Alfa Romeo 2300 TI 4, Brasil
Fotografia
Quando o Alfa Romeo 2300 foi lançado, o
espírito do cuore sportivo já estava entre nós havia bem mais de uma década. No
início como JK e depois identificados como FNM e Timb, os “Alfa” nacionais já
rodavam por aqui desde 1960. Mas coube ao modelo 2300, em 1974, a primazia de
usar o sobrenome da família. Projetado exclusivamente para o mercado brasileiro
e derivado da Alfetta italiana, era um FNM aperfeiçoado que mantinha
características atávicas: um carro com sabor esportivo que estabelecia boa
comunicação com o motorista e era capaz de manter altas velocidades de cruzeiro
por longos períodos.
E, pelo
requinte dos materiais empregados, pela generosidade de equipamentos e,
principalmente, pelo preço, rivalizava com pesos pesados da época: o Dodge e o
Galaxie. Tinha como atrativos um generoso porta-malas e um inédito tanque de
gasolina com capacidade para 100 litros. Numa época de plena crise do petróleo,
em que os postos fechavam à noite e aos domingos, sua autonomia foi forte
argumento de venda.
Se por um lado o Alfa oferecia a
possibilidade de uma tocada mais esportiva graças à suspensão firme e ao
preciso sistema de direção, perdia para a concorrência em silêncio e maciez ao
rodar. Problemas de ajustes e de fragilidade de algumas peças também pesavam
contra e iam para a conta da obsoleta linha de montagem FNM. É verdade que
foram, em parte, sanados quando a Fiat assumiu a marca no Brasil e o carro
passou a ser produzido em Betim, em 1977.
Nesse ano, a linha Alfa ganhou mais duas versões: a 2300B, que tinha
carburação quádrupla, e a ti, topo de linha. A direção hidráulica, que não era
oferecida sequer como opcional, virou item de série em 1980, ano em que a ti
ganhou o 4 no nome. E, talvez para compensar o atraso, já veio progressiva.
O ambiente instigante da cabine e o ronco áspero do motor – este, aliás,
um dos sinais do pedigree do 2300 – não chegavam a fazer do nosso Alfa um
legítimo Gran Turismo (GT). Os 140 cavalos originais (que passaram a 149 com a
mudança na carburação) fornecidos pelo motor de quatro cilindros em linha, com
duplo comando de válvulas no cabeçote, tinham lá seus limites. Mas o câmbio de
cinco marchas, bem “trabalhado” pelo motorista, proporcionava agilidade ao
conjunto de quase 1500 quilos. Para parar com eficiência, o Alfa contava com
freios a disco nas quatro rodas, mais um avanço por aqui.
O Alfa 2300 ti 4 cor preto Etna que você vê nesta reportagem é um modelo
86, a última safra do carro. Pertence a Michael Swoboda – proprietário também
de dois JK, um 60 e outro 61. Mas é seu filho Leandro, de 28 anos, quem adotou
o ti 4 e o usa para passeios. Tem como equipamentos originais espelhos, vidros
e travas elétricas, além de abertura automática de porta-malas e tampa de
gasolina. É semelhante ao modelo testado na edição de novembro de 1984 de
QUATRO RODAS e que estabeleceu marcas de 166 km/h de velocidade máxima e
acelerou de 0 a 100 km/h em 13,9 segundos, números que não chegaram a
entusiasmar. Ao contrário de sua tradicional estabilidade, que mereceu elogios
e ainda hoje é capaz de animar quem gosta de pilotar esportivamente.
Acostumando-se com as dimensões do carro e com as manhas do câmbio, garanto que
fica difícil descolar o pé do acelerador.
Em 1977 um
lote de Alfa 2300 chegou a ser exportado para Alemanha e Holanda como Alfa Romeo
Rio. Razões que só a burocracia explica retiveram os carros por um longo
período no porto, o que prejudicou a transação. Mas, se não foi um sucesso
comercial, em termos de imagem essa operação rendeu dividendos. Anúncios
publicados nas revistas brasileiras davam conta que os alemães haviam
descoberto que o “Alfa 2300 não fica devendo nada aos BMW e Mercedes em
conforto e acabamento”. E ainda tinha “desempenho de assustar Porsche”.
Em meados dos anos 1980, pelo valor pago por
um Alfa ti 4 era possível comprar quase dois VW Santana. Com a aposentadoria
dos seus rivais Dodge e Galaxie, o Alfa passou a ser, disparado, o carro
nacional mais caro. E isso não combinava com seus evidentes sinais de
envelhecimento. Ao todo, foram produzidas 29.564 unidades.




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