Volvo XC40, Suécia - Jeremy Clarkson
Fotografia
Há algumas semanas não pude deixar de notar numa noite
que havia no estacionamento um Volvo XC40 novo com o motor ligado.
Ninguém estava nele e também não havia ninguém por perto,
por isso, quando cheguei lá, perguntei de quem era.
“Meu”, disse uma amiga. “Eu o peguei ontem.” Eu então
expliquei que o motor estava ligado. “Eu sei”, falou ela. “Não consegui
descobrir como desligá-lo.”
Soube que ela tinha tirado o carro da concessionária,
dirigido até sua casa, mas não sabia que é preciso colocar a alavanca de câmbio
em Park para que o motor desligue.
Então ela o deixou ligado, entrou em casa, jantou, foi
dormir e, na manhã seguinte, usou o carro para ir até um torneio de tênis. Na
cabeça dela, o carro tinha sido projetado para o motor ficar sempre ligado.
O que levanta uma pergunta: para que avaliar carros para
pessoas que acham que o motor deve ficar ligado por toda a vida útil do
veículo?
Mais do que isso: em um mundo em que meninas suecas podem
ditar a política do governo para energia nuclear, indústria e agricultura, para
que fazer qualquer análise de carro?
Eu vejo toda semana a venerável revista Autocar publicando
testes de 3.000 palavras sobre um Renault Dingleberry qualquer e fico pensando:
por quê?
Ele fala sobre a banda de rodagem dos pneus, como o carro
sai de traseira e como a direção reage às manobras, mesmo que o consumidor
moderno não saiba sequer como desligar um motor.
No passado, quando automóveis eram trazidos à existência
pela mente aventureira de um louco e as tais “estradas abertas” realmente
existiam, fazia sentido realizar testes de carros, porque um Jaguar e um Rover
eram bem diferentes.
As empresas faziam experiências com novos tipos de eixos,
novas embreagens e novos freios. Era tudo cheio de vida e empolgante, e não
havia vans com radares de velocidade móveis.
Isso não existe mais. Sob a carroceria, é quase certo que
seu carro seja praticamente idêntico ao do vizinho. Eles foram todos apertados,
esmagados e martelados até a uniformidade por normas de segurança e
regulamentações de emissões.
E os jovens não querem dirigir carro nenhum, pois carros
são caros para comprar, andar, estacionar e fazer manutenção, e é mais fácil
usar um transporte público que tenha Wi-Fi. Mas a Autocar continua a
fazer testes nas curvas das estradas do País de Gales achando que todos
gostariam de ter um Datsun 240Z.
Como o Volvo XC40 se comporta em um campo de provas é
pouco relevante porque ele está sendo comprado por pessoas que – vou repetir –
não sabem desligar o motor.
Se eu fosse comprar um SUV como esse Volvo, seria um
Range Rover Evoque, pois experimentei a nova versão – tentando ser
compreensível a uma audiência mais interessada em couve e fones de ouvido – e
tenho de dizer que gostei, especialmente dos bancos, revestidos de tecido.
Não sei por que bancos de couro são vistos como item de
luxo. A rainha Elizabeth não se senta em móveis de couro, porque são quentes
demais num dia quente e frios demais quando faz frio. Sim, couro é mais fácil
de limpar, mas qual foi a última vez que você teve um “acidente”’ nas calças
enquanto dirigia?
A outra razão pela qual gostei do Evoque é porque eu
gosto dos Range Rover. Eles são elegantes e, por trás das telas de vidro e dos
elogios nos bairros chiques, eles realmente funcionam quando estão enfiados no
barro até a altura da maçaneta.
Mas estou ciente de que muitas pessoas não gostam dos
Range Rover. Elas contam piadas sobre porcos-espinhos e dizem que são carros de
traficantes de drogas. Se a marca for comprada pelos franceses, uma
possibilidade enquanto escrevo esta coluna, será outra fonte de gozação aqui no
Reino Unido.
Porém, se você quisesse um SUV médio até pouco tempo
atrás, não teria outra opção. Ou melhor dizendo: havia centenas de opções, mas
todas elas eram porcarias. Pouco ousados, deselegantes, grandes demais, caros
demais, inúteis fora da estrada e sem graça nela.
Mas, nos últimos anos, essas alternativas começaram
a ficar bem legais. É nessa categoria que o Volvo XC40 se destaca. É um carro
muito bonito, confortável e bem equipado, com uma tela legal, Apple CarPlay e
som Harman Kardon como opcionais.
E tem também aquele bom senso típico de um Volvo, mesmo
que o carro seja construído na Bélgica, por uma montadora chinesa.
Há não muito tempo, a Volvo disse que todos os seus
modelos teriam motores diesel, mas daí veio aquela eco-meia-volta que fez com
que esses veículos deixassem de ser atraentes. Então agora a Volvo está
querendo se garantir, e o XC40 tem hoje várias opções de motores, com
versões elétricas e híbridas em breve.
Você também pode ter câmbio manual ou automático e tração
4×2 e 4×4. Fique com o 4×2, porque se deseja que todas as rodas tracionem, está
precisando mesmo é de um Evoque.
A não ser que não esteja interessado em se manter vivo.
Não estou dizendo que o Range Rover não seja seguro. Tenho certeza de que é,
mas o Volvo parece estar em outro nível. Veja assim: em 15 anos, o número de
pessoas mortas em um XC90, modelo muito vendido, foi de… zero.
E seu irmão menor está tão recheado de recursos de
segurança que acho que você correria mais riscos em um jogo de bocha. Ele
analisa a estrada à frente em busca de obstáculos e, se você não agir depois de
alertado, ele aciona os freios por você.
A direção ignora seus movimentos e assume o controle se
achar que você sairá da estrada. E se isso vier a acontecer, os cintos de
segurança se apertam e a estrutura do banco se recolhe, para tornar o impacto
mais suave se você bater em uma árvore.
E essa é só a ponta da declaração de missão da Volvo, que
é a de que até o ano que vem ninguém no mundo seja morto ou ferido seriamente
enquanto estiver em um Volvo. É um objetivo auspicioso.
Dirigibilidade? Velocidade? Consumo de combustível? Sim,
ele é relativamente bom em todas essas coisas, mas no mundo dos testes de SUVs
isso não importa. O que importa é o nível absoluto de segurança para pessoas
que não sabem desligar o motor.
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