Frente e verso de um antigo imposto predial de São Paulo, emitido em 1929.
Antigo boleto de conta de água e esgotos emitido em 1919.
São Paulo - SP
Artigo
Com tanta tecnologia que vemos hoje, fica até difícil imaginar que contas de consumo sempre existiram e nunca deixaram de ser cobradas.
Hoje o consumo de água é medido por satélite – ou o funcionário da empresa lê o relógio e a conta é emitida na hora – a conta de energia, assim como outras, é debitada na conta corrente do banco ou paga por aplicativo. Assim estamos acostumados ou nos acostumando.
O fato é que a cobrança sempre existiu, mas de forma muito diferente em um tempo onde, aparentemente, o dia tinha mais horas do que hoje. Interessante, pois tudo é feito para ganharmos tempo e, cada vez mais, temos menos tempo… É para pensar.
Num lote de antigos documentos foi possível encontrar a memória destes tempos passados, onde, por exemplo, o imposto predial (IPTU) era cobrado juntamente com a Taxa de Esgottos (sic) e a linguagem de cobrança era, digamos, delicada, pois dizia que o morador “…foi contemplado no lançamento para pagamento do imposto…”. Ser contemplado dá a impressão de sorteio, de ganho, mas não era este o caso. O morador recebia o aviso de cobrança e tinha a obrigação de enviar a cobrança “…sem perda de tempo…” para o dono do imóvel que tinha 20 dias para contestar a cobrança.
Outra característica da época era a falta de muitos locais, não só para pagar, mas para fazer pedidos e reclamações. A repartição de Águas e Esgotos, dos “Serviços de Aguas da Capital” funcionava na Rua da Conceição, 117, das 7 às 16 horas nos dias úteis e lá deveriam ser tratados todos os assuntos relativos aos serviços de águas.
Em meados da década de 1950 os bancos começaram a receber as contas de consumo, mas o número de agências não era grande e nem todos os consumidores tinham conta em banco.
Imagine você indo pagar suas contas, cada uma em um lugar diferente. A “The San Paulo Gas Company, Limited” recebia as contas na Rua do Carmo, 3 e, pelo menos, trabalhava e recebia também aos sábados até às 13 horas. Esta empresa oferecia gratuitamente a regulagem dos queimadores de aquecedores e fogões para que o consumidor tivesse o melhor aproveitamento possível de seus aparelhos a gás.
E a energia elétrica? Esta era fornecida pela canadense “The São Paulo Tramway, Light & Power Co., Ltd.”, popularmente conhecida como Light, que, além da energia elétrica, administrava o serviço de bondes da cidade.
O prazo de pagamento era de até 10 dias após o recebimento da conta e esta deveria ser paga nos guichês da companhia nas agências mantidas no Brás (Av. Celso Garcia, 18-A atual 158), Campos Elíseos (Alameda Glete,63), Vila Mariana (Rua Domingos de Morais, 207) ou no escritório central na Rua Xavier de Toledo, 1. As contas em atraso só poderiam ser pagas no escritório central, assim como serem feitas as reclamações. Se você não sabia, o atual Shopping Light tem seu nome relacionado a história do prédio onde funcionou por muito tempo esta empresa de energia.
O telefone, fixo, é claro, era uma raridade e, além de tudo, bastante caro. Era o tempo onde os vizinhos pediam para dar “uma ligadinha” usando o telefone que não conseguiam ter. A Companhia Telephonica Brazileira também entregava as contas na casa dos clientes num papelzinho escrito a lápis indicando o custo do uso da linha então denominada “assinatura” e a quantidade de chamadas interurbanas feitas no período.
Em alguns casos, ao se fazer o pagamento, a empresa colava na conta quitada selos que representavam o recolhimento dos impostos – desde sempre presentes em nossas vidas.
Como ninguém inventou a roda, hoje temos todas as facilidades para pagarmos as contas, mas nem tudo fica mais fácil, pois os bancos não recebem mais este tipo de pagamento nos caixas, dificultando a vida do consumidor que passa a pagar suas obrigações de consumo nos caixas dos supermercados (atrapalhando quem foi fazer compras) ou nas lotéricas, daí as filas que nem sempre são de jogadores, mas sim de consumidores.
Ao menos agora você sabe que pagar contas não é nem novidade nem exclusividade de sua geração. Texto de José Vignoli.
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