vargas e Radial Oeste, na região do Canal do Mangue.
Concomitantemente, o alargamento das avenidas Suburbana (atual Dom Helder
Câmara), Automóvel Clube e Brasil aumentaram a capacidade de fluxo de veículos
pela Zona Norte. É da mesma época o planejamento das quatro Linhas, onde a
Vermelha só seria construída na década de 1990, cobrindo a tradicional rua
Bela, no bairro de São Cristóvão, com um elevado duplo.
A Perimetral, para muitos urbanistas e engenheiros do período,
era a solução para o avanço do tráfego de veículos na cidade e seguia uma
tendência internacional, especialmente dos Estados Unidos, que valorizava o
rodoviarismo nas vias urbanas. Iniciada efetivamente em 1957, na gestão do
então prefeito do Distrito Federal, Negrão de Lima (1956-58), a administração
seguinte, de José Joaquim Sá Freire Alvim (1958-60), deu prosseguimento às
obras do período anterior da qual ele havia sido Secretário de Administração.
Assim, em 1960, o primeiro trecho da Perimetral, interligando as avenidas
General Justo e Presidente Vargas, que se estendia do aeroporto Santo Dumont à
Candelária, foi inaugurado pelo presidente Juscelino Kubitscheck.
A segunda etapa que alcançava a Praça Mauá, contornando o
Mosteiro de São Bento e passando por cima do Distrito Naval, foi executada na
gestão de Negrão de Lima como governador do Estado da Guanabara (1966-71). A
última fase da construção, já na década de 1970, chegou à região do Gasômetro e
da Rodoviária Novo Rio, junto à avenida Francisco Bicalho, cruzando por cima da
Avenida Rodrigues Alves, margeando os armazéns do porto do Rio e cortando os
bairros da Saúde e Gamboa, garantindo a ligação com avenida Brasil e a Ponte
Rio-Niterói. Inaugurada em 31 de maio de 1978, pelo general-presidente Ernesto
Geisel, a manchete do Jornal do Brasil resumia a trajetória: “Obra
prioritária chega ao fim após 25 anos”.
A conclusão do primeiro trecho da Perimetral enfrentou a
necessidade da derrubada do antigo Mercado Público, inaugurado em 1907. Foi
necessária intervenção judicial para viabilizá-lo até a Candelária. Da grande
estrutura de ferro e vidro construída no início do século XX foi preservado um
dos seus torreões, onde se manteve sempre um restaurante. Já a construção do
viaduto pôs abaixo o edifício histórico do Hotel Pharoux, um dos mais
emblemáticos do conjunto da Praça XV.
O segundo intervalo da Perimetral deparou-se com influentes
setores de Estado: a Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, que pretendia
erguer sua nova sede justamente num trecho da via expressa projetada, e a
resistência da Marinha do Brasil, que via risco a passagem viária sobre o
terreno junto ao Gabinete do Ministro e o Distrito Naval. Felizmente, o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional considerou que a
alternativa de um túnel sob o morro que abriga o Mosteiro de São Bento podia
ameaçar uma das construções coloniais mais importantes da cidade. Com a
concordância da Marinha, a solução implicou na demolição de alguns prédios,
entre eles o da Capitania dos Portos.
O terceiro trecho previa não apenas abrir caminho para o fluxo
de veículos em direção à avenida Brasil e o acesso à Baixada Fluminense, mas
igualmente a perspectiva de construção da Ponte Rio-Niterói. Concluída em 1974,
substituiria definitivamente as balsas de carro na praça XV, no coração do
Centro da cidade. Neste trecho do elevado, a estrutura de concreto foi
substituída por metálica, produzida pela Companhia Siderúrgica Nacional.
A finalização das três etapas da Perimetral ocorreu no segundo
choque do petróleo, que colocou em xeque o modelo de desenvolvimento urbano
definido a partir dos anos de 1950, no Brasil. A crítica a esse modelo de
desenvolvimento urbano conduziu a novas soluções urbanísticas integrando a vida
urbana ao meio-ambiente, revalorizando a escala do pedestre e reforçando
espaços públicos de encontro e interação. A demolição do Elevado da Perimetral,
com os seus sete quilômetros de extensão, começou a ser discutida a partir da
gestão do prefeito Luiz Paulo Conde (1997-2000), voltando à baila na última administração
do prefeito Cesar Maia (2005-8). As advertências do caos no trânsito, assim
como o alto custo da iniciativa, frearam o projeto.
Na gestão do prefeito Eduardo Paes, iniciada em 2009, no
contexto dos projetos de preparação da cidade do Rio de Janeiro para as
Olimpíadas de 2016, o projeto de revitalização da Zona Portuária encontrou
condições de viabilidade, favorecendo a constituição de alternativas viárias
para a promoção do bairro como um novo centro de expansão de atividades
profissionais e de moradia na cidade. A demolição da grande estrutura de
engenharia viária se definiu em favor de uma ampla frente marítima da cidade
para o passeio pedestre contemplativo da paisagem.
No tempo de seu erguimento, o gigantismo e a visibilidade da
Perimetral fizeram da obra um monumento da engenharia urbana carioca, mais
vinculado a funcionalidade do que a estética. A trajetória de sua construção
envolveu uma geração de engenheiros e arquitetos, muitos deles funcionários da
Prefeitura da cidade e que reúne nomes, como Emílio Ibrahim, Jorge Bandeira de
Melo, Ronald Young, Afonso Canedo, Gilberto Morand Paixão, Armando Abreu,
Walter Pinto Costa, entre outros, cuja memória se preserva numa coleção de
entrevistas existente no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, numa
parceria com a Seaerj – Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio
de Janeiro. Em seus depoimentos, destacam os vários desafios de engenharia e de
política que representou a Perimetral, como também a centralidade do papel
governamental executado pela SURSAN – Superintendência de Urbanização e
Saneamento –, órgão instituído na administração Negrão de Lima como governador
da Guanabara, e cujo presidente foi Raymundo de Paula Soares, também secretário
de Obras Públicas.
Nota do blog: Na foto do post, o Mercado Municipal ainda não tinha sido totalmente demolido, apenas "mutilado" na parte onde passava a Avenida Perimetral. É de se perguntar como foi possível construir tal obra no meio do Mercado Municipal da Praça XV. Como isso foi permitido? Você conhece algum caso no mundo onde uma obra viária desse porte passa no meio de um mercado? Só no Rio de Janeiro mesmo...
Nota do blog: Na foto do post, o Mercado Municipal ainda não tinha sido totalmente demolido, apenas "mutilado" na parte onde passava a Avenida Perimetral. É de se perguntar como foi possível construir tal obra no meio do Mercado Municipal da Praça XV. Como isso foi permitido? Você conhece algum caso no mundo onde uma obra viária desse porte passa no meio de um mercado? Só no Rio de Janeiro mesmo...
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