Lamborghini Aventador SVJ Roadster, Itália - Jeremy Clarkson
Fotografia
Ferruccio Lamborghini começou do nada. Mas tinha uma
mente perspicaz. Por isso, após a guerra, percebeu que a Itália precisava se
mexer.
Ele juntou então peças de Morris e fez um trator. Dê um
desconto para o fato de que era necessário dar a partida com gasolina e então
mudar para diesel antes de arrancar.
Era uma máquina. E italianos gostam de máquinas,
especialmente quando podem usá-las para cultivar uvas para vinho.
Depois de ganhar algum dinheiro com seus tratores, ele
começou um negócio de fabricação de aquecedores alimentados a óleo.
Mas daí ele percebeu que a Itália era um país
relativamente quente e, por isso, usando seus astutos miolos, ele desenvolveu
um sistema de ar condicionado.
E logo ele pôde comprar uma Ferrari 250 GT, cuja
embreagem dava problema o tempo todo. Por isso ele a levou a Maranello, onde
Enzo Ferrari basicamente disse para ele ir se catar. Ferruccio, então, decidiu
fabricar seus próprios carros.
Ele teve essa ideia louca de que poderia montar um V12,
de lado, no meio do carro, atrás do motorista. E ocorreu que ele estava certo. Poderia.
Então surgiu o Miura – o primeiro supercarro de motor central do mundo.
Sua aerodinâmica era tão ruim que a cerca de 130 km/h ele
tentava decolar. Mas seu visual era sensacional e, na verdade, é o que a
maioria das pessoas quer em um supercarro.
Desenhado de modo que nenhum ser humano pudesse caber
dentro, ele tinha uma direção assentada em concreto, o tipo de embreagem que
Deus usa para dar partida em galáxias e a visibilidade geral de uma caixa de
correio.
Mas em 1971 ele veio ao mundo com o impacto que um
helicóptero de ataque Apache teria tido na Batalha de Hastings. Era um carro de
pôster, um precursor do bico de seio direito da Farrah Fawcett.
Depois disso, as coisas começaram a dar um pouco errado.
Graças à revolução na Bolívia, que era um grande mercado para tratores
Lamborghini, e à crise do petróleo, Ferruccio decidiu gastar mais tempo na sua
exclusiva lancha de dois motores Lambo, a Riva Aquarama.
Daí o negócio de tratores foi adquirido por um
concorrente italiano e a operação de carros por diversos suíços. A isso se
seguiram um período de desordem e carros terríveis, até que a Lamborghini
acabou nas mãos da Audi.
O resultado desse casamento foi o Aventador e, sem
rodeios, ele foi facilmente o mais supercarro dos supercarros. Definitivo.
É um carro que conheço bem. Dei tudo em um Aventador na
assustadora pista de testes de Nardo, no sul da Itália. Usei um para uma subida
de montanha na Suíça.
E passei dois dias disparando em um no meu circuito
favorito, Ímola. Tem uma coisa que posso te dizer. Ele não é um carro de
corrida. O que o Aventador faz muito bem é “ser um carro”.
Já cruzei a Itália uma vez com ele, e o carro era
silencioso, fácil de guiar e civilizado. E é por isso que fiquei encantado
quando recebi o novo Aventador SVJ Roadster, de edição limitada.
Ele é mais largo do que o carro padrão e tem um sistema
de escapamento revisado, cujos canos monstruosos ficam exatamente na altura da
cabeça de um ciclista que te seguir. Também tem um novo sistema de aerodinâmica
controlada eletronicamente, que muda o formato do carro à medida que você
dirige.
Assim, nas retas ele é liso e escorregadio, e nas curvas
se torna pesado e gordo com ar, para melhorar a aderência. Também tem um monte
de aderência mecânica, graças à tração integral e ao esterçamento das quatro
rodas.
Junte a isso um V12 misericordiosamente não
turbocomprimido, que produz 760 cv, e você tem um carro que fez a volta do
circuito de Nürburgring em seis minutos e 44 segundos. Nenhum carro de produção
jamais fez um tempo abaixo disso.
Eu gostaria, no entanto, de conhecer quem o pilotou,
porque uma coisa é certa. Seu corpo não tinha formato de homem. O meu tem, e
entrar no carro me faz gastar uns cinco minutos. Primeiro os pés: coloque ambos
por baixo do pedal de freio, até o canto mais distante do assoalho.
Agora, com o braço direito na rua (o carro, para a
Grã-Bretanha, naturalmente tinha o volante do lado direito), escorregue seu
traseiro para trás, enfiando sua cabeça no peito até ouvir sua espinha começar
a estalar. Se houver alguém vendo, pode ter certeza de que vai rir de você.
É mais fácil quando a capota está baixada – um trabalho
simples, que só exige duas voltas ao redor do carro. E, quando retirada, ela
enche o compartimento de bagagem dianteiro.
Já quando a recoloca, você precisa ter o cuidado de fazer
tudo corretamente ou o assento do passageiro virará uma piscina, o que fará com
que sua namorada desfie um monte de xingamentos. A minha fez isso.
O humor dela não melhorou quando descobriu que não há
porta-objetos nas portas, nem porta-luvas. Não tem lugar para colocar nada. Nem
mesmo a sua cabeça.
Por isso, tive de sair do carro, apoiado nas mãos e nos
joelhos – é o único jeito – para tirar meu casaco e pulôver grosso. Isso me
deixou com muito frio, mas pelo menos consegui inclinar meu corpo para trás o
mínimo indispensável para minha cabeça caber dentro do carro.
A suspensão, no entanto, é pior. É a pior suspensão de
qualquer carro que jamais dirigi a vida toda. Parece simplesmente que ela não
existe, o que significa que, sempre que você passar por uma irregularidade, por
menor que seja, sua cabeça bate no teto e você ficará inconsciente até acertar
um poste e morrer.
Outras coisas? Bom, o Aventador já tem quase dez anos de
idade, por isso seu sistema de controle, baseado no da Audi, é dos tempos do
Motorola 8900. E o câmbio tem um sistema de embreagem única, que Alexandre, o
Grande, já chamou uma vez de antiquado.
Certamente, este é um carro que acelera de 0 a 100 km/h
mais rápido do que troca de primeira para segunda. De fato, o carro era tão
ruim que eu mal o dirigi. Doía muito entrar, doía quando eu conseguia e doía
para sair dele novamente.
Mas tudo isso significa que a Lamborghini está voltando a
fazer o que faz de melhor. Porque este é um monstro gigantesco, trovejante,
cuspidor de fogo. Uma mistura uivante de selvageria e insanidade, embalada em
um corpo que é mais louco do que a coisa mais maluca que venha a sair da cabeça
do pessoal de Hollywood.
A Lambo, então, fez outro carro de pôster. O melhor carro
de pôster de todos os tempos. Eu quero tanto um que dói. Mas eu nunca realmente
o dirigiria. Para ir ao shopping, usaria algo mais comum. Como uma Ferrari.
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