O "Falso Histórico" do Pátio do Colégio, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia
O Pátio do Colégio, local do antigo colégio jesuíta que
deu origem ao povoamento que resultou na cidade de São Paulo, bem pertinho
da Praça da Sé, é um dos lugares mais frequentados por estudantes e
turistas em seus passeios pelo centro histórico de São Paulo.
O que muita gente não sabe é que a construção de paredes
branquinhas que impressiona os turistas não é remanescente do século 16, quando
os jesuítas subiram a Serra do Mar para se estabelecer no planalto.
Quase nada sobrou do prédio erguido naquela época, e a
construção que vemos hoje foi edificada nos anos 1950 e 1970. O prédio,
supostamente semelhante ao edifício que havia originalmente naquele local, é
considerado pelos especialistas um “falso histórico”. Ou seja, um prédio que
parece histórico, mas na verdade foi construído em época recente, copiando o
prédio antigo. Não por acaso, o projeto despertou polêmica na ocasião e teve a
oposição do Condephaat, órgão responsável por zelar pelo patrimônio
histórico do Estado. O órgão argumentava que a reconstrução iria encobrir o
sítio arqueológico do local, prejudicando um local de valor histórico.
O Blog do DPH, Departamento de Patrimônio Histórico, órgão
da Prefeitura Municipal, é quem conta esta história.
É difícil hoje imaginar que a metrópole de São Paulo já foi uma
pequena vila. Piratininga, como era chamada, foi fundada pelos portugueses que,
a partir da região em que hoje é Santos, abriram caminho serra acima até o
planalto.
O marco inicial do surgimento da cidade foi o Colégio,
construído pelos Jesuítas no topo de uma colina em 1554. Hoje, é atração
turística e pode ser visitado, mas o que conhecemos dele é uma réplica.
Os Jesuítas foram expulsos de São Paulo em duas ocasiões.
A primeira, em 1640, por defenderem a liberdade dos índios, e a segunda em
1760, após serem acusados de conspirar contra o rei de Portugal. Isso fez
com que o Colégio fosse entregue à Coroa Portuguesa, que instalou ali o governo
de São Paulo, permanecendo no local até 1912. Ainda no final do século 19 a
fachada do conjunto foi reformada.
A Igreja do Bom Jesus, parte do conjunto do Pátio do Colégio,
não foi alterada pelas reformas, mas foi interditada em 1891,
pelas más condições de suas estruturas. A demolição do prédio foi
autorizada e concluída em 1896, depois do desabamento do teto durante uma
tempestade.
No ano de 1954, quando era comemorado o IV Centenário de São
Paulo, toda a edificação foi demolida e o terreno cedido aos Jesuítas
novamente, que iniciaram um projeto de reconstrução do edifício do colégio, e
em 1976 o da Igreja do Bom Jesus.
A reconstrução das estruturas do Pátio do Colégio
despertou uma polêmica. Os apoiadores do projeto discutiam a importância do local
como um monumento histórico da fundação da cidade, assim como da manifestação
religiosa católica.
Na época houve a oposição do Condephaat, baseada no
argumento de que nenhuma réplica ou simulacro teria o valor histórico
da obra original. Na visão do órgão, a reconstrução do Colégio, além de
causar danos irreversíveis ao patrimônio, também constituiria um “falso
histórico”, conceito que surgiu na virada dos Séculos 19 e 20 e foi
retomado no livro “Teoria da Restauração”, do arquiteto italiano Cesare Brandi.
O chamado “falso histórico” ocorre quando são realizadas
intervenções, reformas ou reconstruções que alterem traços característicos
de um patrimônio.
Em 1975, o Condephaat solicitou o tombamento do local como
sítio arqueológico, devido à presença de dois elementos originais de sua
fundação: uma parede de taipa de pilão e a fundação de pedra da antiga igreja,
ambos tombados pelo Conpresp em 2015.
Dois anos depois, em 1977, o Condephaat emitiu um segundo
parecer, no qual afirmava que nenhuma reconstrução ou réplica deveria ser
sobreposta à obra original, tirando dela o seu valor histórico. Apesar do
parecer técnico, o projeto de reconstrução foi executado.
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