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terça-feira, 1 de agosto de 2023
Ponte Raul Veiga, Santo Antônio de Pádua, Rio de Janeiro, Brasil
Ponte Raul Veiga, Santo Antônio de Pádua, Rio de Janeiro, Brasil
Santo Antônio de Pádua - RJ
Foto Gemino
Fotografia - Cartão Postal
Vista da Ponte Raul Veiga, também conhecida popularmente como Ponte Velha ou Ponte de Arco.
A ponte Raul Veiga é, certamente, o mais simbólico patrimônio histórico e cultural de Santo Antônio de Pádua. A bela ponte está presente em muitos materiais visuais da divulgação do município e de eventos que ocorrem na cidade. Não há cartão postal no qual seu formato não esteja retratado, nem referência à cidade na qual ela não seja citada.
De acordo com o historiador Ramon Mulin Lopes, antes da construção da “ponte velha” em 1922, existia ali sobre o Rio Pomba uma ponte de madeira que fora construída no período em que Alfredo Augusto Guimarães Backer ocupou a presidência do Estado do Rio de Janeiro (1906-1910). As anuais enchentes do município acabaram por colocar em xeque a confiabilidade daquela ponte, mais especificamente no ano de 1917.
Cabe aqui assinalar, a título de curiosidade, que durante o início do período republicano foram mantidos os títulos de “presidentes” para aqueles que administravam os estados. Somente após a promulgação da Constituição de 1946 durante o Estado Novo no período varguista (nome dado ao período de governo de Getúlio Vargas) que a terminologia foi alterada para “governador”, título utilizado até os dias de hoje.
Durante uma visita em 1916 do então presidente do estado, Nilo Peçanha, ao município, a população clamou por uma ponte sólida, todavia, nenhuma atitude foi tomada.
O projeto se iniciou apenas na presidência de Raul Moraes Veiga (1918-1922). Cabe ressaltar que a substituição das pontes de madeira fazia parte do plano de governo da época, tal atitude foi tomada em diversos municípios do estado do Rio de Janeiro.
A ponte foi construída de concreto armado constituída de seis tramos em viga Vierendeel de 29,5 m de vão em um espetacular e assustador prazo de apenas cinco meses, mais especificamente no segundo semestre do ano de 1922. O excelente trabalho é resultado do minucioso estudo do Engenheiro do Estado Felippe dos Santos Reis e pelo rápido e eficiente trabalho da firma “Christiani & Nielsen” na época. A ponte totaliza de uma ponta a outra 177 metros de comprimento.
Durante todo o decurso da obra, o cotidiano da cidade se alterou. Além dos trabalhadores enviados pela firma Christiani & Nielsen, muita gente da cidade foi contratada. Para a parte submersa das pilastras, foi utilizada uma moderna técnica para a época, no qual um operário (mergulhador escafandrista) ficava mergulhado no rio e “o ar entrava na roupa, enviado por um fole tocado à manivela”.
Durante o tempo que durou a construção, o movimento da cidade se intensificou, aumentado não só pelos operários que ali trabalhavam, como pela vinda […] [de aproximadamente] 100 soldados […]. Os açougues, que matavam um boi por semana, passaram a matar quatro ou cinco. As padarias aumentaram a produção em quatro vezes mais e o comércio, em geral, ampliou as vendas devido ao consumo, principalmente de alimentos.
Na data de inauguração da Ponte, a cidade amanheceu em festa. As bandas musicais, Lyra de Arion e Lira Euterpe Paduense, em alvorada, acordaram os felizes paduanos. Os festejos prosseguiram com a recepção do Presidente do Estado, chegando em trem especial, ao som das bandas de música e muitos fogos, seguindo acompanhado do povo, ao centro da cidade para assistir, na antiga Matriz de Santo Antônio de Pádua, à Missa em Ação de Graças. Depois de um descanso do Presidente, houve um coquetel na ponte. Antes de se servir o coquetel, foi descerrada, sob aplausos, música e fogos, a placa de bronze colocada na primeira viga do primeiro arco da entrada, à margem esquerda, com a data da inauguração e o nome da ponte. Era o agradecimento eterno do povo paduano por aquela dádiva tão útil quanto linda, a ponte em arcos que daria para sempre a Pádua a beleza de cartão postal. Os seis arcos foram enfeitados com arcos de bambu gigantes de um lado ao outro por cima do piso e bandeirinhas de papel colorido em diversas cores. No centro do piso dos primeiros vãos, na entrada pela margem esquerda, foi montada com cavaletes uma mesa enorme coberta de toalhas brancas, com jarras de flores. Nesta mesa foi servido o coquetel com muitos salgados, regado a vinho e cerveja. O brinde foi dado com Champagne. Depois do banquete no Hotel Braga, à tarde, o presidente voltou à capital, Niterói. E à noite, também no Hotel Braga, fechando os festejos, daquele dia memorável, houve um grandioso baile.
A maioria dos memorialistas de Santo Antônio de Pádua defende o dia de 12 de outubro de 1922 como a data da inauguração da ponte, com a presença de Raul Veiga. Esta é a mesma data que está na placa ainda presente na ponte, No entanto, o jornal Correio da Manhã, diz que apenas em novembro o presidente do Estado realizou a inauguração. Temos como hipótese que em outubro a ponte foi efetivamente entregue à cidade, com sua obra concluída, mas a inauguração oficial só ocorreu no mês seguinte, como apontou a imprensa da época.
"O Dr. Raul Veiga, presidente do Estado do Rio de Janeiro, designou o dia 4 de novembro próximo para inaugurar o edifício da Escola Profissional Feminina, da cidade de Campos, a ponte de cimento armado sobre o rio Pomba, na cidade de Santo Antônio de Pádua, e bem assim o Grupo Escolar Dr. Francisco Portela, em Natividade, no município de Itaperuna, e o Grupo Escolar da cidade de São João da Barra" – publicou o jornal Correio da Manhã no dia 06 de outubro de 1922.
Oswaldo Ribeiro, outro memorialista da cidade, nos dá mais informações relevantes sobre este grandioso evento. Diz esse autor que não só a obra, mas o que ele [Raul Veiga] dizia no dia da inauguração tornou o evento memorável. Sobre os festejos, cotejando as diversas memórias, fica evidente uma segregação. Enquanto a população em geral participou da recepção a Raul Veiga e da missa, os banquetes e brindes ficaram restritos a um verdadeiro desfile de personalidades da sociedade de Pádua, já que o baile foi oferecido pelo presidente do Paço Municipal e seus componentes.
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