Praça Maciel Pinheiro, Recife, Pernambuco, Brasil
Recife - PE
N. 55
Fotografia - Cartão Postal
Antes de discorrer sobre a Praça Maciel Pinheiro, faz-se
necessário conhecer um pouco da vida do homenageado. Luís Ferreira Maciel
Pinheiro nasceu na Paraíba, no dia 11 de dezembro de 1839, filho do português
Braz Ferreira Maciel Pinheiro e de Margarida Maciel Pinheiro.
O paraibano de nascimento, contudo, vem morar no Recife
e, em 1860, ingressa na Faculdade de
Direito. Ali, convive com Castro Alves, Fagundes Varela, Martins
Júnior, Tobias
Barreto. Do primeiro deles, torna-se um grande amigo. Durante o
curso de Direito, ele dá início à sua vida como jornalista. Neste sentido vale
registrar um incidente: o jovem aspirante a bacharel em Direito - adepto de
idéias liberais e republicanas, e radicalmente favorável ao abolicionismo -
escreve um artigo insuflado contra o Professor Tiago de Loureiro, no dia 28 de
novembro de 1864, recebendo como pena, por conta disso, três meses de prisão.
Maciel Pinheiro escreve também um artigo vibrante sobre a
questão do voluntariado na guerra do Paraguai. E ele próprio se alista, como
voluntário, partindo para lutar nessa guerra. Castro Alves homenageia-lhe com o
poema Peregrino audaz. Durante tal estada, no entanto, Maciel contrai
malária nos campos de batalha e, apesar de todo o patriotismo e coragem, a sua
saúde fica por demais abalada e ele retorna a Pernambuco. Entretanto, continua
participando da vida pública e política do Estado.
De volta ao Recife, finaliza o curso de Direito, casa-se
com Isabel de Castro, e inicia a vida profissional, como promotor, no Rio
Grande do Sul. Em decorrência da falta de adaptação às baixas temperaturas do
Sul, Maciel Pinheiro volta para o Nordeste. No que diz respeito à sua
trajetória profissional pode-se dizer que ele exerceu os seguintes cargos: juiz
substituto, no Recife; juiz de Direito em Taquaritinga e Timbaúba (Pernambuco),
juiz de Direito no Ceará e no Pará.
Em 1880, morre a sua esposa, deixando-lhe os três filhos
pequenos: Tomaz, João e Luís. Ocupa-se, então, com o jornalismo. Só a
partir de 1884, contudo, Maciel decide se dedicar, de corpo e alma, à redação
de artigos para o Jornal do Recife e A Tribuna, através dos quais defende
os ideais abolicionistas de liberdade e igualdade. Nesse segundo jornal,
inclusive, no dia 13 de maio de 1888, é possível apreciar matérias valiosas
assinadas por Maciel Pinheiro, Joaquim
Nabuco e José Mariano.
Maciel Pinheiro é eleito para ocupar a cadeira número 22
da Academia
Pernambucana de Letras. Participa da direção do jornal A
Província e, com José Mariano, cria o jornal O Norte, dando
continuidade à luta em prol do abolicionismo e dos direitos humanos. No
prefácio de seu trabalho - Espumas flutuantes -, Castro Alves
enaltece o amigo com as seguintes palavras:
Maciel Pinheiro é um destes moços que simbolizam o
entusiasmo e a coragem, a inteligência e o talento nas academias.
Devido à malária adquirida durante a guerra do Paraguai,
e aos problemas decorrentes dessa enfermidade, Maciel Pinheiro não consegue
mais resistir: falece no dia 9 de novembro de 1899, faltando apenas seis para
vivenciar a tão sonhada Proclamação da República. O abolicionista Joaquim
Nabuco, grande admirador do notável guerreiro, sobre ele escreve as seguintes
palavras:
Em toda a imprensa, não há ninguém cuja pena corte como
uma espada afiada, como a dele; não há outro que seja ao mesmo tempo o escritor
ardente, o magistrado inflexível e o soldado patriota que ele é. Em Maciel
Pinheiro, o jornalista é o homem.
Findo um resumo da vida de Luís Ferreira Maciel Pinheiro,
agora é a vez de se falar um pouco sobre a praça que leva o seu nome. A atual
Praça Maciel Pinheiro foi inaugurada no dia 7 de setembro de 1876, no coração
do bairro da Boa Vista, em comemoração à vitória das tropas brasileiras na
guerra do Paraguai (1864-1870). Da Praça, ou em direção à mesma, começam e/ou
finalizam as seguintes ruas: Hospício, Imperatriz Theresa Christina, Matriz,
Aragão, Conceição e Manuel Borba.
Na ocasião de sua inauguração, a Praça apresentava um
grande chafariz, bonitos lampiões antigos que iluminavam todo o ambiente,
muitos bancos de madeira, e o seu jardim era todo cercado por grades de ferro.
Inicialmente, possuiu vários nomes: Moscoso, Largo do Aterro ou da Matriz, Boa
Vista e conde d'Eu. Nesse logradouro público, porém, foram feitas algumas
modificações. Em primeiro lugar, o seu chafariz não mais existe: em seu lugar,
é instalada uma fonte. Por sua vez, as grades originais são retiradas e outras,
posteriormente, vêm ocupar o seu lugar. Por fim, somente muitos anos depois a
Praça vem se chamar Maciel Pinheiro, em homenagem ao talentoso jornalista e
abolicionista.
Apesar de pequena, tal logradouro possui um precioso
troféu: sua bela fonte de pedra contendo leões, máscaras, ninfas e uma índia.
Descrevendo a fonte mais detalhadamente é possível dizer que, de sua base, foi
construído um tanque redondo. Em cima dele, quatro imponentes leões jazem
sentados olhando os transeuntes - como que guardando, serenos, os pontos
cardeais. Sobre as cabeças desses animais é erguida a primeira bacia d'água
circular da fonte. Do centro dessa bacia, em pé, podem ser apreciadas quatro
ninfas seminuas, bem semelhantes à Vênus de Milo. Um pouco acima de suas
cabeças, brotando da coluna central, jaz a segunda bacia circular da fonte. A
coluna detalhada se eleva mais um pouco e eis que surge a terceira bacia, a
menor de todas. Em cima dela, observam-se três máscaras de pedra, esculpidas
sobre a coluna central, de cujas bocas abertas emanam as águas que alimentam o
tanque redondo, após escorrer pelas três bacias. No topo da fonte, finalmente,
representando a população nativa do País, surge uma índia monumental, munida de
arco e flecha, como que reinando, absoluta, com o seu corpo voltado para a
Igreja-Matriz da Boa Vista e a rua Imperatriz Theresa Christina.
Antes da II Guerra Mundial, em decorrência do
anti-semitismo e das graves perseguições contra os judeus, ocorre uma grande
migração para Pernambuco, principalmente por parte da população
judaico-européia. Essas famílias se instalam, de início, no bairro da Boa
Vista.
Por sua condição geográfica, a Praça Maciel Pinheiro se
torna o reduto da colônia judaica do Estado, representando o principal fórum de
encontros e debates tanto por parte dos imigrantes, quanto ainda dos
pernambucanos residentes em seus arredores. Além do português, o que mais se
ouvia ali era o iídiche, língua falada pelos judeus askenazim -
aqueles provenientes da Europa Oriental. E, nos bancos da Praça, discutiam-se
as últimas novas relativas à política, ao comércio, às artes, à literatura, e
outros assuntos. A população não-judia e menos escolarizada, residente no Recife,
devido à falta de conhecimento, costumava referir-se àqueles judeus como os russos.
Inclusive, caberia salientar o seguinte: no último andar
de um prédio, que se localiza na esquina da Travessa do Veras com a Praça
Maciel Pinheiro, viveu Clarice Lispector (1925 -1977), uma das mais importantes
escritoras do século XX, e aquela que possui o maior número de obras
traduzidas. Apesar de ter nascido na Ucrânia, ela veio com os seus pais para o
Brasil, aos dois meses de idade, fugindo do anti-semitismo. Clarice Lispector
residiu a maior parte da sua vida, entre o Recife e Maceió e fez questão de
naturalizar-se brasileira.
Entre os anos 1940 e 1980, o comércio da Praça Maciel
Pinheiro era, em sua essência, representado por judeus: Avrum Ishie Vainer -
miudezas; Israel Fainbaum, Germano Vainsencher, Benjamin Berenstein, Adolfo
Cornistean, Maurício Gandelsman, Maurício Schver, movelaria; Sônia Charifker -
confecções; Nathan e Frieda Pinkovsky - miudezas e confecções; Júlio Guendler -
confecções; Fany Genes e Elisa Moreinos - brinquedos.
Na atualidade, poucos sobrados antigos - os de números
341, 354, 363, 369 e 387 -, estão preservados. Na Praça surgiram bancos - o
Banco Brasileiro de Descontos (BRADESCO) -, um escritório da Empresa
Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), casas lotéricas, bares, e outros.
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