Estátua Grupo de Laocoonte / Laocoonte e Seus Filhos (Gruppo del Laocoonte) - Agesandro, Atenodoro e Polidoro
Museus do Vaticano, Cidade do Vaticano, Vaticano
Estátua - Mármore - 208x163
A estátua Grupo de Laocoonte (Italiano: Gruppo del Laocoonte), também conhecida como Laocoonte e Seus Filhos, é uma das mais famosas esculturas antigas desde que foi escavada em Roma em 1506, e colocada em exibição pública no Vaticano, onde permanece até hoje.
A estátua representa Laocoonte e seus dois filhos, Antífantes e Timbreu, sendo estrangulados por duas serpentes marinhas, uma lenda da Guerra de Troia também relatada na Eneida de Virgílio. Laocoonte, um sacerdote de Apolo, teria irritado o deus, ou por ter se casado e tido filhos, ou por ter arremessado uma lança contra o cavalo de Troia. Em vingança, o próprio Apolo teria enviado os répteis (no caso como na escultura, serpentes) para matar seus filhos, e Laocoonte foi morto ao tentar salvá-los.
O grupo de Laocoonte é descrito por Plínio, o Velho, no volume 36 da sua Naturalis Historia, como uma obra de arte superior a qualquer pintura ou bronze conhecido do autor. A escultura encontrava-se então no palácio do Imperador Tito. A autoria da obra é atribuída por Plínio a Agesandro, Atenodoro e Polidoro, três escultores da ilha de Rodes.
Há divergências sobre a data de confecção da obra. Alguns historiadores clamam que ela seria cópia de uma estrutura de bronze que não chegou até nós, moldada por volta de 140 a.C. Por outro lado, reconhecendo que o mármore fosse a peça original, as estimativas variam entre 40 a.C. (mais provável) a até 37 d.C., período final do reinado de Tito foi construída em Roma. Após esta menção de Plínio, o grupo de Laocoonte desaparece nos 1400 anos seguintes.
No dia 14 de janeiro de 1506, o romano Felice de Fredi descobriu uma estátua durante trabalhos de manutenção da sua vinha, localizada na zona das antigas Termas de Tito. A escultura desconhecida estava desfeita em cinco pedaços, mas todos os habitantes da Roma renascentista sabiam reconhecer uma obra clássica quando a viam e de Fredi passou a palavra a Giuliano de Sangallo, arquitecto do papa Júlio II. Sangallo acorreu ao local da descoberta de imediato trazendo consigo Michelangelo Buonarroti, que por coincidência almoçava na sua casa nesse dia. De imediato, os dois reconheceram a estátua desfeita como o grupo de Laocoonte descrito por Plínio e enviaram a notícia da descoberta a Júlio II, que comprou a estátua na hora por 4140 ducados.
A redescoberta do grupo de Laocoonte causou sensação em Roma e a sua apresentação à cidade como parte da colecção dos jardins do Vaticano foi um acontecimento social. Felice de Fredi foi recompensado com uma pensão vitalícia de 600 ducados por ano e quando morreu, o seu papel na descoberta da estátua ficou mencionado no seu túmulo.
Apesar de ser considerada já então uma obra impressionante, o grupo de Laocoonte era uma estátua incompleta pois faltava o braço direito da figura do próprio Laocoonte. A omissão provocou o debate da comunidade artística romana, polarizado entre duas opiniões: Michelangelo sugeriu que o braço estivesse dobrado sobre o ombro do personagem, enquanto que a maioria defendia que estivesse, pelo contrário, distendido numa posição mais heroica, completando a linha de ação diagonal que se estende pela obra. Júlio II organizou então uma competição informal onde os escultores pudessem propor a sua solução para o problema. Rafael Sanzio, como júri do concurso, acabou por escolher uma proposta que representava o braço esticado, e a estátua foi completada desta forma. Em 1957, o verdadeiro braço perdido de Laocoon foi descoberto num antiquário italiano e, como Michelangelo previra, estava de facto dobrado sobre o ombro.
O grupo de Laocoonte depressa se transformou numa celebridade na Europa e num motivo de cobiça. No âmbito dos tratados assinados com França, o papa Leão X prometeu oferecer a estátua ao rei Francisco I de França. Mas como este papa era um amante de arte clássica, e não pretendia separar-se da obra prima, encomendou uma cópia ao escultor Baccio Bandinelli, que acabou por ser o modelo de muitas outras versões menores em bronze. O tratado com os franceses acabou por não ser cumprido e esta cópia encontra-se hoje exposta na Galeria Uffizi em Florença.
Em 1799, Napoleão Bonaparte conquistou a Itália e levou o grupo de Laocoonte para o Museu do Louvre, em Paris, como espólio de guerra. A estátua acabou por ser devolvida ao Vaticano por iniciativa britânica, depois da queda de Bonaparte em 1816.
O grupo de Laocoonte foi uma das influências principais nos trabalhos de Michelangelo posteriores à sua descoberta. O escultor italiano ficou bastante impressionado com a monumentalidade da escultura e a estética helenística das personagens, em particular a figura de Laocoonte.
A estátua foi ainda objeto de comentários da autoria de Winckelmann e Goethe, e de profundas observações em "Laocoonte", um ensaio de Gotthold Lessing escrito em 1766, que se tornou um clássico da teoria estética.
Laocoonte foi um personagem do ciclo épico sobre a guerra de Troia.
Laocoonte era filho de Acoetes, irmão de Anquises; ele era um sacerdote de Apolo, mas, contra a vontade de Apolo, se casou e teve filhos, Antífantes e Timbreu. Quando Laocoonte estava fazendo um sacrifício a Netuno, Apolo enviou duas serpentes de Tênedos, que mataram o sacerdote e seus descendentes. Segundo os frígios, isto aconteceu porque Laocoonte havia arremessado sua lança contra o Cavalo de Troia.
Possivelmente a mais antiga referência ao mito seja uma tragédia perdida de Sófocles, que possuía mesmo nome. A lenda seria relembrada por Quinto de Esmirna em seu trabalho Posthomerica, uma continuação da Ilíada. No entanto, o relato é mais popularmente conhecido pela escultura que inspirou e pelo poema épico latino Eneida, de autoria de Virgílio no século I a.C.
Laocoonte e a Guerra de Troia
Esculpida por Hagesandro, Atenodoro e Polidoro, em mármore, a obra pode ser a cópia de um original anterior, feito em bronze, que não chegou aos nossos dias. Isso é questionável, porém. O fato é que se trata de uma das mais bonitas representações da arte e da mitologia grega.
Laocoonte é um dos personagens que aparece na Eneida, de Virgílio e na Iliada, de Homero. Natural de Troia, ele fez uma advertência aos compatriotas.
“não aceitem o cavalo de madeira, presente dos gregos, ou seremos todos destruídos”.
Os sacerdotes e adivinhos são peças fundamentais na Mitologia Grega, pois estabelecem a relação entre passado, presente e futuro. Na tragédia de Édipo, por exemplo, é o velho adivinho Tirésias quem conduz a teia de revelações que vão da ascenção à queda do monarca tebano.
Mas voltemos a Laocoonte. Com sua advertência, ele não apenas chegou perto de frustrar todo o plano do exército grego. Ele desafiou os deuses, e os contos sobre essas criaturas não cansam de mostrar que isso nunca fica sem um castigo, muitas vezes cruel demais. Foi esse o caso de Laocoonte.
A Guerra de Troia, diferente do que muitos pensam, não foi um incidente de amor isolado envolvendo Paris e Helena. Seus motivos e implicações transcendem e muito esse romance.
Ao ver a interferência do sacerdote, Poseidon (em algumas versões do mito) envia duas serpentes marinhas que atacam Laocoonte e seus filhos, Antífantes e Timbreu.
É uma das histórias mais terríveis sobre a crueldade dos deuses olímpicos, um verdadeiro conto de terror.
A Escultura Laocoonte e Seus Filhos
E esse terror e crueldade são capturados com maestria nessa escultura, datada de mais ou menos 1750-50 a.C e descoberta em 1506. Justamente o período em que a Europa vivia o Renascimento – que não por acaso, é o período histórico em que a Antiguidade Clássica é vista e resgatada como fonte não apenas de inspiração, mas também de conhecimento.
No período conhecido como helenístico, em que esse conjunto foi produzido, a Grécia acabava de passar por uma verdadeira revolução no sentido de produção artística.
Enquanto nos séculos anteriores o artista ainda esculpia e pintava com certa rigidez, já em finais do século V a.C a principal característica da obra de arte passa a ser a leveza.
Além disso, o trabalho do artista passa a ser visto de outra forma; ele não tem agora somente uma função religiosa ou política, mas começa a ser admirado pelo trabalho que realiza e por sua habilidade, especialmente na representação do corpo humano.
Representar o corpo humano não é uma tarefa fácil, mas os gregos a executaram muito bem.
A noção de simetria, harmonia e beleza desenvolvida nas estátuas gregas é realmente algo fascinante.
Em Laocoonte e Seus Filhos, a figura central é o sacerdote.
O corpo forte e vigoroso se contorce de dor e agonia ao ser envolvido pelas serpentes. Músculos contraídos e até mesmo veias salientes são vistas no corpo do sacerdote. Ele olha para o alto em atitude desesperadora.
Com uma das mãos – a única que está inteira – ele segura e tenta repelir uma das serpentes, que envolvendo o braço de um de seus filhos, lhe morde na altura da cintura.
Os dois rapazes, Antífantes e Timbreu, completam o doloroso quadro.
O jovem da esquerda, o menor deles, num gesto parecido com o do pai, tenta tirar de si a serpente, de forma inútil. Sua expressão de dor chega até nós: é uma criança sendo devorada injustamente por um monstro.
Do outro lado, o rapaz mais crescido olha para o pai enquanto tenta se desenvencilhar da besta que se enrosca em seu tornozelo.
Em poucos instantes, tudo terá terminado para eles e os planos dos deuses seguirão sem maiores interrupções.
Nesse momento, porém, embora imóvel, todo grupo é dinâmico.
Tudo flui: os movimentos de esforço evidentes, as torções e a expressão de luta e dor em cada face.
Talvez seja isso que torne essa obra tão grandiosa: a capacidade que os artistas tiveram de congelar um momento tão vivo sem deixa-lo inanimado.
Uma das obras mais representativas da arte grega, o Grupo de Laocoonte é uma escultura antiga conservada no Museu Pio-Clementino do Vaticano. Representa a figura mitológica do sacerdote troiano Laocoonte e seus dois filhos atacados por serpentes, cena descrita na Odisseia, de autoria de Homero, e na Eneida de Virgílio.
A escultura de mármore foi descoberta em Roma em 14 de janeiro de 1506 nas proximidades das Sete Salas das covas das Termas de Trajano, construídas no sítio da antiga Domus Aurea de Nero, residência do imperador em Roma, não longe do Coliseu.
peça foi prontamente adquirida, após rude competição, pelo papa Júlio II, que a colocou na Sala do Octógono do Palácio Belvedere, no Vaticano. A obra foi identificada pelo arquiteto Giuliano da Sanghallo como a descrita por Plinio, o Velho em sua História Natural (77-79 d.C.): "(…) De um único bloco de pedra os grandes artistas Agesandros, Polydoros e Athénodoros de Rhodes esculpiram Laocoonte, seus filhos e serpentes magnificamente, combinando perfeitamente suas ideias (...)".
Em 1515, o rei Francisco I da França pretendeu, em vão, adquiri-la. Em 1520, renova o seu pedido, desta vez de uma cópia em bonze. Para contentá-lo, o papa Leão X pede ao escultor florentino Baccio Bandinelli uma cópia em mármore, acabando por guardá-la para si.
A escultura encontrada à época estava incompleta, pois faltava o braço direito da figura do próprio Laocoonte. A partir de 1523, Montorsoli, aluno de Michelangelo, completa o Grupo: as falhas são sanadas, o braço do sacerdote se esticaria numa diagonal o que provocou a admiração do historiador da arte Johann Winckelmann. Em 1798, após o Tratado de Tolentino, a obra é transferida a Paris até 1815 quando volta ao acervo do Vaticano.
Somente em 1905, o colecionador e arqueólogo Ludwig Pollak reencontra o braço direito do sacerdote, dobrado, que encontraria seu espaço na escultura quando da restauração entre 1957-1960.
O Grupo de Laocoonte inspirou fortemente a história da arte alemã na segunda metade do século XVIII. Além de Winckelmann, Lessing, Herder, Novalis, Goethe e Schopenauer comentaram a escultura. Numerosos artistas deram sua própria interpretação, como Ticiano, William Blake e Max Ernst. No álbum Asterix, um dos escravos de Tifus movimenta seus músculos imitando a pose de Laocoonte, e cordas aparecem à guisa das serpentes.
A obra reflete a exímia maestria técnica de três escultores da ilha grega de Rhodes. A busca da reprodução perfeita de detalhes, notadamente na anatomia e na musculatura mostra a herança grega. Sua força encaixa-se na atmosfera bastante tensa da cena. O gosto pelo patético do mundo helênico encontra aqui um de seus grandes representantes. Os escultores escolheram retratar um momento preciso do relato da Tomada de Troia. Trata-se de uma cena vívida em que a tensão dramática está exposta no rosto dos personagens, cuja expressividade é ressaltada pelos olhos arregalados, desesperados e desvairados. Laocoonte, músculos tensos, tenta se desembaraçar da serpente que o comprime.
Os escultores se permitiram bastante liberdade artística. Os três personagens estão representados nus, nudez esta tradicionalmente reservada aos deuses, aos heróis e aos atletas. Laocoonte e seus filhos estão retorcidos, torturados e isto se vê física e moralmente. As serpentes que se enrolam em torno dos personagens impotentes asseguram um liame lógico que harmoniza a leitura da obra. Laocoonte e um de seus filhos estão encurralados junto ao altar o que permite acentuar a noção de fatalidade. Foi um deus que enviou as serpentes, e não há escapatória possível. As pernas e os braços dos personagens estão aprisionados. Entretanto, os artistas não escolheram representar a morte de Laocoonte e sim o momento exato do seu sofrimento e de seus filhos.
Ademais, encontram-se certos traços característicos do gosto helenista. A cabeleira abundante e impetuosa com mechas ligeiramente cacheadas de Laocoonte, lembrando os retratos de Alexandre ou do Velho Ventauro. A expressividade e os rostos angustiados traduzem a mesma força, a mesma vontade de captar um ínfimo momento, o mais dramático.
Houve bastante dificuldade de precisar a data da escultura e mesmo de saber se houve uma versão feita originalmente em bronze. A composição frontal do grupo está destinada a ser contemplada não apenas de um único ponto de vista. Faz ressaltar a questão da localização, por exemplo, num átrio de forma circular e não sobre um pedestal montado num espaço aberto.
Acreditou-se durante muito tempo que se tratava de um original da época helenista. Entretanto, o mármore do altar sobre o qual Laocoonte está sentado é de origem italiana, datando no mínimo da segunda metade do século I d. C. Tratava-se, pois, de uma cópia ou adaptação. Todavia, essa descoberta não resolve o problema da datação do original. A datação não interessa apenas à história das artes plásticas, mas tem também repercussões sobre a história da literatura. Virgílio foi o primeiro autor a se estender sobre esse episódio. A escultura inspirou a Eneida? Ou o contrário aconteceu? Virgílio representa Laocoonte como uma vítima inocente. Em outras tradições, como as de Sófocles em sua tragédia perdida, Laocoonte é punido por Apolo por ter se casado e haver transgredido seu dever de celibato: foi então condenado a ver seus filhos destroçados pelas serpentes.
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