domingo, 8 de março de 2020

Vista Parcial do Centro, São Paulo, Brasil - Werner Haberkorn


Vista Parcial do Centro, São Paulo, Brasil - Werner Haberkorn
São Paulo - SP
Fotografia

Na imagem nota-se três construções da cidade de São Paulo: Edifício do Claridge Hotel, Companhia Paulista de Seguros e Gulf Oil.
Sabe-se que, na época, as três marcas identificadas eram extremamente relevantes no âmbito nacional e, principalmente, no cenário paulista. Por conta disso, entende-se a motivação de Werner Haberkorn ao escolher como recorte para esta fotografia um ângulo que mostrasse as três e, ao mesmo tempo, permitisse ao observador se localizar no mapa da cidade. Apesar de somente o Claridge Hotel possuir seu anúncio voltado diretamente para a lente da câmera, a intenção do fotógrafo ao capturar o retrato era a de mostrar que, ainda que de costas ou de lado, tanto a Gulf Oil quanto a Companhia Paulista de Seguros possuíam tanta importância que poderiam ser reconhecidas de longe, ressaltando novamente o quão importantes todas eram para a capital paulista.
Além disso, o momento vivido por São Paulo era o de expansão da malha automobilística, com o alargamento de ruas e avenidas para comportar o crescente fluxo de automóveis que passaram a tomar conta da capital paulista, algo exaustivamente registrado por Haberkorn em sua coleção de fotos sobre a cidade. Dessa maneira, percebe-se que, as marcas presentes na foto, principalmente a Gulf Oil, produtora e distribuidora de petróleo, item essencial tanto para o funcionamento quanto para a construção dos automóveis, e a Companhia Paulista de Seguros, empresa vendedora de seguros, que certamente possuía assegurados proprietários desse tipo de veículo, levam, sutilmente, o espectador a pensar sobre o que se passava no Brasil no ano em que a foto foi tirada e como aqueles acontecimentos eram importantes para o país.
Aliado a isso, ao mesmo tempo em que expõe todo o poder dos prédios e como a verticalização expandiu-se no curto período de tempo entre as décadas de 1950 e 1960, Haberkorn ainda mostra, segundo o texto “A cultura metropolitana nas fotografias de Werner Haberkorn”, de Solange Ferraz de Lima, “a intensificação da verticalização, a expansão para periferia e uma reestruturação da centralidade”. Na foto, percebe-se este fato claramente, uma vez que a rua, antes dominada por casas e edificações térreas, cede lugar aos altos e enormes edifícios, que passaram a figurar, desde aquela época, como as estrelas principais da terra da garoa.
Finalmente, a imagem registrada por Haberkorn ainda desperta no espectador a curiosidade de procurar saber mais sobre o período em que foi produzida e o leva a interagir com ela, exatamente como o livro “Como pensam as imagens”, de Etienne Samain, explicita “[…] Ela é a eclosão de significações, num fluxo contínuo de pensamentos. É por essa razão que a imagem pode-se tornar, então, uma fulgurância numa noite profunda, um clarão, a aparição de uma espécie fantasmal esquecida, mas que, de repente, se desvela por um curto instante, se revela, nos lembra o tempo das existências humanas e de suas memórias, o tempo das sociedades e de suas culturas. O tempo das imagens é um pouco como o tempo dos rios e das nuvens: rola, corre, murmura, quando não se cala”. A imagem, portanto, é tanto um portal para o passado quanto uma carona para o futuro.

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