sábado, 5 de fevereiro de 2022

Estátua em Madeira de São Pedro, Praça da Sé, São Paulo, Brasil

 






Estátua em Madeira de São Pedro, Praça da Sé, São Paulo, Brasil
São Paulo - SP
Fotografia


Texto 1:
Em 1968, o artista Agenor Francisco dos Santos esculpiu em madeira um monumento de 12 metros de altura e 31 toneladas. Tratava-se de uma estátua de São Pedro, um dos doze apóstolos de Jesus, pensada para presentear o papa Paulo VI. Era uma retribuição à rosa de ouro que o pontífice oferecera pouco antes ao Santuário de Aparecida. No entanto, a enorme tora de peroba nunca chegou ao Vaticano. A dificuldade e o alto custo do transporte inviabilizaram a ideia.
Construída dentro das dependências da prefeitura de São Caetano do Sul, a peça ficou exposta por alguns meses na Praça da Sé, na década de 70. Depois, porém, caiu no esquecimento. Acabou abandonada no Parque Ibirapuera. Em 1975, o então prefeito da cidade da Grande São Paulo, Walter Braido, convocou Santos para restaurar a escultura. Serviço feito, ela foi exibida em frente ao câmpus da atual Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS).
Em 1991, devido às obras de um novo prédio na instituição, o monumento passou por outra renovação. Contudo, em 2006, por motivos de segurança, precisou ser removido. Um laudo constatou danos irreversíveis em sua estrutura. Em 2013, a estátua foi incinerada. “Era uma obra surpreendente e, no fim, terminou infestada de cupins”, relembra o professor de administração da USCS Joaquim Celso Freire Silva.
Texto 2:
Um pedaço da história de São Caetano perdeu guerra travada por 44 anos contra os cupins. Esculpida em madeira, a estátua de São Pedro, um dos símbolos da cidade e que ficou exposta no jardim da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) por 26 anos, precisou ser incinerada devido ao comprometimento estrutural em 2013. O lamentável destino da obra de arte chama a atenção para a necessidade preservação das produções artísticas como forma de manutenção da cultura.
Assinada pelo escultor Agenor Francisco dos Santos, a estátua nasceu em 1969, um ano após o artista baiano ter apresentado ao prefeito Walter Braido, que estava em sua primeira gestão, a ideia de presentear o papa Paulo VI com imagem representativa de São Pedro Apóstolo. Aceito o pedido, começou o trabalho para trazer um tronco de peroba, que media 12,20 metros de comprimento e 40 centímetros de diâmetro e pesava 31 toneladas, da cidade de Cianorte, no Paraná. A expedição, que contou com a ajuda de 16 homens, oito guinchos e três caminhões, demorou 12 dias entre ida e volta.
A chegada da tora à cidade foi um marco, lembra o sociólogo José Roberto Gianello. “Quando os caminhões chegaram foi uma festa em frente à Prefeitura da época (Avenida Goiás). Montaram um galpão lá para o Agenor trabalhar e a população podia ficar observando”. Conforme o morador de São Caetano, nem todos davam a devida importância à obra. “Tinha muita gente interessada, mas também tinha quem ridicularizava por não entender.”
Dez meses após o início dos trabalhos e com investimento de 30 mil cruzeiros, a estátua foi concluída e, com isso, começou também imbróglio sobre sua destinação. Isso porque houve recusa por parte do Vaticano em receber o item devido aos altos custos e dificuldade para transporte.
A estátua de São Pedro ficou exposta na Praça da Sé, na Capital, por alguns meses e, depois disso, foi levada ao setor de parques e jardins da prefeitura local, onde ficou esquecida. Começou ali a primeira fase de sua degradação, já que parte da estrutura ficou apodrecida.
Em 1975, com o retorno do prefeito Walter Braido ao poder em São Caetano, houve o resgate da peça, que passou por restauro pela primeira vez. “O Glenir (Domingo Glenir Santarnecchi) que era secretário de Comunicação na época, denunciou esse descaso e resolveram que era preciso resgatar a estátua”, explica a presidente da Fundação Pró-Memória de São Caetano, Sonia Maria Franco Xavier.
Sem local definido para a estátua, o diretor da USCS, Imes na época, Oscar Garbelotto, sugeriu ao prefeito que a peça fosse instalada no jardim da instituição. Foi lá que a estátua de São Pedro ganhou uma casa. Permaneceu no local por quase três décadas, tendo em vista que foi removida entre 1991 e 1996 por conta das obras da universidade. “Ela era uma espécie de símbolo de fé do morador de São Caetano”, considera Sonia.
Em 2006, devido a uma infestação de cupins, a estátua foi removida em definitivo do jardim da USCS. A ação foi respaldada pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) após análise indicar a praga e a possibilidade de queda. Conforme a universidade, após “inúmeras tentativas de recuperação”, foi constatado que o problema era irreversível e poderia afetar outras estruturas, o que culminou no processo de incineração.
“Fica o exemplo do descaso do poder público, que é atrasado. Poucos são os municípios que se interessam em preservar. As famílias dos artistas também deveriam reivindicar cuidado com as obras de arte”, destaca Gianello.

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