Significado de Panóptico, Inglaterra
Artigo
Panóptico é um termo utilizado para
designar uma penitenciária ideal,
concebida pelo filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham em 1785,
que permite a um único vigilante observar todos os prisioneiros, sem que estes
possam saber se estão ou não sendo observados. O medo e o receio de não saberem
se estão a ser observados leva-os a adotar a comportamento desejado pelo
vigilante.
Por requerer menor número de vigilantes, o
sistema panóptico teria, segundo Bentham, a vantagem de ser mais barato do que
o adotado nas prisões de sua época, sendo aplicável não só às prisões mas a
qualquer outro tipo de estabelecimento baseado na disciplina e no controle.
Bentham estudou "racionalmente", em
suas próprias palavras, o sistema penitenciário. Criou então um projeto de
prisão circular, onde um observador central poderia ver todos os locais onde
houvesse presos. Era o sistema panóptico. O sistema seria aplicável, segundo o
autor, a prisões, escolas, hospitais ou fábricas,
para tornar mais eficiente o controle daqueles estabelecimentos. Assim, aquele
que estivesse sobre uma torre ou estrutura circular central, poderia observar
todos os presos (ou os funcionários, pacientes, estudantes, etc), tendo-os sob
seu controle.
O desenho original de Bentham incorpora uma
galeria ou estrutura circular no centro de um edifício,
também circular, dividido em celas - tendo cada uma delas uma janela para o
exterior, para permitir a entrada de luz, e uma porta gradeada voltada para o
vasto pátio interior e voltada para a torre de
vigilância. Os ocupantes das celas se encontrariam isolados
uns de outros por paredes e sujeitos ao escrutínio coletivo e individual de um
vigilante, postado na torre e que permaneceria oculto. Para isso, Bentham não
só imaginou persianas ou venezianas nas janelas da torre de observação, mas
também conexões labirínticas entre as salas da torre, a fim de evitar sombras
ou ruídos que pudessem delatar a posição e o olhar do observador.
Mas o sistema inventado por Bentham era na
realidade complexo e exigia edifícios dispendiosos e com vasta área de
construção, de modo que, até hoje, nenhum edifício panóptico seguiu exatamente
o sistema desenhado por ele. Em todo o mundo existe um número muito reduzido de
edifícios que se podem considerar panópticos, isto é, de implantação circular
e com uma simplificada torre de vigilância situada no centro de um espaço
aberto, coberto ou não.
O sistema panóptico não deve ser confundido
com o sistema radial, em que vários pavilhões com celas irradiam a partir de
uma zona central, onde, por vezes, existe uma torre, mas onde o vigilante só
pode visualizar os corredores dos vários pavilhões, e não o interior das celas.
O sistema radial, aplicado em penitenciárias, expandiu-se especialmente na
Europa e na América Latina, correspondendo ao regime de clausura solitária, em que cada
prisioneiro só podia sair da cela durante meia ou uma hora por dia, e
encapuçado, de modo que os prisioneiros não se conhecessem mutuamente. Um
exemplo de prisão radial é o da monumental Penitenciária de Lisboa (1874-1885),
com 565 celas distribuídas por seis edificações unidas em estrela, - um projeto
do engenheiro Ricardo Júlio Ferraz.
Segundo o filósofo Michel
Foucault, é no século XVIII que se inicia um processo de
disseminação sistemática de dispositivos disciplinares,
que, a exemplo do panóptico, permitiam vigilância e controle
social cada vez mais eficientes, embora não
necessariamente com os mesmos objetivos "racionais" de Bentham e seus
contemporâneos.
Foucault utilizaria o termo
"panóptico" em sua obra Vigiar
e Punir (1975), para tratar da sociedade disciplinar.
Desde então e até o início do século XXI, novas
tecnologias de comunicação e informação permitiriam
novas formas de vigilância, por vezes dissimuladas, a ponto de não serem
facilmente percebidas pelos indivíduos, ou naturalizadas. Teóricos das
novas tecnologias,
como Pierre Lévy e Howard
Rheingold, também utilizam o termo "panóptico"
para designar o controle exercido pelos controladores dos novos meios de
informação sobre os utilizadores.
O sistema panóptico está na base do
que Gilles Deleuze chama sociedade de
controle. Em seus últimos textos, Deleuze evoca a
"instalação progressiva e dispersa de um sistema de dominação" de
indivíduos e populações, dando origem à "sociedade de controle". O
filósofo toma emprestado o termo "controle" o escritor William
Burroughs, mas, para formular sua ideia, apoia-se nos
trabalhos de Foucault sobre as "sociedades
disciplinares". Nessas sociedades, que Foucault situa nos séculos
XVIII e XIX, e cujo apogeu ele situa no início do século XX, o indivíduo
continua a mover-se de um "meio de confinamento" para outro: a
família, a escola, o exército, a fábrica, o hospital, a prisão ... Todas essas
instituições, das quais a prisão e a fábrica seriam modelos privilegiados, são
igualmente dispositivos propícios à vigilância, ao esquadrinhamento, ao
controle dos indivíduos constituídos como corpos dóceis, inseridos em
"moldes".
Em Portugal existe um dos raríssimos
edifícios panópticos existentes no mundo (e o único com pátio a descoberto), o
Pavilhão de Segurança do Hospital Miguel Bombarda,
(projetado em 1892-1894 e inaugurado em 1896), dado a conhecer pela aprofundada
investigação de Vítor Albuquerque Freire publicada em 2009, revelando
finalidades, plantas, peças e justificação do projeto original, o autor
arquiteto José Maria Nepomuceno, fotografia da torre panóptica, etc, além de
demonstrar o vanguardismo funcional e formal dos sistemáticos e amplos
arredondamentos de arestas, notável linguagem arquitetônica precursora do
modernismo dos anos 1920 e 1930 a nível internacional.
Além do Pavilhão de Segurança, de Lisboa,
conhecem-se os seguinte outros edifícios panópticos circulares: a penitenciária
de Autun (1856), em França, de André Berthier; as penitenciárias de Breda e
Arnhem (ambas de 1884), na Holanda, do arquiteto Johan Frederik Metzelaar; a
penitenciária de Haarlem (1901), Holanda; a penitenciária de Statesville
(1919), Illinois, EUA, da autoria de C. Harrick Hammond; e a penitenciária da
Ilha dos Pinheiros (1932), em Cuba.
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