terça-feira, 4 de agosto de 2020

Lamborghini Aventador SVJ Roadster, Itália - Jeremy Clarkson








Lamborghini Aventador SVJ Roadster, Itália - Jeremy Clarkson
Fotografia


Ferruccio Lamborghini começou do nada. Mas tinha uma mente perspicaz. Por isso, após a guerra, percebeu que a Itália precisava se mexer.
Ele juntou então peças de Morris e fez um trator. Dê um desconto para o fato de que era necessário dar a partida com gasolina e então mudar para diesel antes de arrancar.
Era uma máquina. E italianos gostam de máquinas, especialmente quando podem usá-las para cultivar uvas para vinho.
Depois de ganhar algum dinheiro com seus tratores, ele começou um negócio de fabricação de aquecedores alimentados a óleo.
Mas daí ele percebeu que a Itália era um país relativamente quente e, por isso, usando seus astutos miolos, ele desenvolveu um sistema de ar condicionado.
E logo ele pôde comprar uma Ferrari 250 GT, cuja embreagem dava problema o tempo todo. Por isso ele a levou a Maranello, onde Enzo Ferrari basicamente disse para ele ir se catar. Ferruccio, então, decidiu fabricar seus próprios carros.
Ele teve essa ideia louca de que poderia montar um V12, de lado, no meio do carro, atrás do motorista. E ocorreu que ele estava certo. Poderia. Então surgiu o Miura – o primeiro supercarro de motor central do mundo.
Sua aerodinâmica era tão ruim que a cerca de 130 km/h ele tentava decolar. Mas seu visual era sensacional e, na verdade, é o que a maioria das pessoas quer em um supercarro.
Desenhado de modo que nenhum ser humano pudesse caber dentro, ele tinha uma direção assentada em concreto, o tipo de embreagem que Deus usa para dar partida em galáxias e a visibilidade geral de uma caixa de correio.
Mas em 1971 ele veio ao mundo com o impacto que um helicóptero de ataque Apache teria tido na Batalha de Hastings. Era um carro de pôster, um precursor do bico de seio direito da Farrah Fawcett.
Depois disso, as coisas começaram a dar um pouco errado. Graças à revolução na Bolívia, que era um grande mercado para tratores Lamborghini, e à crise do petróleo, Ferruccio decidiu gastar mais tempo na sua exclusiva lancha de dois motores Lambo, a Riva Aquarama.
Daí o negócio de tratores foi adquirido por um concorrente italiano e a operação de carros por diversos suíços. A isso se seguiram um período de desordem e carros terríveis, até que a Lamborghini acabou nas mãos da Audi.
O resultado desse casamento foi o Aventador e, sem rodeios, ele foi facilmente o mais supercarro dos supercarros. Definitivo.
É um carro que conheço bem. Dei tudo em um Aventador na assustadora pista de testes de Nardo, no sul da Itália. Usei um para uma subida de montanha na Suíça.
E passei dois dias disparando em um no meu circuito favorito, Ímola. Tem uma coisa que posso te dizer. Ele não é um carro de corrida. O que o Aventador faz muito bem é “ser um carro”.
Já cruzei a Itália uma vez com ele, e o carro era silencioso, fácil de guiar e civilizado. E é por isso que fiquei encantado quando recebi o novo Aventador SVJ Roadster, de edição limitada.
Ele é mais largo do que o carro padrão e tem um sistema de escapamento revisado, cujos canos monstruosos ficam exatamente na altura da cabeça de um ciclista que te seguir. Também tem um novo sistema de aerodinâmica controlada eletronicamente, que muda o formato do carro à medida que você dirige.
Assim, nas retas ele é liso e escorregadio, e nas curvas se torna pesado e gordo com ar, para melhorar a aderência. Também tem um monte de aderência mecânica, graças à tração integral e ao esterçamento das quatro rodas.
Junte a isso um V12 misericordiosamente não turbocomprimido, que produz 760 cv, e você tem um carro que fez a volta do circuito de Nürburgring em seis minutos e 44 segundos. Nenhum carro de produção jamais fez um tempo abaixo disso.
Eu gostaria, no entanto, de conhecer quem o pilotou, porque uma coisa é certa. Seu corpo não tinha formato de homem. O meu tem, e entrar no carro me faz gastar uns cinco minutos. Primeiro os pés: coloque ambos por baixo do pedal de freio, até o canto mais distante do assoalho.
Agora, com o braço direito na rua (o carro, para a Grã-Bretanha, naturalmente tinha o volante do lado direito), escorregue seu traseiro para trás, enfiando sua cabeça no peito até ouvir sua espinha começar a estalar. Se houver alguém vendo, pode ter certeza de que vai rir de você.
É mais fácil quando a capota está baixada – um trabalho simples, que só exige duas voltas ao redor do carro. E, quando retirada, ela enche o compartimento de bagagem dianteiro.
Já quando a recoloca, você precisa ter o cuidado de fazer tudo corretamente ou o assento do passageiro virará uma piscina, o que fará com que sua namorada desfie um monte de xingamentos. A minha fez isso.
O humor dela não melhorou quando descobriu que não há porta-objetos nas portas, nem porta-luvas. Não tem lugar para colocar nada. Nem mesmo a sua cabeça.
Por isso, tive de sair do carro, apoiado nas mãos e nos joelhos – é o único jeito – para tirar meu casaco e pulôver grosso. Isso me deixou com muito frio, mas pelo menos consegui inclinar meu corpo para trás o mínimo indispensável para minha cabeça caber dentro do carro.
A suspensão, no entanto, é pior. É a pior suspensão de qualquer carro que jamais dirigi a vida toda. Parece simplesmente que ela não existe, o que significa que, sempre que você passar por uma irregularidade, por menor que seja, sua cabeça bate no teto e você ficará inconsciente até acertar um poste e morrer.
Outras coisas? Bom, o Aventador já tem quase dez anos de idade, por isso seu sistema de controle, baseado no da Audi, é dos tempos do Motorola 8900. E o câmbio tem um sistema de embreagem única, que Alexandre, o Grande, já chamou uma vez de antiquado.
Certamente, este é um carro que acelera de 0 a 100 km/h mais rápido do que troca de primeira para segunda. De fato, o carro era tão ruim que eu mal o dirigi. Doía muito entrar, doía quando eu conseguia e doía para sair dele novamente.
Mas tudo isso significa que a Lamborghini está voltando a fazer o que faz de melhor. Porque este é um monstro gigantesco, trovejante, cuspidor de fogo. Uma mistura uivante de selvageria e insanidade, embalada em um corpo que é mais louco do que a coisa mais maluca que venha a sair da cabeça do pessoal de Hollywood.
A Lambo, então, fez outro carro de pôster. O melhor carro de pôster de todos os tempos. Eu quero tanto um que dói. Mas eu nunca realmente o dirigiria. Para ir ao shopping, usaria algo mais comum. Como uma Ferrari.

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