A "Cidade Flutuante", Manaus, Amazonas, Brasil
Manaus - AM
Fotografia - Cartão Postal
À beira de rios e igarapés, em Manaus, um espaço - ainda
que improvisado - é sempre reservado a seus moradores. O que iniciou-se
culturalmente, com aspecto de bairro de área "nobre", hoje, resume-se
às infindáveis casas de palafitas que se espalham pelas margens da capital. O
tipo de habitação construída sobre troncos de madeiras, sob as águas do Rio
Negro, são, hoje, reflexo de uma realidade pobre. Mas a história já teve outra
narrativa.
De acordo com o historiador Otoni Mesquita, a cidade
flutuante que se destacava no crescimento urbano da capital na década de 50 era
situada nas proximidades da Feira da Manaus Moderna, no Centro. Lá funcionava
uma espécie de bairro flutuante. Comércios, restaurantes, consultórios de
médicos e dentistas, oficinas mecânicas... Tudo tinha ali, na cidade flutuante.
"Essa população em geral, oriunda do interior do
Estado, chegando em Manaus, não tendo para onde ir, foi se aglomerando em uma
pequena área e foi criado uma espécie de bairro. Havia açougue, tabernas,
várias atividades e uma certa libertinagem em relação ao local. É algo que,
persistiu [cidade]. Ela sempre atraiu um noticiário local, nacional e
internacional. Virou matéria em várias revistas nacionais e tinha um
destaque", contou.
Em 1966 a cidade foi "demolida". À época, eram
cerca 1.950 casas que compunham o bairro. Registros históricos apontam que a
média era de 11 mil e 500 moradores. Até cenário de filme foi, em meados dos
anos 60. Em seguida, veio a decadência. O estopim, aponta o historiador, foram
declarações árduas de um antigo governador, que taxava a área como
"vergonha para a civilização e desenvolvimento de Manaus".
"Infelizmente, ou felizmente, o governador [na
época] Arthur Reis decidiu extinguir aquilo que, para ele, era uma vergonha
para a civilização. Então dissolveu o bairro, porque não tinha infraestrutura.
Imaginamos esses lugares bem equipados, mas, na verdade, pelas nossas tradições
parece que é uma coisa impossível de acontecer" avalia o historiador
Otoni.
Após a demolição, os moradores da "cidade" se
espalharam por bairros periféricos de Manaus. "Alguns em áreas de risco e
que fizeram a cidade expandir, mesmo sem a infraestrutura, sem as mínimas
condições de habitação. Mas essa é uma cidade que ainda está em
construção", completou.
Mesmo com a extinção da cidade flutuante há mais de 50
anos, a cultura de construir casas em beira de rios e igarapés se perpetuou em
Manaus. Diferente de outras décadas, as casas já não são flutuantes. Hoje o
modelo mais comum são as casas de palafitas, de madeiras.
No bairro da Betânia, Zona Sul de Manaus, moradores sofrem
com problemas iguais da população daquela época: a falta de infraestrutura. Sem
saneamento básico ou condições melhores de vida, o período da cheia do Rio
Negro é o grande inimigo das famílias que tentam se manter nas improvisadas
novas cidades. Uma lástima...


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