Frescurite Para Comer Tem Cura - Marcos Nogueira
Artigo
Na minha última visita à dentista, a doutora me receitou um
enxaguante bastante específico. Comprei a marca mais famosa uma, duas, três vezes.
Eis que na quarta vez topo com uma promoção incrível. Um
enxaguante com o mesmo princípio ativo na mesma concentração, fabricado na
Espanha, pela metade do preço. Perdão: o dobro do volume pelo mesmo preço. E
ainda leva um dentifrício de brinde.
À noite, fui bochechar. Eca. Mas que Diabo? Gosto de anis. Vão
pentear macacos, espanhóis!
Foi um dilema. Jogar fora? Perder a grana investida? Meu lado
sovina falou mais alto. Encarei o anis bravamente.
E quer saber? Na décima enxaguada, o anis já estava bem amigo.
Quase gostoso.
Um pouco de insistência amacia paladares e vence frescurites
longamente entranhadas.
É o caso do coentro,
erva que suscita manifestações de repúdio ao redor do mundo. Fatores genéticos
podem fazer com que alguns indivíduos sintam gosto de sabão quando comem a
erva, diz um artigo
publicado na revista científica “Nature”. Essa repulsa, porém, pode ser
suavizada ou eliminada pela exposição continuada ao tempero.
Eu sou um dos que superaram o ódio pelo coentro. Depois de duas
décadas visitando in-laws no Espírito Santo (vulgo Coentrolândia), capitulei e
me joguei na moqueca capixaba com toneladas da folha verde. Hoje adoro coentro.
Funciona com quase todas as comidas. Na infância, eu era um dos
seres mais frescos e chatos para comer que já encarnaram na Terra. Na falta de
culpados melhores, culpo os meus pais. Do lado paterno, veio o asco higienista
por alimentos como a carne malpassada e entranhas em geral; a mãe consolidou
idiossincrasias ao acatar todas as rejeições e adaptar a elas o cardápio
doméstico.
Em determinado ponto da vida, tudo o que eu comia era: arroz,
feijão, frango, batata frita, pizza de mozarela, macarrão ao sugo e chocolate.
Aquilo era o bastante para detonar inúmeras situações de
constrangimento social. Elas foram aparecendo à medida que eu crescia e saía
mais de casa sozinho. Pus na cabeça que precisava mudar para me virar.
Ainda tenho minhas frescuras de estimação. Não são tantas
assim. Consigo superá-las em situações profissionais.
Há gente que se apega às restrições alimentares e sofre. Uma
pena. Frescurite tem cura para quem está disposto a vencê-la.
Nota do blog: Eu era igual, também não comia nada. Hoje como “quase”
de tudo (mantenho algumas frescuras, ninguém é perfeito...). Minha luta atual é
fazer minha filha comer tomate. Considero difícil mas um dia eu consigo, não
desisto fácil...

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