domingo, 6 de fevereiro de 2022

Primeiro Jogo de Futebol Realizado no Brasil / Campo do Carmo / 14/04/1895, São Paulo, Brasil

 


Primeiro Jogo de Futebol Realizado no Brasil / Campo do Carmo / 14/04/1895, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia


Texto 1:
Foi realizada em 14 de abril de 1895, em São Paulo, a primeira partida de futebol no país. O jogo aconteceu na Várzea do Carmo, no Brás, entre dois times de funcionários: Companhia de Gás de São Paulo (São Paulo Gaz Company) 2 x 4 Companhia Ferroviária de São Paulo (São Paulo Railway Company).
Essa foi a primeira partida oficial disputada no país. Charles Miller, então funcionário da São Paulo Railway Company, é considerado o introdutor do esporte no Brasil. Quando criança, foi para Inglaterra estudar e praticar esportes como futebol, rugby e críquete. Voltou em 1984 e como funcionário da São Paulo Railway Company começou a organizar jogos.
Além da carreira tradicional na companhia ferroviária, desempenhou outros trabalhos como funcionário da Coroa Britânica, mas foi por sua carreira no futebol que gravou seu nome na história do Brasil. Atuando como jogador, árbitro e dirigente foi um dos maiores estusiastas do esporte no país. Charles Miller foi também fundamental na organização da equipe do São Paulo Athetic Club, que participaria da primeira liga do esporte no país, a Liga Paulista de Futebol.
Texto 2:
Embora a história da chegada do futebol ao Brasil seja conhecida e consagrada, ainda há quem a conteste. O Colégio São Luís, por exemplo, reivindica a si o pioneirismo no esporte bretão. Em 2014, foi lançado o livro “Pontapé inicial para o futebol no Brasil”, escrito por Paulo Cezar Alves Goulart. O livro defende a tese de que, entre os anos de 1880 e 1895, jesuítas e alunos do Colégio São Luís, então em Itu (SP), já jogavam um esporte que seria o precursor do futebol brasileiro.
Segundo a pesquisa da obra, padres jesuítas teriam ido à Europa em busca de atualizações pedagógicas e voltaram com duas bolas de capotão na bagagem. A partir de 1880, novas modalidades esportivas foram sendo adicionadas à grade de educação física da escola. Entre as novidades, estava um jogo praticado com a tal bola inglesa trazida pelos padres. As regras, descritas no manual do colégio, eram bastante simples: os jogadores deveriam chutar a bola em direção ao muro do pátio do recreio. A atividade acabou ganhando o nome de “bate-bolão”. Em 1887, adicionaram-se marcações ao campo – que passaram a delimitar o gol – e os jogadores foram divididos em duas equipes.
Quando assumiu o cargo de reitor, em maio de 1893, o padre Luís Yabar introduziu as regras definitivas para o futebol praticado no Colégio São Luís, baseado em suas observações durante visitas a escolas europeias. Em 1894, um ano antes de Charles Miller realizar aquela que é considerada a primeira partida de futebol do país, a demarcação do campo do Colégio São Luís foi ajustada para um valor próximo ao padrão inglês. Na mesma época, a marcação do gol na parede foi substituída por traves de madeira. Ao aluno de maior destaque no jogo seria dado o título de “campeão do futebol”, conquistado pela primeira vez por Arthur Ravache, em 1895. Essa história foi contada também no livro “Visão do Jogo – Primórdios do Futebol no Brasil“, do historiador José Moraes dos Santos Neto, lançado em 2002.
Para John Mills, biógrafo de Charles Miller em “Charles Miller – o pai do futebol brasileiro“, há uma clara diferença entre o jogo praticado no Colégio São Luís e o trazido para o Brasil pelo descendente de ingleses. “Os jesuítas praticavam uma brincadeira de recreio sem regras definidas”, explica. Mills reafirma ser Miller o introdutor do futebol no Brasil: “Charles Miller não foi o primeiro a trazer a bola, mas foi quem trouxe as regras do jogo que hoje conhecemos como futebol”. O biógrafo conta que a história é ratificada pelo livro “História do Futebol no Brasil”, escrito por Tomás Mazzoni, icônico jornalista esportivo de “A Gazeta Esportiva”, e publicado em 1950.
Texto 3:
Você já deve ter se perguntado o motivo da denominação “clubes de várzea” ou “campos de várzea” no futebol. Geralmente, a utilização desse termo é associada a equipes amadoras e a campos sem qualidade para a realização de uma partida de futebol.
Porém, os campos de várzea, como são chamados os terrenos planos e irregulares onde os indivíduos se apropriam para realizar um jogo de futebol, foi o berço do futebol no Brasil.
Quando o inglês Charles Miller e seus amigos importaram o jogo britânico para o Brasil em 1895, eles escolheram um terreno próximo da fábrica São Paulo Gás Company, uma vez que os funcionários desta fábrica eram seus adversários e também se localizava a poucos quilômetros da Estação da Luz, antiga sede da ferrovia onde Miller trabalhava.
E a área escolhida ficava localizada na rua do Gasômetro com a esquina da Rua Santa Rosa (esse endereço atualmente não existe), próximo ao rio Tamanduateí, na antiga região da Várzea do Carmo, na região central de São Paulo. Naquela ocasião, os funcionários da fábrica São Paulo Railway, time de Miller, derrotaram os “donos da casa” por 4×2.
Após o jogo de inauguração folclórica do desporto no país, a região da primeira partida foi adotada para realizar mais jogos e até campeonatos. Assim como cita abaixo Abrão Aspis, autor do livro Futebol Brasileiro: Do início amador à paixão nacional:
Em outubro de 1903 foi registrada a existência das primeiras agremiações informais, em São Paulo: Cruzeiro Paulista, Santos Dumont, Silva de Almeida e Guarani. Estes clubes organizavam pequenos e despretensiosos campeonatos na Várzea do Carmo. Por esse motivo receberam a denominação de clubes de várzea.
Desse modo, pode-se afirmar que a várzea foi o local onde o futebol se popularizou, uma vez que apenas membros da elite formavam equipes e o mais próximo que uma pessoa de classe baixa poderia participar de um jogo era sendo ou funcionário de uma dessas empresas, ou apenas um telespectador, assim como afirma Diego Cavalcante:
É, portanto, nas várzeas o local para onde os gandulas, os desocupados e os “vadios” que observavam o futebol de elite, como foi dito antes, levaram o futebol […].
Atualmente e a grosso modo, pode-se dizer que a região que compreendia a Várzea do Carmo é o Parque Dom Pedro II, localizado às margens do rio Tamanduateí, no bairro do Brás.
Além disso, a transição de Várzea do Carmo para Parque Dom Pedro II se deve ao fato que a prefeitura de São Paulo, insatisfeita com o alagamento constante do rio sobre as margens, decidiu urbanizar a região. Construindo, desse modo, um parque, cujo foi inaugurado em 1922.
Consequentemente, a região foi tornando-se um lugar mais próprio para a população, uma vez que a antiga Várzea do Carmo trazia inúmeras doenças junto ao alagamento. Após isso, a região aos poucos começou a ser um centro comercial e populacional em meio ao crescimento exponencial da cidade na primeira metade do século XX.
Atualmente, a área é uma das regiões mais movimentadas da cidade. Apesar disso, é considerada também uma região que foi abandonada pelo Poder Público, já que a realização de um projeto de revitalização na área é constantemente adiado.
Nota do blog: Até o presente momento não encontrei imagens do primeiro jogo realizado no Campo do Carmo. A imagem que ilustra o post é de Militão Augusto de Azevedo, mostrando a Várzea do Carmo em circa 1860, servindo para dar uma ideia de como era o local.


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