Imagem do monumento nas margens da represa de Guarapiranga em 21/04/1936 (localização original do monumento).
Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico, São Paulo, BrasilSão Paulo - SP
Fotografia
Texto 1:
O Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico está localizado na cidade de São Paulo, no Brasil. Obra do escultor ítalo-brasileiro Ottone Zorlini, foi inaugurado em 1929, por iniciativa da Sociedade Dante Alighieri, como homenagem aos aviadores italianos Francesco De Pinedo e Carlo Del Prete, que dois anos antes (mas já cinco anos depois dos portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral), a bordo do Savoia-Marchetti S.55, haviam feito uma das travessias aéreas pioneiras do Atlântico Sul, bem como ao brasileiro João Ribeiro de Barros, que, pouco tempo depois, ainda no ano de 1927, realizou a mesma façanha, a bordo do hidroavião Jahú.
Engastada no pedestal do monumento, encontra-se uma coluna com capitel em estilo coríntio, supostamente retirada de uma construção milenar, que havia sido recentemente descoberta no Monte Capitolino em Roma, enviada a São Paulo por Benito Mussolini em comemoração ao feito dos compatriotas. O monumento foi erguido às margens da represa de Guarapiranga, no então município de Santo Amaro (hoje um distrito de São Paulo) onde os pilotos italianos pousaram, após percorrer a costa brasileira. Em 1987, o então prefeito Jânio Quadros determinou que fosse movido para os Jardins, onde se encontrava até 2009. Em 2010, o monumento foi novamente movido, desta vez para o bairro de Socorro.
Texto 2:
Uma comissão de imigrantes italianos encaminhou à Câmara Municipal, em 1924, um pedido de licença para construir um monumento em homenagem a Benito Mussolini numa das praças de São Paulo. Mussolini, primeiro-ministro da Itália entre 1922 e 1943, era líder do movimento nacional-imperialista daquele país, conhecido como “fascista”. O pedido foi debatido pelos vereadores, mas logo ultrapassou o recinto da Câmara, provocando manifestações de vários segmentos da sociedade. Dada a reação, o projeto foi abandonado. Dois anos depois, no entanto, a idéia foi retomada, mas a oposição a ela continuava tão viva quanto sua defesa e, mais uma vez, o projeto ficou em suspenso.
Pouco tempo depois, o general Francesco De Pinedo, o piloto Carlo Del Prete e o mecânico Vitale Zachetti, todos italianos, atravessaram o Atlântico a bordo do hidroavião Savóia 55 “Santa Maria” e amerissaram na represa do Guarapiranga no dia 28 de fevereiro de 1927. Uma multidão os aguardava, composta, sobretudo, por italianos aqui radicados e seus descendentes. No dia 1º de agosto do mesmo ano, João Ribeiro de Barros realizou a mesma façanha, a bordo do hidroavião Jaú. A Light & Power Company teve de colocar bondes extras para atender aos populares que acorriam à represa saudar o aviador brasileiro. A Sociedade Dante Alighieri propôs a construção de um monumento “aos heróis da travessia do Atlântico”, junto à barragem do Guarapiranga e próximo ao local das amerissagens, no então município de Santo Amaro.
Para celebrar a aventura de seus compatriotas, Mussolini enviou a São Paulo uma coluna, com capitel em estilo jônico, retirada de uma construção milenar recém-descoberta no monte Capitólio, em Roma. A coluna foi incorporada ao monumento, inaugurado no dia 21 de agosto de 1929. Em declaração à imprensa, Ottone Zorlini (Treviso, Itália, 1891 – São Paulo, 1967), autor da obra, falou sobre o seu significado: “A junção ideal da época da Roma antiga às modernas conquistas que renovam e perpetuam a grandeza do passado, constitui a concepção geral da obra”.
No topo de um alto pedestal, uma escultura de bronze, chamada de “Vitória Alada”, lembra o sonho de Ícaro e aponta na direção do oceano. Na face frontal do pedestal, estrelas de bronze compõem a constelação do Cruzeiro do Sul. Nas laterais, encontram-se dois fascios. Um deles tem a esfera celeste e a inscrição “Ordem e Progresso” da bandeira brasileira; o outro, o símbolo de Roma: uma loba alimentando os irmãos Rômulo e Remo. A coluna romana está engastada na parte inferior do pedestal. A altura total do monumento é de cerca de 9 metros.
O fascio – feixe de varas transportado por antigos oficiais romanos, junto com uma machadinha, quando acompanhavam os magistrados – era um símbolo utilizado na Antiga Roma para expressar a idéia de que, uma vez unidos, os homens não poderiam ser vencidos. O fascio foi resgatado por Mussolini e transformado em símbolo do fascismo.
Mussolini tinha interesses estratégicos nos vôos pioneiros dos aviadores italianos e estudava o estabelecimento de pontos de apoio para sua frota aérea. Chamava De Pinedo de “Senhor das distâncias” e o acompanhou na definição do itinerário da viagem pelo Atlântico e pelas Duas Américas. O hidroavião Savóia 55 foi batizado com o nome de uma das caravelas de Colombo, a “Santa Maria”, lembrando assim a descoberta da América pelo navegador genovês. A travessia do Atlântico, maior desafio da viagem, foi feita em linha reta entre Bolama, na Guiné Portuguesa (atual Guiné-Bissau), e Natal, no Rio Grande do Norte, seguindo depois pela costa brasileira até Buenos Aires. De Buenos Aires, os italianos cruzaram a América do Sul pelo interior do continente, seguindo os rios Paraná, Paraguai, passando por Manaus, Cuba, e alcançando a América do Norte. A travessia do Atlântico Norte foi feita em linha reta, de Terranova, no Canadá, à Ilha dos Açores.
Em livro sobre a aventura, De Pinedo relata sua passagem conturbada por São Paulo. No Rio de Janeiro, foi convencido por compatriotas a desviar sua rota e amerissar na represa de Santo Amaro, quando seu itinerário previa apenas uma parada em Santos. Asseguraram-lhe que seria a primeira vez que um hidroavião chegaria à represa, sobre a qual o general italiano tinha poucas informações, apenas que ficava numa região sujeita a nevoeiros. Mesmo assim, decidiu contentá-los. O hidroavião sobrevoou São Paulo e amerissou na represa, onde uma multidão enlouquecida os aguardava junto à linha d’água. Depois de uma breve saudação, os aviadores se dirigiram a Santos. Apenas De Pinedo foi de Santos a São Paulo em automóvel, onde foi recebido pelo Governador e autoridades. Demorou a chegar, tamanha a multidão que havia nas ruas. Voltou a Santos no dia seguinte, mas, como estavam no Carnaval, teve de enfrentar nova turba e uma batalha de confetes e serpentinas, que quase o atingiram num olho.
Nos primeiros tempos da aviação, cada novo feito era saudado e celebrado como se já integrassem a história da humanidade, sempre acompanhados da recuperação de símbolos do passado. Os portugueses Sacadura Cabral e Gago Coutinho empreenderam a primeira travessia aérea do Atlântico Sul num hidroavião em 1922. A viagem Lisboa – Rio de Janeiro durou alguns dias. Como os aviões ainda não tinham grande autonomia de vôo, a Marinha Portuguesa colocou navios de apoio a serviço dos aviadores. Nas asas dos aviões “Lusitânia” e “Santa Cruz”, foram pintadas a cruz de malta, tal como nas naus portuguesas no período das grandes navegações.
A cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, também recebeu uma coluna romana do monte Capitólio, doada por Mussolini em 1931. Implantada no Pátio do Instituto Histórico e Geográfico, na Cidade Alta, é conhecida como “Coluna Capitolina” ou “Coluna Del Prete”. Comemora a travessia em linha reta e vôo direto, sem escalas, de Roma à praia de Touros, realizada pelos aviadores Carlo Del Prete e Arturo Ferrarin em 1928. Associada à figura de Mussolini, a coluna foi derrubada em 1935, durante a Intentona Comunista.
Ao longo de quase 80 anos no espaço público, o monumento aos “Heróis da Travessia do Atlântico” sofreu vários danos. Durante a Segunda Guerra Mundial, os feixes de bronze foram retirados e recolocados tempos depois. Detalhes decorativos de bronze que adornavam a coluna foram furtados, assim como as placas de bronze, com inscrições em italiano, repostas em mais de uma ocasião.
Em 1985, o Instituto Cultural Umbro-Toscano de São Paulo solicitou a readequação do local de implantação do monumento à Prefeitura. A entidade temia pela integridade da obra, instalada num ponto em que a avenida De Pinedo forma um ângulo de 90 graus, com intenso tráfego de ônibus e caminhões. Julgando que o monumento estava “escondido” em Santo Amaro, o prefeito Jânio Quadros determinou sua transferência, em 1987, para a praça Nossa Senhora do Brasil. O fato, abordado exaustivamente pela imprensa, causou muita polêmica. Na praça, a obra foi pichada várias vezes, em manifestações de repúdio ao regime fascista e a Benito Mussolini.
Esquecia-se que o monumento presta justa homenagem a um feito louvável para a época e expressa as ideologias presentes no momento de sua concepção e implantação.
Monumento aos heróis da travessia do Atlântico - Obra de Ottone Zorlini
Localização atual: Av. João de Barros, 287 - Socorro, São Paulo - SP, Brasil
De autoria do escultor ítalo-brasileiro Ottone Zorlini (1891-1967), o Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico foi uma homenagem aos aviadores italianos Francesco Di Pinedo e Carlo Del Prete, pioneiros na travessia do Atlântico Sul, e ao brasileiro João Ribeiro de Barros, que realizou a mesma façanha em 1927, a bordo do hidroavião Jahú.
No pedestal do monumento, encontra-se uma coluna com capitel em estilo jônico, retirada de uma construção milenar do Monte Capitolino, em Roma, na Itália, e enviada a São Paulo pelo primeiro-ministro italiano na época, Benito Mussolini, em comemoração ao feito dos compatriotas. No topo, uma escultura de bronze, chamada de “Vitória Alada”, aponta para o oceano, numa referência ao mito grego de Ícaro – jovem que sonhou em deixar a ilha de Creta voando sobre o Mar Mediterrâneo. Na face frontal do pedestal, estrelas de bronze compõem a constelação do Cruzeiro do Sul. Nas laterais, encontram-se a esfera celeste e a inscrição Ordem e Progresso, frase da bandeira brasileira, e o símbolo de Roma: uma loba alimentando os irmãos Rômulo e Remo.
O monumento, que possui cerca de nove metros de altura, foi erguido às margens da represa de Guarapiranga, no então município de Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo, onde os pilotos italianos pousaram, após percorrer a costa brasileira.
Em 1987, o prefeito Jânio Quadros determinou que a obra fosse movida para a praça Nossa Senhora do Brasil, no Jardim América, Zona Oeste da capital, onde permaneceu até 2009. Em 2010, no entanto, após passar por restauro, o monumento retornou ao seu local de origem.
O monumento é polêmico há bastante tempo. Carrega um “fascio” de cada lado (“fasci”, no plural), que é um feixe de varas utilizado por militares para representar a união e foi resgatado por Mussolini para simbolizar sua ideologia. Na praça, a obra foi pichada várias vezes, em manifestações de repúdio ao regime fascista e a Benito Mussolini.
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