Mercedes Benz S 560, Alemanha - Jeremy Clarkson
Fotografia
Nada do que ensinavam nas manhãs de quinta-feira na sala
de aula entrava na minha cabeça. Eu não prestava atenção, porque por trás da
capa dos livros eu lia uma revista de música que adorava.
E numa dessas quintas fiquei enfeitiçado por uma foto do
Robert Plant e do Jimmy Page descendo a escada do jato particular do Led
Zeppelin. Outras pessoas estavam descendo a escada ao mesmo tempo – garotas
hippies muito bonitas vestindo calças boca de sino. E tudo o que eu podia
pensar era: “O que será que acontece naquele avião?”
Aquela foto mudou minha vida, porque me ensinou que Jane
Austen e Adam Smith só me colocariam em um terno e me levariam a um cargo de
gerente. E eu não queria isso. Queria voar em jatos particulares. Vou ser
sincero: funcionou.
Usei jatos particulares várias vezes nos últimos 20 anos,
e estou certo de que as pessoas que me viram descendo pela escada deles
pensaram: “Quero isso”. Exceto na Inglaterra. Aqui, o que as pessoas pensam é:
“Quero que ele pare de fazer isso”.
Bem, vou ser sincero de novo. Viajar em jato particular
não é nada como você espera. Você continua precisando passar pela segurança do
aeroporto, onde pessoas que te odeiam tocam seus genitais.
Então você entra no avião, que sempre tem uma altura
interna de exatamente 5 cm a menos do que você precisa. Após a decolagem, uma
mulher cheia de maquiagem chega e lhe oferece sanduíches que acabaram de ser
feitos ontem e champanhe com rolha de plástico.
Você não pode ter rolha de verdade em um jato particular
mal vedada, porque a grandes altitudes ela saltaria da garrafa e sairia por uma
janela.
E, então, após várias horas de champanhe morno e
sanduíches de camarão com cara de validade vencida, você pousa. E desce pela
escada e todo mundo pensa que você é o Robert Plant e que transou com a
aeromoça. Mas a verdade é que você não é e não transou.
Eu estou fazendo parecer que a coisa é ruim, mas não é
tanto. Jatos particulares decolam quando você sobe a bordo e as pessoas não
tiram fotos de você dormindo e babando para depois colocar no Instagram. Então,
apesar da comida ruim e do tédio, eu sempre concordo quando alguém diz: “Vamos
em um jato?”
Mas hoje em dia as coisas estão mudando. A duquesa de
Sussex foi criticada por usar um jato particular para ir ao chá de bebê dela em
Nova York. E não apenas porque um chá de bebê é uma coisa besta, indigna da
realeza.
O Leonardo DiCaprio também foi forçado a abandonar os
jatos particulares depois que ele foi chamado de ambientalmente hipócrita.
E agora há firmas de aluguel de jatos particulares
pedindo aos clientes para plantar árvores e fazer doações para causas verdes
antes de assinar o contrato.
E eu fico pensando. Os gigantes corporativos vão fazer
isso? Não sei. Estou ciente de que viajar de jato particular produz uma enorme
quantidade de CO2 desnecessariamente e, refletindo um bom tempo no
banheiro hoje de manhã, decidi que não me importo.
Porque quanto tempo a mais eu consigo para o planeta
usando, em vez deles, a Ryanair? 0,0000001 segundo? Menos?
E tudo isso me leva ao Mercedes-Benz S 560 e L. Os Classe
S sempre foram jatos particulares para a estrada. E essa é a versão híbrida,
para que os mandachuvas corporativos andem por aí em uma nuvem de presunção, em
vez de fumaça.
Sob o capô há um V6 de 3 litros, o que nem de longe é
grande o suficiente para um carro desse tipo. Então, para ajudá-lo, ele tem
também um motor elétrico. Juntos eles produzem 476 cv de potência e 71,4 mkgf
de torque.
O que significa que o gigante pode ir de 0 a 100 km/h em
5 segundos. Na verdade, a usina de força híbrida entrega tanta força que,
às vezes, é difícil arrancar sem patinar um pouquinho.
Acho que o cara no banco de trás não vai ficar muito
entusiasmado se isso acontecer sempre que o semáforo abrir. Então, chofer, tome
cuidado.
Também há outro problema. Não estou sugerindo que
qualquer pessoa dirija a mais de 120 km/h na rodovia ou que qualquer um
deveria.
Mas, se fizer isso, e especialmente se chegar a 160 km/h,
a suspensão traseira começa a ficar perceptivelmente agitada. Eu temo que isso
possa ter algo a ver com o grande peso das baterias e do motor extra.
Já a Mercedes cita, como ponto positivo, que você pode
andar até 50 km usando somente energia elétrica, o que em Londres é suficiente
para alguém ir e voltar do trabalho.
Eu consegui andar apenas 33 km antes que o motor normal
entrasse em ação com um discreto “ahan”, o que não é um número ruim. E para
recarregar? Bem, você pode carregar na tomada ou usar o V6.
E, para ser sincero, o banco de trás é um lugar adorável.
Desde que o chofer James não dirija a uma velocidade tão
louca que faça seu queixo bater, há travesseiros embutidos em que você pode
descansar sua cabeça fatigada, a opção de descansos de perna estendidos
eletricamente e tanto espaço que mesmo eu não consegui tocar o assento na
frente dos meus pés.
O melhor de tudo, no entanto, é que meu carro de teste
veio com um DVD player.
Eu sei que atualmente você pode fazer streaming de filmes
da internet, mas pessoas mais velhas nem sempre são capazes de fazer isso. Elas
gostam das tecnologias antigas. Eu gosto.
Na semana passada, eu tinha terminado de filmar uma
temporada de Who Wants to Be a Millionaire? em Manchester, entrei no
banco de trás do Mercedes e comecei a assistir ao filme Butch
Cassidy e, quando estava no meio, cheguei ao destino final pensando que o
homem ainda não inventou uma maneira melhor de fazer uma jornada como aquela.
Eu levei meus sanduíches, meu vinho, meu filme e meu
motorista, e foi brilhante. Porém, fico pensando. Dizem que a Bentley está
trabalhando num híbrido desse tipo, e é provável que ele seja – como poderia
dizer? – um lugar menos germânico para se sentar.
Mas carros como esses podem ser realmente, mesmo que
remotamente, ecológicos? Comprar o S 560 é meio como voar até Nova York em um
jato particular e então acalmar sua consciência comprando uma orquídea.
Então, fico pensando se não é melhor você admitir que não
se importa e comprar a versão esportiva AMG.
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