domingo, 16 de outubro de 2022

A História do Telefone em São Paulo, Brasil - Artigo

 

















A História do Telefone em São Paulo, Brasil - Artigo
Artigo


Hoje temos a comodidade dos telefones celulares que nos permite falar com quem queremos (ou não queremos) a qualquer momento. Seja pela linha convencional, por aplicativos de troca de mensagens, redes sociais, tudo está na palma da mão. Entretanto como acontece com qualquer tecnologia, seu começo não foi fácil.
O primeiro "alô":
A telefonia deu as caras na cidade de São Paulo no ano de 1878, apenas um ano depois de sua chegada oficial no Brasil, em 1877, quando foi instalada aquela que seria a primeira linha do país, no então Palácio Imperial de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, atual Museu Nacional no Rio de Janeiro.
O acontecimento na capital paulista, como qualquer grande novidade que chegava por essas bandas, foi bastante comentado e divulgado pela imprensa da época, como mostra uma nota publicada no extinto jornal Diário de S.Paulo em 18/08/1878 (vide imagem N. 2).
A nota até parece um tanto fantástica, afinal Leon Rodde era anunciado como agente do “Grande Mágico da Corte”, algo que hoje soa surreal. No dia do experimento ele e seu amigo Morris Kohn fizeram as demonstrações e a primeira ligação telefônica da cidade, ainda que experimental, fato que causou grande burburinho na então pequena São Paulo.
Entretanto o telefone não estreou aqui em São Paulo imediatamente após o teste. A cidade ainda não possuía uma série de coisas necessárias para o serviço a ser inaugurado, tanto da parte técnica quanto da jurídica. A telefonia ainda não tinha central, postes, cabeamentos e o principal: a concessão pública.
Como o Brasil não é um país onde se vence fácil a burocracia, a partir de 1878 houve uma verdadeira batalha de empresas interessadas em ganhar a concessão de exploração do serviço de telefonia não só na capital paulista como em diversas regiões do Brasil, o serviço acabou chegando em São Paulo somente em 07/01/1884. Os primeiros assinantes do serviço podem ser vistos na imagem N. 3 do post.
Desta forma, conforme já citado acima, ocorreu uma verdadeira corrida pelas concessões de exploração do serviço de telefonia pelo Brasil afora (inclusive em São Paulo), sendo o resultado uma grande confusão. Uma empresa anunciava que era a concessionária, outra contestava, e assim a coisa seguia. E no caso da lista da Companhia de Telegraphos Urbanos não foi diferente.
Imediatamente após a publicação da lista de assinantes (vide imagem N. 3), outro concessionário surgiu e protestou, alegando que era dele o direito de instalar telefones na capital e que já haviam ligado pouco mais de uma dezena de linhas. Era a empresa Álvares, Pereira & Cia.
Estava aberto o cenário para uma longa batalha nos tribunais, entretanto o desfecho foi concluído em apenas três dias. Foi o tempo que as duas empresas precisaram para se reunir e verificar quem de fato tinha direito de explorar a concessão e a vencedora foi a Companhia de Telegraphos Urbanos. Com isso assumiu as linhas já instaladas pelo ex-concorrente e, em comum acordo, divulgaram duas notas no jornal Correio Paulistano, em 10/01/1884, explicando como seria a operação das mesmas na cidade (vide imagens N. 4 e 5).
Inclusive, neste mesmo jornal, foi publicada a lista definitiva dos primeiros assinantes de São Paulo, com os 22 clientes da primeira companhia e os clientes da empresa absorvida. A lista pode ser vista na imagem N. 6.
Com esse problema resolvido davam-se os primeiros passos para que o serviço de telefonia em São Paulo pudesse ser adotado em larga escala, livre das amarras burocráticas e de brigas judiciais. Isso permitiu que novos interessados contratassem o serviço, que já no mês seguinte, fevereiro, dobrou para 70 assinantes, número esse que não mais parou de crescer.
Sobre os custos, a assinatura de telefone não era barata, custava 120$000 (cento e vinte mil réis) e inicialmente o serviço só operava durante o dia. Porém, apesar de inicialmente ser algo de elite, tratou-se de uma revolução nos costumes da cidade.
A primeira central telefônica da cidade:
A primeira central telefônica era bem pequena, quase rudimentar, e funcionava no próprio escritório da Companhia de Telegraphos Urbanos instalada à Rua Direita, no Largo da Sé (vide imagem N. 7). Alguns anos depois, em 1890, a empresa precisou de um escritório maior e mudou-se para poucos metros à frente, na Rua Santa Tereza.
Entretanto, com a popularização do serviço de telefonia, logo precisaram de um endereço ainda mais amplo, que acomodasse adequadamente a central telefônica, os escritórios, as oficinas de manutenção e, claro, as telefonistas. Foi quando a empresa mudou-se para a Rua Benjamin Constant N. 44 (atual N. 174), onde foi instalada a primeira grande central telefônica de São Paulo.
Na imagem N. 8 do post, do ano de 1919, vemos a torre de distribuição da central telefônica. É possível ver os fios saindo da central e irradiando para todos lados em direção aos postes. Nessa época a empresa já utilizava seu nome definitivo: Companhia Telephonica do Estado de S. Paulo (futura Telesp).
A referida fotografia foi tirada de um terreno vizinho e mostra a sede da companhia telefônica de lado. A construção mostrada à direita na foto é a frente do edifício, onde funcionavam todos os serviços da empresa já citados acima.
A fiação aérea, aos olhos de hoje, parece estranha e tem aspecto de ser frágil, pois os próprios terminais e pares telefônicos ficavam “no tempo”, lá no alto da torre. O sistema assim permaneceu até o final da década de 20, quando a central foi modificada e o sistema “enterrado”, passando a operar por baixo das calçadas da região central da cidade.
Durante o século XX, o local sofreu várias mudanças e é completamente diferente das fotografias objeto das imagens N. 9 e 10. Atualmente a Rua Benjamin Constant é repleta de edifícios, agitada e até um tanto caótica. A própria companhia telefônica cresceu e transferiu sua sede para o centro novo, na Rua 7 de Abril, onde passaram a operar a grande maioria de seus serviços.
Após essa mudança, o prédio da Rua Benjamin Constant sempre funcionou como central telefônica, atividade que exerce até os dias atuais.
A central atualmente:
A imagem N. 11 mostra o estado atual do edifício (que aparenta necessidade de cuidados).
Apesar da ausência de identificação, seja no portão ou mesmo na fachada, olhares mais atentos podem logo perceber que trata-se de edifício ligado à telefonia por duas razões:
A primeira é que durante o dia há grande movimento de técnicos da operadora Vivo, que se dirigem ao edifício para resolver problemas ligados à telefonia fixa da região central. A segunda são as formas alusivas à telefônia presentes no portão de entrada do imóvel (vide imagem N. 12).
Trata-se, portanto, de importante endereço histórico de São Paulo, que existe e funciona com a mesma função por mais de um século. Precisa ser melhor identificado e cuidado, até como forma de preservar sua relevância para a história das comunicações, não só da cidade, como do Brasil.
Texto de Douglas Nascimento, adaptado por mim para o blog.

Nenhum comentário:

Postar um comentário