domingo, 30 de agosto de 2020

Audi TTS, Alemanha - Jeremy Clarkson




Audi TTS, Alemanha - Jeremy Clarkson
Fotografia


Existem muitas maneiras de pegar no sono. Meu método preferido é imaginar que meu colega James May está explicando como a eletricidade funciona ou mostrando as realizações do escritor e aventureiro T. E. Lawrence.
Mas, como você nunca viu realmente o James May sem edição, isso não vai funcionar no seu caso. Então, que tal o seguinte como sugestão? O Audi TT.
É o carro emocionante menos empolgante já feito. Tão perfeito e extraordinário quanto o cumprimento de um diplomata: ele vem até você com um sorriso radiante e um terno impecável, mas é incapaz de causar arrepios.
Se fosse uma pessoa, seria daquelas que concordam com tudo que qualquer um fala.
Nos tempos do Top Gear, levamos um Audi TT à Islândia e produzimos o que certamente foram os 20 minutos mais sem graça da história da TV.
Os céus, os glaciares e os vastos campos de lava fizeram o que podiam, mas não foram páreo para a sorridente falta de sal do personagem principal.
Eu dei o melhor de mim para pensar em risos loucos, mas não houve nenhum. Era apenas um bom carro.
Mais tarde, no The Grand Tour, tentei de novo com o TT RS, levando-o para a Croácia. Você se lembra? Não, claro que não. É como tentar se lembrar do que você comeu no almoço de uma terça-feira de 1986.
O carro era fabuloso. Tinha uma aceleração que acompanhava de perto o Nissan GT-R. Ele era capaz – e conseguiu – de superar um Ariel Nomad em um estágio de rali.
E era robusto, bem fabricado, produzia ruídos vulcânicos, não era muito caro e… você não se lembra de nada dele.
O Audi RS 3. Desse você pode se lembrar bem claramente. Esse foi um carro que conquistou o coração de gearheads de todo o mundo.
Mas mesmo que o TT RS fosse basicamente igual sob a carroceria, não fez um único bip no seu radar.
Imagine minha decepção, então, quando na semana passada descobri que iria avaliar mais um Audi TT. Desta vez, uma versão conversível do modelo TTS. Pelo amor de Deus!
Uma olhada rápida no interior revela apenas um design bem pensado e um porta-malas surpreendentemente grande.
Os botões são grandes e fáceis de usar. A tela do GPS está dentro do painel de instrumentos, na sua linha de visão. Os bancos são confortáveis e apoiam bem.
Já faz mais de 100 anos que a humanidade fabrica automóveis, e o TT mostra que a Audi está na sua melhor forma.
Todas aquelas coisas que antigamente nos irritavam desapareceram. Agora só existe uma muralha de bom senso sobre uma bela base de pragmatismo.
Felizmente, no entanto, o TTS Roadster reservava algumas surpresas. A primeira chegou como um esterco de elefante no meio de um programa infantil, quando fui dar uma volta pelo centro de Londres.
A pavimentação das ruas da região é ruim – não tanto quanto as de Nova York, mas o suficiente para ser incômoda em qualquer carro que não esteja acertado para trafegar por elas.
E o TTS ficou se sacudindo inteiro. Eu coloquei a suspensão no modo Comfort, mas o problema continuou. Ou seja, não é um carro em que seu passageiro vai ser capaz de teclar um texto coerente.
É claro que se pode argumentar que isso ocorre porque se trata da versão S de um cupê esportivo.
E eu não me incomodaria com os solavancos, mas para que serve um modo Comfort quando ele não traz nenhum conforto real?
Mais tarde eu saí de Londres para uma viagem ao interior e, muito antes de chegar à rodovia M25, tive de parar e verificar se a capota estava vedando corretamente. Ela estava. Logo, o carro é barulhento de propósito.
Você pode ouvir cada átomo esfregando na capota de tecido até o limite de velocidade da rodovia, quando seus gritos angustiados são abafados pelo espantoso ruído dos pneus.
É um carro que vai lhe dar uma dor de cabeça.
O dia seguinte estava ensolarado, por isso baixei a capota do Audi e dirigi em estradas secundárias até um bar. E o serviço normal voltou. Tudo foi adorável.
Se fosse um filme, seria Vingadores: Ultimato, um maravilhoso exemplo do cinema do século 21.
Ao chegar ao campo aberto, estava ventando bastante. Mas então encontrei um botão que levanta um pequeno defletor atrás dos bancos e, depois que o apertei, o vento sumiu.
Eu senti falta da aceleração do TT RS e do seu ruído, mas o modelo TTS é bem menos caro e, pelo seu preço, foi tudo o que eu poderia esperar.
O conforto da suspensão, tão ruim na cidade, tornou-se suportável, a direção estava adorável e também teve uma coisa muito boa: foi o primeiro Audi TT que dirigi recentemente que não veio com freios barulhentos.
Então, eu compraria um? Bem, não. O ruído na rodovia é alto demais e eu passo tempo demais sacolejando pelas poucas ruas de Londres que ainda não foram transformadas em ciclovias.
Mas há mais do que isso: é porque um carro desse tipo nunca me atrairia para uma voltinha.
Toda essa potência, centenas de quilômetros de espaço livre para a cabeça, tração nas quatro rodas e, sabe o quê? Vou a pé. Preciso me exercitar.
Imagino que seria a mesma coisa com o Mercedes-Benz SLC e o novo BMW Z4. Eu não andei em nenhum deles, mas suspeito que ambos sofrem do mesmo problema que o Audi: a incapacidade de lhe lançar um olhar sedutor.
Elas são apenas máquinas muito, muito boas, mas o que você realmente quer de um conversível esportivo é algo diferente, algo a mais.
E é por isso que eu preferiria ter um infinitamente mais terrível Triumph TR6, mesmo quebrando sempre que estivesse frio e superaquecendo toda vez que fizesse calor.

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