O Renascimento da Puma, Brasil
Artigo
“Nas pistas nascemos, pelas pistas
voltaremos!”. Estamos acostumados com os carros esportivos norte-americanos,
europeus e asiáticos, mas uma marca brasileira está marcada no imaginário de
muitos entusiastas em esportividade, e é a dona do slogan acima, a Puma.
A marca foi fundada em 25 de agosto de
1963, mas ela não carregava o nome do felino, era Sociedade de Automóveis
Lumimari Ltda, um acrônimo formado pelas duas primeiras letras do nome de seus
criadores— Luiz Roberto Alves da Costa, Milton Masteguin, Mário César
“Marinho” de Camargo Filho e Rino Malzoni.
O primeiro projeto saiu de um galpão
dentro de uma fazenda na pequena cidade de Matão, interior de São Paulo, pelas
mãos do italiano Genaro “Rino” Malzoni. Ele desenvolveu o protótipo e teve o apoio
da Vemag (Veículos e Máquinas Agrícolas S.A), que forneceu chassis e mecânica,
pois queria um modelo para fazer frente ao Interlagos, da Willys – versão
brasileira do Renault Alpine A108 –, que em 1963 saiu vitorioso em vários
eventos.
Então naquele mesmo ano foi criado o GT
Malzoni, um carro de 720 kg com mecânica DKW-Vemag, composto por um motor
3-cilindros, 1.089 cm — o de série era 981cc, que gerava 106 cv de potência. A
estreia nas pistas foi no Grande Prêmio das Américas, em 1964 em Interlagos, e
virou um fenômeno, vencendo cinco corridas posteriores. O esportivo desbancou o
já consagrado Willys Interlagos. Ao todo foram produzidas 15 unidades para as
pistas.
O nome de Lumimari virou Puma só dois
anos depois, mais precisamente no dia 12 de novembro de 1966. “No começo eu
fiquei curioso para saber o motivo de ter trocado o nome de
Lumimari para Puma. Então me contaram que um dia todos os donos se reuniram e o
novo sócio, Jorge Lettry, recém-saído da Vemag, onde era o chefe do departamento
de competições, disse que Lumimari parecia nome de loja de lustres. Foi então
que veio a mudança para Puma, por sugestão do Lettry”, explica Antônio Carlos
Hernandez, o Toninho, diretor comercial da Puma Automóveis.
A mudança veio quando a marca já
produzia um modelo para as ruas, e o nome Puma, especificamente, veio por
causa do felino que habita as Américas e que no Brasil é tido como “O Rei da
Montanha”. A Puma Veículos e Motores Ltda tinha sede na Avenida Presidente
Wilson, na zona leste de São Paulo. Em 1967 a pequena fabricante passou a
produzir o Puma GT, maior e de linhas mais fluidas, enquanto a Vemag, absorvida
um ano antes pela Volkswagen, fabricava o DKW.
Ao todo foram vendidos 170 modelos com
base mecânica DKW, enquanto a Puma preparava um novo GT com mecânica
Volkswagen, surgindo em abril de 1968 o Puma GT 1500. Feito sobre o chassi do
Karmann-Ghia, com motor 1.5-L, o mesmo do esportivo VW, dotado de dois
carburadores e escapamento especial, capaz de fazer o carro chegar a 150 km/h,
o que era impressionante para a época.
Daí em diante vários modelos icônicos
surgiram, como Puma GT 1600, Puma GT 4R, Puma GTE. No lançamento do GTB, em
1974, a marca começou a usar motor e transmissão Chevrolet, no caso o 3.8-L de
6 cilindros do Opala. Teve épocas que a marca vendia mais de 500 modelos por
mês, mas em 1985, após um período de dificuldades financeiras, a Puma teve a
falência decretada.
A massa falida foi adquirida pela
empresa de Curitiba, Araucária S.A., que no ano seguinte produziu pouco mais
de 22 GTB, sob nome Asa GTB com motor 4,1-litros e mais algumas carrocerias do
cupê GTC em forma de kit. Sem conseguir sucesso, a Araucária foi vendida para
a empresa curitibana do ramo de autopeças, Alfa Metais. Esta rebatizou o
último Puma Chevrolet de AMV e lançou os Pumas renomeados AM1 (cupê) e AM2
(conversível), que em 1989 receberam motor AP-1600 arrefecido a água e
renomeado AM3. O caminhão Puma 4T também foi relançado. A Alfa Metais existiu
até 1996, quando seu sócio-presidente, Níveo de Lima, faleceu num acidente de
carro.
A Puma Veículos e Motores fechou por diversos
motivos, como conta Marino Baldocchi, que trabalhou na marca durante quase 10
anos como engenheiro e designer. “A fábrica da Presidente Wilson tinha muitas
enchentes, e tínhamos até comportas, para evitar que água entrasse, mas nem
sempre elas aguentavam. Além disso, alguns incêndios também aconteceram”,
conta. “Exportávamos carros para vários países como Canadá, Estados Unidos,
Japão, Emirados Árabes e vários lugares da Europa, principalmente. Em uma
dessas exportações, para o Kuwait, no Oriente Médio, quase 30 carros foram
perdidos em uma enchente, aquilo foi muito doloroso”, conta Baldocchi.
Desde então, uma legião de fãs vive na
saudade da maior marca de esportivos que o Brasil já teve, vendendo mais de 22
mil carros. Mas o ponto final não aconteceu. Nós tivemos acesso exclusivo às
informações do novo Puma.
Em 2013, foi criada por Fernando Mesquita
e Reginaldo Galafazzia, dois entusiastas da marca, a empresa Mesgaferre Ltda. —
combinação de Mesquita (Mes), Galafazzi (Ga), Fernando (Fer) e Reginaldo (Re),
como o nome Lumimari fora formado. A ideia foi resgatar e fazer a nova Puma.
“A Mesgaferre foi criada dia 25 de
agosto de 2013, exatamente cinquenta anos depois da criação da Lumimari. E no
dia 12 de novembro de 2016, fizemos a transição de Mesgaferre para Puma
Automóveis, ou seja, exatos cinquenta anos depois da mudança da Lumimari para
Puma Veículos e Motores Ltda”. Quem conta isso é ninguém menos que Luiz Costa,
filho de Luiz Roberto Alves da Costa o “Lu”, da Lumimari, um dos fundadores da
marca.
Para essa nova fase da Puma, dez modelos
estão sendo produzidos, a princípio com o nome Puma GT Lumimari, em homenagem
aos primórdios da marca. O modelo terá motorização 2.4 da Chevrolet, ou o 1.4
TSI da Volkswagen. O primeiro modelo será entregue no dia 15 de julho deste
ano, e curiosamente, esse primeiro carro da nova era será de César Quintanilla,
que acabou de comprar o último carro produzido pela Alfa Metais, um AMV 1989,
que estava em Fortaleza, no Ceará, com 34 mil km e único dono. Então ele terá o
último da era antiga e o primeiro da nova era.
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