Toyota Hilux, Japão - Jeremy Clarkson
Fotografia
Há muitos anos, quando apresentava o Top Gear, eu
assistia ao telejornal e, como de hábito, havia vários vídeos de pessoas do
Oriente Médio atirando em americanos de dentro das caçambas de suas
picapes Toyota.
Eu não podia deixar de pensar: o quanto elas são
resistentes? Então, no dia seguinte, compramos uma
Hilux e decidimos ver o quanto de estragos ela suportaria antes
de parar de funcionar.
Eu a fiz bater em várias coisas, joguei-a de um
guindaste, ateei fogo nela, atingi-a com uma bola de demolição, deixei-a sob o
mar por horas e, quando nada disso a fez parar de funcionar, a colocamos no
topo de um prédio que então foi implodido.
Isso foi um enorme risco, porque se a Hilux não
tivesse se recuperado de uma de suas provações, teríamos sido forçados a dizer:
“Bom, aí está, pessoal. Você não pode deixar uma picape Toyota no mar e esperar
que ela funcione”. E o público teria respondido: “Ah, é? Não me diga…”
Felizmente, a Hilux sobreviveu a todas as torturas e esse
episódio deve ser a coisa mais lembrada que já fizemos. Acho que até a Toyota
ficou um pouco espantada com sua durabilidade, pois a picape em frangalhos, mas
ainda capaz de funcionar, passou algum tempo na recepção de sua sede mundial no
Japão.
Anos depois, quando decidi que o James May e eu deveríamos
viajar de carro até o Polo Norte sem nos esganarmos, havia um
único veículo que achamos que estava à altura da jornada: a versão mais nova da
Hilux. “Errado”, disseram nossos contatos na Islândia.
“Ela continua sensacional se quiser atirar em americanos,
mas para cruzar um oceano congelado teria de ser reforçada e receber pneus
enormes e um tanque de combustível maior.” E, assim, apesar de termos usado uma
Hilux bem modificada, toda manhã o motor pegava, mesmo com um frio de -50 oC,
e nenhuma peça parecia ter sido afetada.
Não é de admirar que a Hilux topo de linha no Reino Unido
agora seja chamada de Invincible X.
Alguns dizem que, desde que a Land Rover tirou o Defender
de linha, os fazendeiros dos rincões mais inóspitos da nação ficaram meio
desamparados. Mas a verdade é que eles migraram para picapes.
Resistência, durabilidade e custo/benefício: você
consegue tudo isso com a Nissan, Mitsubishi e, é claro, Toyota. Por aqui, a
Hilux básica custa 24.155 libras.
Já a cabine dupla toda equipada, com GPS, bancos de
couro, capacidade de rebocar 3,5 toneladas e uma caçamba que é medida em
hectares, custa 37.345 libras. Isso significa 37.345 libras por algo que é um
Range Rover com porta-malas maior.
Eu usei uma em Oxfordshire e não lembro de outro carro
que atraísse tanto a atenção. Pedreiros, marceneiros e fazendeiros não têm
tempo para supercarros ou off-roads de butique usados por turistas de fim de
semana.
Eles só gostam de picapes e, no mundo deles, uma Hilux
Invincible, topo de linha, é mais incrível do que a carruagem dourada da
rainha. Eu vi um camponês, com o rosto curtido pelo tempo, chegar a acariciá-la
ao passar por ela.
No dia seguinte, no meu sítio em Oxfordshire, tudo estava
indo bem, quando cheguei a um pequeno morro. Sim, ele é um pouco íngreme e o
piso estava molhado. Mas meu velho Range Rover já o encarou de olhos fechados.
Então, a Hilux – que expulsou os americanos do
Afeganistão e do Iraque e hoje está mantendo os russos à distância na Síria –
não teria nenhum problema.
Eu nem me preocupei em ativar qualquer um dos recursos
off-road mais pesados. Mas, espere aí: o que é isso? As rodas estão girando em
falso!
Então parei, girei o botão para selecionar a reduzida e
apertei outro para bloquear o diferencial traseiro. Para meu espanto, muitos
bipes soaram e luzes piscaram – para me dizer que nenhuma dessas coisas estava
funcionando direito.
Eu teria ficado menos surpreso se o sol tivesse nascido
no Oeste. Por isso, pensei que tinha feito algo errado. Mas não. E ela não saía
do lugar. Então, desci o morro de ré, desligando tudo. Daí liguei tudo de volta
e, de novo, só consegui bipes e luzes. Dei ré mais algumas vezes, já que isso
costuma funcionar. Mas só consegui mais lama nos pneus.
Mal posso acreditar. Eu estava numa Hilux, no terreno
suavemente ondulado de Cotswolds, atolado. E, o mais incrível, por causa de uma
falha mecânica. Só que não era isso.
Eu estava atolado ali porque, em vez das antigas
alavancas que a Toyota costumava usar, o câmbio e o diferencial são operados
eletronicamente, e eletrônica em um carro projetado para vencer batalhas contra
aviões de ataque e helicópteros blindados é algo tão burro quanto eletrônica em
um arpão de caça submarina para defesa contra tubarões.
A pior coisa sobre eletrônica é que as falhas são quase
sempre intermitentes. Então, depois de desligar a Hilux, andar até minha casa e
voltar com outro carro e um cabo de reboque, ela funcionou e saiu do atoleiro
por conta própria. Mas daí o bloqueio do diferencial e a reduzida não queriam
desativar. Isso durou uns 15 minutos.
Por fim, resolveram obedecer. Foi irritante para mim, e
seria bem mais irritante para um fazendeiro de verdade. Com o Brexit vindo, não
há mais tempo para quebras no meio da temporada de nascimento de cordeiros. Já
no Oriente Médio, talvez fosse fatal.
Eu poderia continuar, para dizer que o motor da Hilux é
um pouco áspero e que o espaço para os passageiros do banco de trás é apertado.
Mas isso é meio falar para uma pessoa com câncer terminal que ela tem uma unha
encravada.
O fato é que existe uma única razão para comprar uma
Toyota Hilux. Que ela será inquebrável. Mas a minha quebrou.
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