sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Estação da Estrada de Ferro do Paraná, Curitiba, Paraná, Brasil








Estação da Estrada de Ferro do Paraná, Curitiba, Paraná, Brasil
Curitiba - PR
E. Bevilacqua & Cia.
Fotografia - Cartão Postal

Texto 1:
Cartão postal editado por E. Bevilacqua & Cia, mostrando a segunda edificação da Estação Ferroviária de Curitiba. Datação da imagem circa 1894-1903 (a confirmar).
Sobre a segunda edificação: Em 1894 o edifício foi ampliado segundo projeto do engenheiro Rudolf Lange, com aumento do pé direito da parte central do térreo e construção de mais um pavimento, encimado por um eitão elevado que abrigou um belo relógio que, mais tarde, foi retirado e colocado no Estádio Durival Britto e Silva.
A quantidade de veículos de tração animal aguardando a chegada do trem evidencia a importância que a estrada de ferro teve para o desenvolvimento da cidade.
Na época havia uma macadamização precária em sua frente, causando dificuldades para o trânsito de carroças e carruagens.
Texto 2:
A escolha do local:
A escolha do local para a construção do prédio da estação ferroviária foi feita em 1880 por uma comissão presidida pelo vereador Francisco Torres (filho do empresário Mariano Torres) e pelos engenheiros italianos Antônio Ferrucci e Michelângelo Cuniberti, ambos funcionários da Compagnie Générale des Chemins de Fer Brésiliens, empresa responsável pela construção da estrada, além de um membro da assembleia provincial. A primeira opção, sugerida em relatório emitido pela Câmara oito anos antes, foi descartada pelos integrantes da comissão. Seria o terreno onde hoje localiza-se a Praça Santos Andrade. Outra hipótese estudada foi o Campo do Schmidlin (atual rodoferroviária e adjacências), mas ponderou-se que o local ficava muito distante da Praça Tiradentes e da rua do Mato Grosso (Comendador Araújo), locais que centralizavam o comércio das indústrias de erva-mate em Curitiba. Por fim, ficou decidido que o prédio seria instalado na área conhecida como “Potreiro do Conselho”, nas proximidades da atual avenida Sete de Setembro (que à época era uma campina praticamente desabitada e sujeita a alagamentos).
O projeto da comissão presidida por Francisco Torres consistia em construir o prédio e mais dois espaços planos dispostos em frente a ele. Tais espaços seriam divididos pela extensão da travessa Leitner (continuação da Riachuelo) que posteriormente seria conhecida por rua da Liberdade e, em 1912, seria definitivamente batizada como rua Barão do Rio Branco. Apenas um desses largos foi delimitado (11.500 m2) e veio a se tornar o Largo da Estação, cujo nome foi alterado em 1888 para Praça Eufrásio Correia, em homenagem ao político de Paranaguá que morreu aos 50 anos, quatro meses após tomar posse na presidência da Província de Pernambuco. Eufrásio era tio do Barão do Serro Azul.
O prédio da Estação foi concluído pelo engenheiro Cuniberti, em 1883. A estrada de ferro, por sua vez, foi terminada em dezembro do ano seguinte, quando foi realizada a viagem inaugural de Paranaguá para Curitiba. Enquanto um pequeno grupo de tropeiros protestava contra a estrada de ferro em frente à Câmara na Praça Tiradentes, uma pequena multidão se aglomerou em frente ao prédio da Estação aguardando o trem que trazia Dom Pedro II e sua filha, Princesa Isabel. Consta que a multidão gritou eufórica quando ouviu os apitos vindos da altura do bairro Cajuru.
A Exposição de 1903:
Quase vinte anos depois, em dezembro de 1903, a praça foi ocupada por uma feira-exposição comemorativa ao Cinquentenário da Emancipação do Estado. Foram necessários meses para a preparação do evento que pretendia afirmar nacionalmente a força econômica do Paraná (alavancada nesse período pela produção de erva-mate). A imprensa mostrou entusiasmo com as melhorias na Praça Eufrásio Correia. “Ora é o plano de ajardinamento que se alarga, em artísticos contornos, ribando aqui, ali descendo em esplanadas; ora um novo pavilhão que se alevanta em novo colorido, fechando o quadrilátero, elevando as flechas dos lambrequins'', destacou o jornal "A República" de 9 de dezembro de 1903.
A exposição teve início às 13 horas do dia 19 daquele mesmo mês, data da Emancipação do Paraná. Após uma breve cerimônia no interior da Assembleia Legislativa (Palácio do Congresso, futuro Palácio Rio Branco, sede da Câmara), as autoridades se dirigiram à praça onde visitaram os pavilhões dos municípios. Ainda segundo o jornal "A República", “até as 8 horas da noite, a Praça Eufrásio permaneceu apinhada de pessoas, curiosas diante de tantas novidades. Nos pavilhões de entrada estavam expostos objetos de decoração, como belas mobílias, louças da fábrica de Colombo, tecidos finíssimos e obras de arte”.
O evento fez tanto sucesso que prosseguiu pelo ano de 1904, contando inclusive com uma exótica exposição de répteis que atraiu centenas de pessoas. A descrição é novamente do jornal A República: “Na Praça Eufrásio Correia, para abrilhantar esta exposição de répteis, estava prevista a subida do balão ‘monstro de tamanho’, dirigido pelo aeronauta Mister Lanphon”. Os visitantes também puderam usufruir do carrossel mecânico ao som da banda do 39° Batalhão de Infantaria e dos serviços do botequim da própria exposição”. A Praça era uma festa.
A ninfa de bronze:
Quatro intervenções no espaço urbano promovidas pelo prefeito Cândido de Abreu permanecem praticamente intactas até hoje. Elas foram feitas ao longo de sua segunda gestão como chefe do Executivo, entre os anos de 1912 e 1916. Foram elas: a reforma do Passeio Público, o Belvedere da Praça Dr. João Cândido, o prédio do Paço, na Praça Municipal (Generoso Marques) e a reforma da Praça Eufrásio Correia. Todas têm em comum o emprego da linguagem art noveau em maior ou menor grau.
No caso da Praça Eufrásio Correia, percebe-se o estilo nas luminárias trazidas da França (incluindo o lampadário postado no canto da praça em frente à estação). O art noveau também está presente na distribuição dos canteiros de grama e na aleatoriedade das trilhas (aleias) que permeiam as árvores e preservam o desenho original feito em 1913 por Cândido de Abreu. O prefeito já possuía a experiência anterior de haver participado da reformulação urbana de Belo Horizonte. A praça perdia sua característica de ponto de encontro para o comércio e assumia um perfil mais bucólico, com bancos, árvores, jardins, bustos e placas de bronze. Deixava de ser “praça-feira” para se tornar “praça-monumento”.
Naquele ano (1913), a praça estava praticamente pronta, mas faltava um detalhe: uma estátua feminina feita em bronze que serviria para ornamentar o chafariz instalado no centro da praça. A entrega da peça, que também viria da França, atrasou com o advento da 1ª Guerra e ela só chegou ao Brasil em 1915.
Melhor assim: ela não presenciou a explosão que ocorreu no dia 1º de julho daquele mesmo ano de 1913 nos depósitos da estação. Foram 18 mortos entre ferroviários, soldados e civis, em um impacto que fez tremer o chão em pontos distantes da cidade. Um soldado teria manipulado com descuido pequenos tambores com pólvora e isso ocasionou a tragédia, que acabou gerando o primeiro trabalho foto-jornalístico de Curitiba, de autoria do então fotógrafo novato Arthur Wischral.

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