Hino Constitucional Brasiliense, 1822, Typographia do Diário, Brasil
Fotografia
“Brava gente brasileira, Longe vá temor servil; Ou ficar a Pátria livre Ou morrer pelo Brasil”. Os intensos versos de Evaristo da Veiga, musicados primeiramente por Marcos Portugal e posteriormente por d. Pedro I, foram entoados pelas ruas da Corte e da cidade de São Paulo, em meados de 1822. O convite aos brasileiros a lutar pela emancipação do país expressos no Hino Constitucional Brasiliense nos remete a proclamação de d. Pedro às margens do Ipiranga: “Para o meu sangue, minha honra, meu Deus, eu juro dar ao Brasil a liberdade: independência ou morte”.
Assim como a imagem do grito da independência, com imperador e sua espada em punho, foi imortalizada por Pedro Américo em seu quadro Independência ou Morte apenas em 1888, o estabelecimento do 7 de setembro como marco fundador da identidade nacional brasileira e símbolo de nossa emancipação política, também foi uma construção a posteriori. A historiografia moderna evidencia a falta de repercussão do “grito do Ipiranga” a época; o feriado de 7 de setembro, suas festividades e a construção da figura de d. Pedro como herói, foram resultados do projeto de formação de nossa identidade durante o II Reinado, período marcado por diversas revoltas separatistas.
A independência do Brasil foi um longo processo que teve início em 1808 com a transferência da sede do governo português para o Brasil, a consequente abertura dos portos e a suspensão do sistema colonial. A tentativa lusa de reforçar os laços de dominação com a colônia, durante o reinado de d. João VI, apressou o movimento de independência política. Foi, contudo, na regência de d. Pedro que, oficialmente, rompeu-se a relação com metrópole portuguesa. Não, talvez, em 7 de setembro de 1822, mas no dia 2 do mesmo mês, quando a princesa regente Leopoldina, numa sessão extraordinária do Conselho de Estado, assinou a declaração de independência; ou em 12 de outubro, data da aclamação do imperador; ou, até mesmo, em 29 de agosto de 1825, com o reconhecimento de nossa soberania pela Inglaterra e por Portugal.
Fato é que, mesmo após o “Grito do Ipiranga” ou a coroação de d. Pedro, o processo de independência não estaria concluso, o reordenamento político reverberou de modo diferente em cada segmento e região do Brasil, o que provocou guerras da independência ocorridas entre 1822-1824 em inúmeras províncias. Nesse sentido, a proclamação às margens do Ipiranga é apenas um episódio cristalizado e perpetuado por uma historiografia tradicional. O movimento de independência deve ser reconhecido antes como um processo do que por uma data oficial, ampliando os seus limites para além do 7 de setembro de 1822.
Na imagem do post temos o Hino Constitucional Brasiliense. Os versos desse hino se transformariam na letra do Hino da Independência, musicado por d. Pedro I em 1824. Com a proclamação da República, o hino foi gradativamente abandonado. Somente em 1922, quando do centenário da independência, ele voltaria a ser executado.
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