Vista Parcial do Centro, São Paulo, Brasil - Werner Haberkorn
São Paulo - SP
Fotografia
Na imagem nota-se três construções da cidade de São Paulo: Edifício
do Claridge Hotel, Companhia Paulista de Seguros e Gulf Oil.
Sabe-se que, na época, as três marcas identificadas eram
extremamente relevantes no âmbito nacional e, principalmente, no cenário
paulista. Por conta disso, entende-se a motivação de Werner Haberkorn ao
escolher como recorte para esta fotografia um ângulo que mostrasse as três e,
ao mesmo tempo, permitisse ao observador se localizar no mapa da cidade. Apesar
de somente o Claridge Hotel possuir seu anúncio voltado diretamente para a
lente da câmera, a intenção do fotógrafo ao capturar o retrato era a de mostrar
que, ainda que de costas ou de lado, tanto a Gulf Oil quanto a Companhia
Paulista de Seguros possuíam tanta importância que poderiam ser reconhecidas de
longe, ressaltando novamente o quão importantes todas eram para a capital
paulista.
Além disso, o momento vivido por São Paulo era o de expansão da
malha automobilística, com o alargamento de ruas e avenidas para comportar o
crescente fluxo de automóveis que passaram a tomar conta da capital paulista,
algo exaustivamente registrado por Haberkorn em sua coleção de fotos sobre a
cidade. Dessa maneira, percebe-se que, as marcas presentes na foto,
principalmente a Gulf Oil, produtora e distribuidora de petróleo, item
essencial tanto para o funcionamento quanto para a construção dos automóveis, e
a Companhia Paulista de Seguros, empresa vendedora de seguros, que certamente
possuía assegurados proprietários desse tipo de veículo, levam, sutilmente, o
espectador a pensar sobre o que se passava no Brasil no ano em que a foto foi
tirada e como aqueles acontecimentos eram importantes para o país.
Aliado a isso, ao mesmo tempo em que expõe todo o poder dos
prédios e como a verticalização expandiu-se no curto período de tempo entre as
décadas de 1950 e 1960, Haberkorn ainda mostra, segundo o texto “A cultura
metropolitana nas fotografias de Werner Haberkorn”, de Solange Ferraz de Lima,
“a intensificação da verticalização, a expansão para periferia e uma
reestruturação da centralidade”. Na foto, percebe-se este fato claramente, uma
vez que a rua, antes dominada por casas e edificações térreas, cede lugar aos
altos e enormes edifícios, que passaram a figurar, desde aquela época, como as
estrelas principais da terra da garoa.
Finalmente, a imagem registrada por Haberkorn ainda desperta no
espectador a curiosidade de procurar saber mais sobre o período em que foi
produzida e o leva a interagir com ela, exatamente como o livro “Como pensam as
imagens”, de Etienne Samain, explicita “[…] Ela é a eclosão de significações, num
fluxo contínuo de pensamentos. É por essa razão que a imagem pode-se tornar,
então, uma fulgurância numa noite profunda, um clarão, a aparição de uma
espécie fantasmal esquecida, mas que, de repente, se desvela por um curto
instante, se revela, nos lembra o tempo das existências humanas e de suas
memórias, o tempo das sociedades e de suas culturas. O tempo das imagens é um
pouco como o tempo dos rios e das nuvens: rola, corre, murmura, quando não se
cala”. A imagem, portanto, é tanto um portal para o passado quanto uma carona
para o futuro.

Nenhum comentário:
Postar um comentário