terça-feira, 18 de agosto de 2020

Paço Ducal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, Portugal



Paço Ducal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, Portugal
Vila Viçosa - Portugal
Fotografia


O Paço Ducal de Vila Viçosa é um importante monumento situado no Terreiro do Paço da vila alentejana do distrito de Évora. Foi durante séculos a sede da sereníssima Casa de Bragança, uma importante família nobre fundada no século XV, que se tornou na casa reinante em Portugal, quando em 1 de Dezembro de 1640 o 8º Duque de Bragança foi aclamado Rei de Portugal (D. João IV) e, mais tarde, daria origem à Casa de Bragança-Saxe-Coburgo-Gota.
Vila Viçosa tornou-se sede do importante ducado de Bragança quando D. Fernando (1403-1461) sucedeu a seu pai, tornando-se o 2º Duque de Bragança, em 1461. Na verdade, o 2º Duque de Bragança recebera de seu avô, o Condestável do Reino, D. Nuno Álvares Pereira, o título de Conde de Arraiolos, pelo que quando chegou a Duque, não quis trocar as planuras alentejanas pelo Paço Ducal de Guimarães. Assim se estabeleceram os Bragança em Vila Viçosa, no primitivo Paço do Castelo. Porém, o seu filho, também D. Fernando (3º Duque de Bragança), veio a ser executado em 1483, por ordem de D. João II, acusado de traição, tendo a família sido exilada para Castela, de onde só regressaram em 1496, após a morte do Rei. Uma vez reabilitado o Ducado, o 4º Duque, D. Jaime, não quis habitar o Paço do Castelo, por estar ligado à memória do seu pai, mandando construir um palácio novo, no sítio chamado do Reguengo, assim começou a ser erguido o que é hoje o magnífico Palácio Ducal de Vila Viçosa.
As obras, comandadas por D.Jaime, iniciaram-se em 1501, sendo dessa época o claustro e a zona da capela, bem como as atuais salas da Armaria. Porém nova tragédia atingiria a ilustre família, quando D.Jaime, suspeitando (injustamente) da fidelidade de sua jovem mulher, a Duquesa D. Leonor de Gusmão, a mandou degolar. Entretanto a Casa de Bragança crescia em poder e em riqueza, fruto dos laços de parentesco com a Casa Real e com os feitos do Duque D. Jaime, que em 1513 comandou a vitoriosa expedição a Azamor.
O 5º Duque, D. Teodósio I, nomeado Condestável do Reino, em 1535, conseguiu negociar o casamento da sua irmã D. Isabel com o Infante D. Duarte (irmão do Rei D. João III). Aproveitando a necessidade de ampliar o Palácio para as faustosas festas do matrimônio real, em 1537, o Duque mandou construir a imponente fachada do palácio, revestida a mármore, ao gosto italiano, que hoje podemos admirar.
O Palácio conheceu ainda várias obras e melhoramentos até 1640, data em que o Duque de Bragança foi feito Rei, levando grande parte do seu notável recheio para o Palácio da Ribeira, em Lisboa. Doravante, o Palácio de Vila Viçosa seria apenas uma residência de caça e recreio para a família dos seus proprietários, agora senhores do trono de Portugal. D. João IV manteve porém a independência da Casa de Bragança relativamente à Coroa, destinando-a para morgadio do herdeiro do trono. No século XVIIID. João V fez ainda alguns melhoramentos (capela, cozinha e pavilhão dos quartos novos), na sequência das suas visitas a Vila Viçosa, nomeadamente para a chamada troca das princesas (casamento do príncipe D.José com uma Infanta de Espanha e do Príncipe das Astúrias com a Infanta D.Maria Bárbara), ocorrida na fronteira do Caia, em 1729. Também D. Maria I fez ainda alguns melhoramentos, acrescentando o corpo das Salas de Jantar e dos Vidros. Finalmente, no final do século XIX, o velho Paço seria ainda objecto de algumas obras, fruto da predilecção que os Reis D. Carlos e D. Amélia tinham por ele. D.Carlos apreciava muito o Palácio calipolense, aqui passando largas temporadas, quando promovia com os seus amigos (raramente trouxe convidados oficiais a Vila Viçosa) grandes caçadas na extensa Tapada Ducal.
Com efeito, foi neste palácio que o Rei D.Carlos dormiu a sua última noite antes de ser assassinado, em 1 de Fevereiro de 1908 (conservando-se intactos desde então os seus aposentos). No último reinado, o paço de Vila Viçosa acolheu ainda a visita do Rei Afonso XIII de Espanha a D. Manuel II, em Fevereiro de 1909.
Após a proclamação da república, em 1910, o Palácio de Vila Viçosa, bem como todos os bens da Casa de Bragança, permaneceram na posse do Rei D.Manuel II, por serem bens familiares do Rei e não do Estado. Em 1933, na sequência das disposições testamentárias de D. Manuel II (falecido em 1932), o Palácio integrou a Fundação da Casa de Bragança, que abriu as suas portas ao público, como museu. Nessa época o Paço recebeu ainda grande parte dos bens móveis, obras de arte e a preciosa biblioteca do rei exilado (provenientes da residência de Londres).
O Palácio apresenta uma grande colecção de obras de arte (pintura, mobiliário, escultura, etc..), sendo particularmente nobres as salas do primeiro piso, de que são exemplos as Salas da Medusa, dos Duques (com retratos de todos os duques até ao século XVIII, no teto) e de Hércules, muitas delas enobrecidas com belíssimos fogões de sala de mármore esculpido. Permanecem particularmente vivas no palácio as memórias dos dois últimos reinados (fruto da especial predileção que por ele tiveram os soberanos), como se pode observar nos aposentos régios e nos inúmeros exemplares da obra artística do rei D.Carlos (aquarelas e pastel). A cozinha apresenta uma das maiores colecções de baterias de cozinha, em cobre. São ainda de realçar a Biblioteca (com exemplares bastante preciosos) e a armaria. Nas antigas cocheiras está instalada uma secção do Museu Nacional dos Coches, onde entre outras carruagens, se pode admirar o landau que transportava a Família Real no dia do regicídio.
Bem no interior de Portugal, numa cidadezinha alentejana chamada Vila Viçosa, que tem menos de 10 mil habitantes, fica um palácio tão rico e luxuoso para nem Versalhes colocar defeito. O Paço Ducal de Vila Viçosa é um edifício que começou a ser construído em 1501 pelos Duques de Bragança. Anos mais tarde, essa família assumiu a coroa portuguesa, instaurando assim a Dinastia de Bragança. E foi a responsável, inclusive, pelos reinados no Brasil, com Dom Pedro I e Dom Pedro II.
Hoje é possível ficar impressionado com a fachada de 110 metros coberta de mármore, circular pelos salões do palácio, suas pinturas, peças de tapeçaria, esculturas, móveis e objetos de decoração. O palácio pertence à Fundação da Casa de Bragança, criada pelo último rei de Portugal, D. Manuel II, que deixou em testamento a iniciativa da fundação para gerir seus bens familiares que não pertenciam ao estado português, transformando em museu o paço em Vila Viçosa.
Porém, é preciso voltar muitos anos para entender o porquê dessa pequena cidade, que fica a cerca de 190 km de Lisboa, abrigar um palácio tão magnífico. E senta que lá vem história, porque é dessas narrativas medievais cheias de reviravoltas e busca pelo poder.
D. João I, também conhecido com Mestre de Avis, era filho ilegítimo de D. Pedro I, o de Portugal, não do Brasil. Quando seu irmão, filho legítimo, D. Fernando I, morreu, rolou uma crise sucessória. A única filha legítima que restava era casada com o Rei de Castela, o que ameaçava a independência de Portugal. E a rainha não era também nem um pouco querida pela corte, porque assumiu publicamente um affair com um nobre galego. Além do Mestre de Avis, competia pela sucessão outro irmão, que também se chamava João, mas era filho de D. Pedro I com a D. Inês de Castro, a rainha morta.
Com o apoio da nobreza, entre eles um jovem chamado Nuno Álvares Pereira (guarde esse nome), o mestre de Avis foi até o Paço Real, em 1383, e assassinou o amante da rainha. Como seu irmão legitimo foi capturado e preso em Salamanca pelo Rei de Castela, o caminho estava aberto para o Mestre assumir o poder. Só que obviamente isso não aconteceria sem uma boa briga: o Rei de Castela, por conta do casamento, se declarou rei de Portugal, e de 1383 a 1385 uma guerra civil se desenrolou no país, com cada vila e casa nobre apoiando um lado.
O tal nobre antes mencionado, D. Nuno Álvares Pereira, provou-se um grande general e estrategista a favor do Mestre de Avis e, futuramente, ganhou o título de Condestável de Portugal. Ele foi o responsável pelas inúmeras vitórias que garantiram que em 1385 D. João I fosse declarado rei pelas cortes portuguesas. Isso não quer dizer que a guerra com Castela acabou, porém. Os conflitos se arrastaram até 1400, com a assinatura, no ano seguinte, de um tratado de paz e reconhecimento da independência de Portugal.
O Condestável de Portugal, que também era filho bastardo, passou a ser muito amado por conta de seu papel fundamental na independência contra Castela. Com isso, lhe foram doadas pelo rei diversas terras, tornando-o principal senhor do reino. E aí entra a sua capacidade estrategista, para além da área militar. D. Nuno tinha uma única filha, D. Beatriz, e dada sua posição na corte, somente um casamento real estaria a sua altura. Porém, caso D. Nuno aceitasse isso, seu nome se misturaria com o da casa real e não faria juz ao seu legado. Resolveu então casar D. Beatriz com o filho ilegítimo do rei, D. Afonso. Com isso, em 1401, o Rei cria o Ducado de Bragança e doa uma série de terras ao casal – e D. Nuno faz o mesmo, tornando a Casa de Bragança a mais rica de Portugal.
As estratégias de consolidação familiar de D. Nuno não param por aí. Em 1415, quando decide largar a vida militar e se dedicar à caridade e a religião, ele distribui toda a herança igualmente aos três netos. Isso não era comum para época: normalmente, a herança seria concentrada para sua filha ou, muito raramente, ao neto primogênito. Porém, ao fazer isso, garantiu poder, dinheiro e uma capacidade para alianças matrimoniais que normalmente segundos filhos nunca teriam. Isso tudo sem atrapalhar em nada o ramo principal da Casa, que já era riquíssimo.
D. Nuno seguiu sua vida religiosa e foi canonizado santo em 2009. Sua família, com essa estratégia, cresceu forte, com ramificações poderosas, casamentos dignos de reis, sobrevivendo aos reveses históricos sem perder a importância. Passou a ser conhecida como a sereníssima Casa de Bragança. Em 1501, D. Jaime, no cargo de Duque, começou a construir o Paço Ducal de Vila Viçosa.
Em 1580, quando o rei D. Sebastião desapareceu (provavelmente morreu, mas não se tem certeza) numa batalha no Marrocos, iniciou-se uma nova crise sucessória. O resultado, porém, foi menos favorável à independência Portuguesa, porque foi o rei Filipe II da Espanha quem assumiu o trono. E então, durante 60 anos, Portugal foi governado por monarcas espanhóis. Ao mesmo tempo, o palácio em Vila Viçosa funcionava como uma corte paralela, não só militar mas também com vida cultural única no país.
Os reis espanhóis, atentos ao perigo que a casa de Bragança representava, lhes vetaram casamentos para controlar aumento de terras e ainda mais proximidade com casas reais. Não foi suficiente, porém, para impedir que, em 1640, os nobres portugueses se revoltassem contra a dinastia filipina e fizessem a revolução de Restauração da Independência. Tal revolução estava centrada na ascensão de D. João, Duque de Bragança, ao título de D. João IV. E a casa de sua família iniciou a Dinastia de Bragança, que governou o Brasil até 1889 e Portugal até 1910. Literalmente, indo de bastardos a imperadores em algumas centenas de anos.
Com a ascensão do Duque de Bragança à rei, o paço ducal perdeu um pouco de prestígio, pois passou de residência principal à apenas mais uma das propriedades da coroa. Mesmo assim, algumas mudanças ao longo dos reinados foram feitas, principalmente no século 19, nos reinados de D. Luís e D. Carlos, que passaram a frequentar o Paço anualmente no verão. Inclusive, o rei D. Carlos dormiu no palácio sua última noite antes de ser assassinado, em 1908 – e seus aposentos foram conservados intactos e fazem parte da visita. Em 1910, a república foi proclamada, o Paço foi fechado e somente foi reaberto 40 anos depois, com a criação da Fundação da Casa de Bragança.
Atualmente é aberto à visitação, através de visita guiada, e funciona o ano todo. A entrada custa 7 euros e o passeio dura cerca de uma hora. Também é possível visitar, por um valor adicional, a Armaria, a Coleção de Porcelanas Chinesas e o Museu de Carruagens. Não é permitido tirar fotos dentro do palácio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário