Artigo
Mazzaropi fez sucesso na TV e no cinema em uma época de difícil acesso a tecnologias. Caipira mais querido do Brasil, Mazzaropi, deixou-nos em 1981. Mas deixou seu legado imortalizado, em 30 anos de produções cinematográficas, que levaram mais de 200 milhões de brasileiros aos cinemas, numa época que a maioria das salas de cinema estavam restritas às grandes cidades.
No dia 19 de junho, dia do cinema brasileiro, recorda-se a história peculiar e vitoriosa de um brasileiro visionário, que soube aproveitar oportunidades, não teve medo de arriscar e que pode ser facilmente relembrada em uma propriedade privada na cidade de Taubaté (SP).
Em 1946, convidado por Dermival Costa Lima, da Rádio Tupi, Mazzaropi estreiava o programa dominical "Rancho Alegre", encenado ao vivo no auditório da emissora no bairro do Sumaré, dirigido por Cassiano Gabus Mendes. Em 1950, este mesmo programa estreou na TV Tupi, mas agora contava com a coadjuvação dos atores João Restiffe e Geny Prado. De acordo com a assessoria de imprensa do Museu Mazzaropi, este foi o primeiro programa humorístico da televisão brasileira. “Quando inaugurou a TV Tupi no Brasil, ele foi o primeiro humorista da TV, levando o mesmo programa que tinha na rádio, e só aos 40 anos iria começar no cinema, na Vera Cruz, que era a Hollywood brasileira da época. Ele fez três filmes por lá, 'Sai da Frente', 'Nadando em Dinheiro' e 'Candinho', com participações de Geny Prado”.
Desde muito cedo, o pequeno Amácio passou longas temporadas no município de Tremembé (SP), na casa do avô materno, o português João José Ferreira, exímio tocador de viola e dançarino. Seu avô também era animador das festas do bairro onde morava, às quais levava seus netos que, já desde cedo, entraram em contato com a vida cultural do caipira, que tanto inspirou Mazzaropi. Filho de Bernardo Mazzaropi, um imigrante italiano, e Clara Ferreira, portuguesa, com apenas dois anos de idade mudou-se para Taubaté (SP).
Em 1919, sua família volta à capital paulista e Mazzaropi ingressa no curso primário do Colégio Amadeu Amaral, no bairro do Belém. Bom aluno, era reconhecido por sua facilidade em decorar poesias e declamá-las, tornando-se o centro das atenções nas festas escolares. Em 1922, morre o avô paterno e a família muda-se novamente para Taubaté, onde abrem um pequeno bar. Mazzaropi continua a interpretar tipos nas atividades escolares e começa a frequentar o mundo circense. Preocupados com o envolvimento do filho com o circo, os pais mandam Amácio aos cuidados do tio Domenico Mazzaropi, em Curitiba (PR), onde trabalhou na loja de tecidos da família.
Em 1926, aos 14 anos, regressa à capital paulista ainda com o sonho de participar em espetáculos de circo e, finalmente, entra na caravana do "Circo La Paz". Nos intervalos do número do faquir, Mazzaropi conta anedotas e causos, ganhando uma pequena gratificação. Sem poder se manter sozinho, em 1929 Mazzaropi volta a Taubaté com os pais, onde começa a trabalhar como tecelão, mas não consegue manter-se longe dos palcos, passando a atuar em uma escola do bairro.
Com a Revolução Constitucionalista de 1932, seguiu-se uma grande agitação cultural e Mazzaropi estreou em sua primeira peça de teatro, chamada "A herança do Padre João". Já em 1935, consegue convencer seus pais a seguir turnê com sua companhia e a atuarem como atores. Até 1945, a "Troupe Mazzaropi" percorreu muitos municípios do interior de São Paulo. Com a morte da avó materna, dona Maria Pita Ferreira, Mazzaropi recebe uma herança suficiente para comprar um telhado de zinco para seu pavilhão, podendo assim estrear na capital, com suas atuações sendo elogiadas por jornais paulistanos. Depois, partiu com a companhia em turnê pelo Vale do Paraíba. Infelizmente, a grave situação de saúde de seu pai complicou a situação financeira da companhia de teatro (em 8 de novembro de 1944 faleceu Bernardo Mazzaropi). Dias após a morte de seu pai, estreou no Teatro Oberdan ao lado de Nino Nello, sendo ator e diretor da peça "Filho de Sapateiro".
Convidado por Abílio Pereira de Almeida e Franco Zampari, Mazzaropi estreia seu primeiro filme, intitulado "Sai da Frente", em 1952, rodado pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Diante das dificuldades financeiras da Vera Cruz, Mazzaropi fez, até 1958, mais cinco filmes por outras produtoras. Naquele mesmo ano, vende sua casa e cria a PAM Filmes (Produções Amácio Mazzaropi) e passa não só a produzir, mas distribuir seus filmes em todo o Brasil. O primeiro filme da nova produtora foi "Chofer de Praça".
Em 1959 é convidado por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o "Boni", na época na TV Excelsior de São Paulo, a fazer um programa de variedades que fica no ar até 1962. Neste mesmo ano começa a produzir um de seus filmes mais famosos, "Jeca Tatu".
Em 1961, Mazzaropi adquire uma fazenda onde inicia a construção de seu primeiro estúdio de gravação, que produziria seu primeiro filme em cores, "Tristeza do Jeca", que foi também seu primeiro filme veiculado na televisão pela Excelsior, ganhando os prêmios de melhor ator coadjuvante (Genésio Arruda) e melhor canção.
Cinco anos mais tarde, lança o filme "O Corintiano", recorde de bilheteria do cinema nacional. Em 1972 é recebido pelo então presidente da República, o general Emílio Garrastazu Médici, a quem pede mais apoio ao cinema brasileiro. Em 1973, produz "Portugal, minha saudade", com cenas gravadas no Brasil e em Portugal.
No ano seguinte, começa a construir em Taubaté um grande estúdio cinematográfico, uma oficina de cenografia e um hotel para os atores e técnicos (é neste local que hoje ficam o Hotel Fazenda e as instalações do Museu Mazzaropi). A partir de então, produz e distribui mais cinco filmes até 1979.
Seu 33º filme, "Maria Tomba Homem", nunca seria terminado. Depois de 26 dias internado, Mazzaropi morre, vítima de um câncer na medula óssea aos 69 anos de idade, no hospital Albert Einstein, em São Paulo. É enterrado na cidade de Pindamonhangaba (SP), no mesmo cemitério onde seu pai já repousava. Nunca se casou, mas, segundo declarações de pessoas próximas, nutriu durante a vida um amor “platônico” pela apresentadora e amiga Hebe Camargo.
Museu Mazzaropi: na zona rural da cidade, a uns 20 minutos da Rodovia Presidente Dutra, foi inaugurado no ano 2010 o Museu Mazzaropi. O local não resgata somente lembranças pelo fato de ser um museu com mais de 20 mil peças, mas sim, por ser exatamente o lugar onde Mazzaropi filmou grandes sucessos de bilheterias. É o mesmo chão em que esteve/atuou/dirigiu/sonhou um dos maiores comediantes do cinema nacional.
No museu pode-se ver os equipamentos utilizados nas filmagens, tanto para produção, quanto para exibição dos filmes, como os projetores, uma moviola (equipamento utilizado para realizar edições das imagens), os rolos dos filmes, o microfone, a filmadora etc. Eram equipamentos importados e inéditos no cinema nacional. Alguns pertenciam à Vera Cruz, que foi a produtora onde ele começou no cinema. Há painéis que contam toda sua trajetória artística e de vida, desde o nascimento, em 9 de abril de 1912, até a morte, em 13 de junho de 1981.
As paredes do museu mostram que o seu auge como artista começou aos 40 anos, quando iniciou a carreira no rádio, seguido pela televisão e terminando no cinema, especialmente na Vera Cruz e na PAM Filmes. No museu, é possível recordar que, depois da Vera Cruz, o humorista trabalhou para outras companhias, mas em 1958 criou sua própria produtora, a "Produções Amácio Mazzaropi", mais conhecida como PAM Filmes, responsável por produzir 24 dos seus filmes (quase um por ano) e sempre com o lucro do filme anterior, criando assim a indústria do cinema.
Todo o acervo do museu vem sendo acumulado desde o ano de 1992. O Instituto Mazzaropi, com o intuito de recolher, colecionar e fazer um museu, começou a receber pessoas que traziam objetos. Eram móveis que Mazzaropi comprava para fazer as filmagens ou de sua casa que também poderia utilizar para as filmagens, objetos, figurino, etc. A intenção era preservar essa história, também podendo ser considerado uma espécie de turismo cultural, um verdadeiro resgate para as novas gerações.
O Museu Mazzaropi foi criado por João Roman Júnior (já falecido) como forma de homenagear seu velho amigo. A amizade nasceu nas serestas em São Luiz do Paraitinga, com o compositor Elpídio dos Santos, criador das músicas para os filmes de Mazzaropi e o maestro Fêgo Camargo, pai de Hebe Camargo.
Nessa época, ninguém podia imaginar que João Roman Junior acabaria comprando, anos depois da morte de Mazzaropi, o complexo que incluía os estúdios da PAM Filmes, onde hoje existe o Hotel Fazenda Mazzaropi.
O Museu revive o patrimônio cultural de Mazzaropi e contribui para a atratividade turística e cultural da região.
Os filhos de João Roman Júnior estão dando continuidade ao trabalho de resgate e divulgação da obra de Mazzaropi, acreditando na importância da preservação da memória deste inesquecível personagem do cinema brasileiro.
Filmografia:
1952 – Sai da Frente
1952 – Nadando em Dinheiro
1954 – Candinho
1955 – A Carrocinha
1956 – Fuzileiro do Amor
1956 – O Gato de Madame
1956 – Chico Fumaça
1957 – O Noivo da Girafa
1958 – Chofer de Praça
1959 – Jeca Tatu
1959 – As Aventuras de Pedro Malasartes
1960 – Zé do Periquito
1961 – Tristeza do Jeca
1961 – O Vendedor de Linguiça
1962 – Casinha Pequenina
1963 – O Lamparina
1964 – Meu Japão Brasileiro
1965 – O Puritano da Rua Augusta
1966 – O Corintiano
1967 – O Jeca e a Freira
1969 – No Paraíso das Solteironas
1969 – Uma Pistola para Djeca
1970 – Betão Ronca Ferro
1972 – O Grande Xerife
1973 – Um Caipira em Bariloche
1973 – Portugal… Minha Saudade
1974 – O Jeca Macumbeiro
1975 – Jeca contra o Capeta
1977 – Jecão, um Fofoqueiro no céu
1978 – O Jeca e seu filho preto
1979 – A Banda das Velhas Virgens
1980 – O Jeca e a Égua Milagrosa
Maria Tomba Homem (não concluído)
Filmografia:
1952 – Sai da Frente
1952 – Nadando em Dinheiro
1954 – Candinho
1955 – A Carrocinha
1956 – Fuzileiro do Amor
1956 – O Gato de Madame
1956 – Chico Fumaça
1957 – O Noivo da Girafa
1958 – Chofer de Praça
1959 – Jeca Tatu
1959 – As Aventuras de Pedro Malasartes
1960 – Zé do Periquito
1961 – Tristeza do Jeca
1961 – O Vendedor de Linguiça
1962 – Casinha Pequenina
1963 – O Lamparina
1964 – Meu Japão Brasileiro
1965 – O Puritano da Rua Augusta
1966 – O Corintiano
1967 – O Jeca e a Freira
1969 – No Paraíso das Solteironas
1969 – Uma Pistola para Djeca
1970 – Betão Ronca Ferro
1972 – O Grande Xerife
1973 – Um Caipira em Bariloche
1973 – Portugal… Minha Saudade
1974 – O Jeca Macumbeiro
1975 – Jeca contra o Capeta
1977 – Jecão, um Fofoqueiro no céu
1978 – O Jeca e seu filho preto
1979 – A Banda das Velhas Virgens
1980 – O Jeca e a Égua Milagrosa
Maria Tomba Homem (não concluído)
Nenhum comentário:
Postar um comentário