Tatra T87 1947, Tchecoslováquia / Atual República Tcheca
Fotografia
Pouco conhecida fora do Leste Europeu, a Tatra hoje é
mais conhecida pelo êxito de seus enormes caminhões fora de estrada em ralis,
especialmente as seis vitórias no Dakar. Muitos nem sequer imaginam que o
fabricante checo produziu automóveis de passeio por mais de um século: o ápice
de sua criatividade e inovação ocorreu nos anos 30, sob o comando do engenheiro
Hans Ledwinka.
Patrício do austríaco Ferdinand Porsche, ele iniciou o
projeto de um carro popular com o apoio dos engenheiros Erich Ledwinka (seu
filho) e Erich Überlacker: a frente curta e a traseira em queda foram definidas
pelos estudos aeronáuticos do húngaro Paul Jaray, responsável pelo perfil do
dirigível Zeppelin.
Chamado V570, sua versão definitiva surgiu em 1933, mas a
Tatra considerou que as inovações fariam mais sentido num automóvel maior e
mais luxuoso.
Assim surgiu o T77, um sedã de 5 metros e quatro portas
com linhas esguias e fluidas: seu espantoso coeficiente aerodinâmico (Cx) era
de 0,212 – menos que um eficiente Toyota Prius, de 0,25. Tal recurso foi
possibilitado pelo motor V8 3.0 de 60 cv refrigerado a ar, atrás do eixo
traseiro: a eliminação do cardã permitiu colocar os ocupantes numa posição mais
baixa, reduzindo a altura da carroceria.
Estrela do Salão de Berlim em 1934, ele cativou Adolf
Hitler e vários oficiais alemães, seduzidos pela velocidade máxima de 150 km/h.
Muita gente, porém, morreu por não saber que boa parte dos 1,700 kg estava
concentrada sobre o eixo traseiro, tornando sua condução extremamente perigosa.
Insatisfeito com esse comportamento arisco, Ledwinka
optou por aperfeiçoar o conceito com um novo modelo, o T87. Apresentado em
1936, ele era menor (4,74 metros) e mais leve (1 370 kg). A dirigibilidade
melhorava com a nova distribuição de peso: 38% no eixo dianteiro e 62% atrás,
graças a um novo V8 menor e mais leve, com 2,9 litros, comandos nos cabeçotes e
85 cv de potência.
O Cx subia para 0,36, mas permitia desempenho e consumo
incomuns para a época: máxima de 160 km/h e média de 7 km/l. Foi o primeiro
Tatra com carroceria monobloco: a coluna central suportava as quatro portas –
as dianteiras eram do tipo suicida.
O para-brisa tripartido e os três faróis proporcionavam
boa visibilidade, comprometida só pelas largas colunas traseiras e pelo pequeno
vidro traseiro, obstruído pelas saídas de refrigeração e pela barbatana
longitudinal que atuava como um leme de avião, melhorando a estabilidade
direcional em alta velocidade.
O interior era o retrato da exigência de seu dono: espaço
e conforto garantidos pelos 2,85 metros de entre-eixos e suspensão independente
nas quatro rodas. Volante tipo banjo, instrumentos com aros cromados e alavanca
de câmbio pivotada no assoalho marcavam o estilo art déco.
Ocupado pelo estepe, o porta-malas dianteiro carregava só
miudezas: havia outro compartimento atrás do banco traseiro. O T87 deu origem
ao T97, também em 1936: era menor, mais leve e tinha motor 1.8 boxer de quatro
cilindros capaz de levá-lo a 130 km/h.
Sua produção foi encerrada em 1938, após a ocupação alemã
da Checoslováquia: o T97 era rival do Fusca e atrapalhava os planos da estatal
Volkswagen. Durante a Segunda Guerra, a Tatra passou a produzir todo tipo de
material bélico para as tropas alemãs.
O T87 continuou sendo fabricado em baixa escala: era o
carro preferido de Fritz Todt, inspetor das rodovias alemãs. Após o conflito, a
Tatra foi acusada de colaborar com os nazistas e acabou nacionalizada: cerca de
3 000 T87 foram feitos até 1950, pouco tempo após a ascensão do partido
comunista.
O raro exemplar que ilustra esta reportagem foi fabricado
em 1947 e pertence ao colecionador Andre Beldi. Sob nova direção, a Tatra
vivenciou um hiato de seis anos até retomar a produção de carros de alto luxo:
o T87 foi sucedido pelo modelo 603, com produção limitada e restrita a oficiais
das forças armadas, membros do partido comunista e líderes políticos do Leste
Europeu e demais países socialistas.
Hitler admirava Ledwinka, que trocava ideias com Porsche:
é inegável a semelhança dos Tatra com o Fusca, que surgiu só em 1938. A
polêmica foi parar nos tribunais nos anos 30, mas o acordo veio apenas em 1961,
quando a Volks aceitou indenizar a Tatra em 3 milhões de marcos alemães.
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