Abaporu (Abaporu) - Tarsila do Amaral
Malba Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, Argentina
OST - 85x73 - 1928
Texto 1:
Abaporu é uma pintura a óleo da artista brasileira Tarsila do Amaral. É uma das principais obras do período antropofágico do movimento modernista no Brasil.
É a tela brasileira mais valorizada no mercado mundial das artes, com valor estimado de US$ 40 milhões, sendo comprada pelo colecionador argentino Eduardo Costantini por US$ 2,5 milhões, em 1995, em um leilão realizado na Christie's. Criador do Museu de arte latino-americana de Buenos Aires (MALBA), Costantini doou sua coleção para o museu, incluindo o Abaporu. Anteriormente a obra pertencia ao empresário brasileiro Raul Forbes, numa aquisição ocorrida em 1985.
Foi pintada em óleo sobre tela, em janeiro de 1928, por Tarsila do Amaral (1886-1973) como presente de aniversário ao escritor Oswald de Andrade, seu marido na época. O nome da obra foi conferido por ele e pelo poeta Raul Bopp, que indagou a Oswald ao ver o quadro: "Vamos fazer um movimento em torno desse quadro?" Os dois escritores escolheram um nome para a obra, que veio a ser Abaporu, que vem dos termos em tupi aba (homem), pora (gente) e ú (comer), significando "homem que come gente". E também é uma referência para a criação da Antropofagia modernista brasileira, ou Movimento Antropofágico, que se propunha a deglutir a cultura estrangeira e adaptá-la ao Brasil.
Outras obras de Tarsila em sua fase antropofágica: A Lua (1928), O Lago (1928), Cartão Postal (1929) e Sol Poente (1929).
A escolha das cores, formas e perspectiva da obra refletem o desejo de Tarsila de mostrar o Brasil de verdade. “Tarsila desembarcava do ‘Massilia’, navio de luxo vindo de Paris, trazendo na bagagem tintas bonitas, muitos vestidos elegantes e muita renovação”. O quadro faz parte da fase antropofágica de Tarsila que, assim como a fase pau-brasil, é considerada uma das mais importantes dentro da vida da pintora. Influenciada pelo cubismo, esse período na carreira da artista permitiu a ela fazer uma leitura visual das estruturas da sociedade brasileira.
Apesar de ser um dos símbolos do modernismo brasileiro, Abaporu não esteve na Semana de Arte Moderna de 1922, pois Tarsila estava em Paris em busca de uma identidade artística.
Desde que Costantini adquiriu a tela em 1995, ela foi exposta no Brasil algumas vezes. Em 1998, em uma mostra no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) que exibia obras do empresário argentino. Em 2002, esteve na Faap para a exposição Da Antropofagia a Brasília. Já em 2008, a pintura brasileira participou de Tarsila Viajante, na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Mais uma vez na Faap, fez parte de Mulheres, Artistas e Brasileiras em 2011. Durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, o quadro esteve no Museu de Arte do Rio (MAR) na exposição A Cor do Brasil. Em 5 de abril de 2019, foi exposta pela primeira vez no Museu de Arte de São Paulo (MASP). De acordo com a sobrinha-neta da artista, Tarsilinha do Amaral, era seu sonho que o quadro fosse exposto no local.
Em 11 de janeiro de 1928, a pintora Tarsila do Amaral (1886-1973) acordou ansiosa. Era aniversário de seu marido, o escritor Oswald de Andrade (1890-1954), e ela tinha preparado uma surpresa: um quadro de 85 centímetros por 73 centímetros, pintado em segredo nos últimos meses.
Com seu jeito afobado e verborrágico, Oswald nem deixou que artista explicasse a obra. Foi logo elogiando, dizendo que era a coisa mais incrível que ela já tinha feito. "É excepcional este quadro", dizia ele. "É o homem plantado na terra."
No mesmo dia, Oswald mostrou o presente para um de seus amigos, o poeta Raul Bopp (1898-1984). E juntos começaram a enxergar ali, naquela figura enigmática, um índio canibal, um homem antropófago, aquele que iria devorar a cultura para se apossar dela e reinventá-la.
Tarsila empolgou-se com a interpretação e correu para um velho dicionário de tupi-guarani. Ali encontrou as palavras "aba" e "poru" - "homem que come". Estava batizado aquele que se tornaria o mais valioso quadro da arte brasileira, Abaporu.
Mas o que seria apenas um presente de aniversário de uma artista para seu marido acabou transcendendo qualquer relacionamento para se tornar um dos quadros mais famosos do Brasil - e, certamente, o mais valioso.
"Sua grandeza se deu desde o início, porque naquele contexto ele acabou inspirando o Manifesto Antropófago, escrito por Oswald, e o movimento que seria decorrente desse texto, a Antropofagia", afirma Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta e responsável pelos direitos da obra da artista, em entrevista à BBC News Brasil.
"Em seguida, o quadro acabou virando símbolo de tudo o que o modernismo queria dizer. A antropofagia, no sentido de absorver a cultura europeia, dominante na época, e transformá-la em algo nacional, tudo isso foi sintetizado com Abaporu."
"Um quadro com essa história foi ganhando importância e fama. E tudo colaborou para ele se tornar o quadro mais importante da arte brasileira", diz Tarsilinha.
Mas o Abaporu não seria de Oswald por muito tempo. No fim de 1929, Tarsila e ele se separaram. Na hora da divisão dos bens, a pintora ofereceu ao poeta, de sua coleção, uma obra muito mais valorizada, à época - O Enigma de Um Dia, de Giorgio de Chirico (1888-1978). E ficou com seu homem que come.
Em 1928, o quadro foi exibido pela primeira vez em uma exposição, em Paris. No ano seguinte, integraria as duas primeiras mostras individuais de Tarsila, uma em São Paulo, outra no Rio.
Abaporu voltaria a ser exibido em terras cariocas em 1933. Em 1950, o quadro foi exibido no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo. Dois anos depois, integrou nova mostra no MAM. O Abaporu participaria ainda de duas bienais: a VII de São Paulo, em 1963, e a XXXII de Veneza, em 1964.
Em 1969, o quadro participou de uma turnê por várias cidades brasileiras, na mostra Tarsila: 50 Anos de Pintura. Três anos mais tarde, estaria novamente exposto em São Paulo, na comemoração dos 50 anos da Semana de Arte Moderna de 1922.
Mas nos anos 1960, Tarsila havia vendido o quadro para o colecionador Pietro Maria Bardi (1900-1999), fundador do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Conforme Tarsilinha conta em seu livro Abaporu: Uma Obra de Amor, "a pintora nutria uma expectativa de que o quadro passasse a integrar permanentemente o acervo de um museu".
Bardi preferiu fazer dinheiro. Menos de um mês depois da aquisição, revendeu a obra para o colecionador Érico Stickel (1920-2004). Em 1984, o galerista Raul Forbes comprou o quadro por US$ 250 mil - então o valor mais caro já pago por uma pintura brasileira. Em 1995, Forbes decidiu leiloar Abaporu na famosa Christie's, em Nova York. Foi arrematada pelo empresário argentino Eduardo Constantini, por US$ 1,35 milhão - novamente um recorde nacional.
Constantini criaria o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, o Malba, para o qual doou a coleção. O Abaporu voltaria a ser exibido no Brasil em 2008, em mostra na Pinacoteca do Estado, em São Paulo; em 2011, no Palácio do Planalto, em Brasília; e em 2016, no Rio de Janeiro.
Em abril de 2019, o quadro chegou à casa sonhada por Tarsila: o Masp, a renomada instituição criada pelo homem para quem ela vendeu a obra, Pietro Bardi.
Como o Abaporu não está à venda, a referência mais precisa que pode ser utilizada para estimar seu valor é o seguro feito durante exposições. No ano passado, quando esteve exposto no MoMA, o museu de arte moderna de Nova York, a apólice garantia US$ 45 milhões. Questionados pela reportagem, nem o Masp nem o Malba informaram se o valor foi aumentado para a exibição brasileira.
À BBC News Brasil, o argentino Eduardo Constantini, fundador e presidente do Malba, não economizou elogios à obra.
"Sem dúvida é a peça mais representativa e valiosa da arte brasileira. Sua iconicidade cresce ano a ano, como um mito também da arte latino-americana", pontua. "Seu valor estimado hoje é impossível de ser definido, mas é muito superior a US$ 45 milhões."
Tarsilinha revela que, em 2011, a então presidente Dilma Rousseff perguntou a Constantini quanto custaria repatriar a obra. "Eu estava ao lado e ele falou em US$ 200 milhões", conta.
O atual recorde financeiro atingido por uma obra de arte brasileira é outro quadro de Tarsila. A Lua, pintado em 1928, foi comprado em fevereiro deste ano pelo MoMA por US$ 20 milhões.
"As obras dela estão alcançando valores estratosféricos, e isso valoriza os demais quadros também", comenta Tarsilinha. "Tarsila do Amaral está começando a ganhar relevância para o mundo."
Professora de História da Arte da ABRA - Escola de Arte e Design, de São Paulo, a arquiteta Márcia Iabutti considera que, a despeito das cifras das apólices, o Abaporu é uma rara obra "de valor inestimável". "É símbolo de um movimento e carrega todo um contexto junto a ela", comenta.
O marchand e doutor em história da arte Olívio Guedes tem da mesma opinião. Para ele, o quadro é daqueles que "valem cada centímetro". "O mercado tem vida própria e numa eventual negociação futura é ele quem dirá o preço", afirma.
Guedes dá a equação que faz com que um quadro desse quilate seja valorizado.
"Uma obra de arte é notória por vários sentidos: o artista, seus relacionamentos, seu momento histórico e suas relações com o período", resume.
Tarsila foi inventiva quanto às técnicas, era do circuito considerado a elite intelectual brasileira dos anos 1920 e traduziu, com seu trabalho, o contexto cultural de então.
"Somando tudo isso temos seu status e, portanto, sua contabilização financeira", completa Guedes. "Abaporu é uma obra com currículo próprio."
O marchand acredita que até o fato de a obra pertencer a uma instituição estrangeira contribuiu para a valorização.
"É status", diz. "Porém, é péssimo não tê-la (no Brasil)."
Guedes compara com o fato de a Mona Lisa, obra máxima do italiano Leonardo da Vinci (1452-1519), estar no francês Museu do Louvre.
Tarsilinha diz que, no íntimo, também gostaria que a obra mais importante da tia-avó estivesse no país.
"Claro que eu ficaria feliz com esse quadro no Brasil. Por outro lado, acho que para a arte brasileira a venda do Abaporu foi importantíssima. A arte brasileira começou a ter um caráter internacional depois disso", avalia, comentando que, sobretudo após a mostra realizada ano passado no MoMA, a obra da artista tem despertado muito interesse em outros países.
"Estivesse recentemente em Paris, no Centro Georges Pompidou, e o diretor me disse ter interesse em uma mostra da Tarsila. A britânica Tate Modern também já se manifestou nesse sentido."
Iabutti lamenta profundamente o Abaporu não integrar nenhuma coleção nacional.
"Fere o orgulho nacional. Não tem o menor sentido", afirma.
Já a crítica e curadora Aracy Amaral, professora de História da Arte da Universidade de São Paulo, tem outra opinião. Para ela, é importante que a obra da Tarsila pertença a uma instituição estrangeira, pela visibilidade.
"É uma honra o Abaporu estar em coleção tão prestigiada como o Malba. Assim como é uma honra A Lua integrar o MoMA", cita. "São coleções do mais alto nível internacional. Nessas instituições, as obras são cuidadas e vistas por um grande público."
Mas o que é, afinal, o Abaporu? A leitura de Oswald de Andrade e Raul Bopp acabou dominando o imaginário: aquela criatura canibal simbolizaria o brasileiro devorando a cultura europeia e refazendo-a ao seu modo. "Era um grupo maluco que falava que a gente pode comer o europeu e depois criar uma coisa nova", diz Iabutti.
"É uma obra muito interessante, porque traduz o sentimento de brasilidade", prossegue a professora. "Abaporu tem uma composição muito limpa, muito concisa. É uma pessoa agigantada, de uma pessoa com pés e mãos muito grandes, como se fosse o trabalhador. É a representação do brasileiro, sendo visto de baixo para cima, com rosto indefinido, como se não fosse uma só pessoa. Tem a cabeça pequena, os braços e as pernas grandes - uma crítica social."
Em 2014, Tarsilinha lançou em livro uma tese inusitada para explicar a obra da tia-avó. Em Abaporu: Uma Obra de Amor, ela traz evidências de que a pintura seja um autorretrato de Tarsila, provavelmente nua, feita como presente ao marido.
Tarsilinha recorreu a pesquisas familiares para corroborar a versão. Ela descobriu que na casa onde a artista morava com Oswald, um sobrado na Rua Barão de Piracicaba, região central de São Paulo, havia um grande espelho que ficava inclinado no corredor que dava para seu quarto-ateliê.
"O reflexo, distorcido por conta da posição inclinada do espelho, mexeu com a imaginação da artista. Foi um estalo. Ela sabia perceber a poesia nos detalhes, tinha esse faro artístico aguçado de quem não enxerga o óbvio nas coisas, mas vai além. Tarsila viu na cena uma oportunidade de criação", relata ela, no livro.
"No espelho, a cabeça da artista aparecia bem pequena. O pé, gigante. Seus olhos de pintora se encantaram com aquela visão inusitada, diferente e, por isso mesmo, interessante."
"Tarsila deve ter gastado muito tempo se observando. Horas, talvez. O pé imenso… A cabeça, minúscula… A boca e os olhos quase sumindo, a mão caída ao lado do pé grande… Que figura diferente!", prossegue. "Aquela imagem lhe parecia provocativa, ousada, perfeita, bem-humorada. Ficou gravada em sua retina, grudada em seu pensamento. Tornou-se uma insistente obsessão." Um outro indicativo é anatômico. De acordo com relatos familiares colhidos por Tarsilinha, a artista, assim como a figura que aparece no famoso quadro, também tinha o segundo dedo do pé maior do que o dedão.
Texto 2:
Nesta semana (18/02/2022), o Malba (Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires) está com uma programação especial pelo centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. Entre a série de eventos, realiza até o fim do mês o "Itinerário Brasil", uma visita guiada com foco nas obras brasileiras do acervo.
A comemoração no país vizinho tem motivo: o Malba abriga há quase duas décadas o Abaporu, da Tarsila do Amaral (1883-1976), uma das obras mais emblemáticas do período antropofágico do movimento modernista no Brasil. "Sempre foi uma das obras mais ´mimadas´, pela sua importância, por como representa essa união amorosa entre a Tarsila e o Oswald de Andrade e pela interação criativa entre o movimento antropofágico e a peça", diz María Amalia García, curadora do museu.
Mas como a pintura, que provavelmente é a mais valiosa da arte brasileira, acabou em um museu da Argentina?
Assinada em 1928 pela artista brasileira, a icônica pintura brasileira foi inicialmente um presente de Tarsila para seu marido, Oswald de Andrade, que se encantou com a obra. "Ele ficou alucinado, disse que parecia o homem plantado na terra, que parecia um atropófago, essa foi a interpretação dele", conta a Nossa Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta de Tarsila.
Segundo ela, a artista recorreu a um dicionário de tupi-guarani de seu pai e, juntando as palavras Aba (homem) e Poru (que come gente), chegou ao nome que batiza o quadro. Quando o casal modernista se separou, a pintora ficou com a obra.
Anos depois, após tê-la exposto em diversas ocasiões, Tarsila decide vendê-la, nos anos 1960, para Pietro Maria Bardi, um crítico, colecionador e negociador de arte que, junto a Assis Chateaubriand, criou o Museu de Arte de São Paulo, o MASP.
"Ele seduziu minha tia, dizendo que colocaria esse quadro no MASP, e comprou por um preço irrisório. Um mês depois, chegou a notícia, por um amigo, de que o Abaporu tinha sido vendido para um colecionador particular por uma fortuna", conta Tasilinha, e completa:
"Ou seja, o Bardi ficou com esse dinheiro. Quando ela ficou sabendo disso, passou mal, ficou super chateada. Tarsila foi enganada"
Após anos com a obra, o colecionador a vende, em 1984, para o então integrante do Conselho da Bolsa de Valores, Raul Forbes, que manteve o quadro por mais de uma década. Em 1995, em meio a problemas financeiros, decide vendê-lo. Apesar dos entraves para retirá-lo do país, devido à intenção de autoridades do patrimônio histórico de tombar o quadro, a obra acaba em leilão em Nova Iorque.
"Antes do tombamento, ele consegue tirar o quadro do Brasil e faz a venda lá. Muitos colecionadores brasileiros queriam comprar, mas ficaram com medo de dar o lance porque não sabiam o que aconteceria a respeito"
O Abaporu acabou sendo arrematado pelo empresário argentino Eduardo Constantini por cerca de 1,5 milhão de dólares (em torno de R$ 7,6 milhões) — e se tornava, naquele momento, o primeiro quadro brasileiro que ultrapassou a faixa do milhão de dólares.
Costantini aproveitou que obras icônicas latino-americanas voltaram a circular no mercado das artes com a crise econômica mexicana de 1994, conhecida como "Efeito Tequila", e aumentou suas aquisições artísticas. E foi em meio a outra crise econômica, a da Argentina de 2001, que ele fundou o Malba.
Duas décadas depois, a presença do famoso óleo sobre tela brasileiro em solo vizinho não está isenta de polêmica. "Já vi muitas reações, gente emocionada, gente muito contente e gente muito, muito brava", afirma Diego Murphy, um dos educadores do Malba responsáveis pela criação e condução das visitas guiadas pelas obras.
"Quem fica bravo pergunta como pode ser que a obra esteja aqui, que é do Brasil, da história brasileira. Chamo o Abaporu de Gioconda brasileira, porque a Itália não perdoa que a Monalisa esteja na França, É como se o Brasil não perdoasse o Abaporu estar aqui"
Para Tarsilinha, a obra estar no Malba favorece a arte brasileira. "O Eduardo foi um cara muito bacana: construiu o museu, doou grande parte da sua coleção para o Malba e o Abaporu está lá há muitos anos. Só posso agradecer a ele, que sempre o empresta para as exposições quando pedimos, faz publicações lindas e um trabalho muito bacana", diz.
"Sempre falo que enquanto ele fizer isso pelo Abaporu, ele também está fazendo pela arte brasileira"
Murphy conta que nas vezes em que a obra é emprestada para outros museus, a ausência do quadro de Tarsila chega a causar lágrimas de brasileiros que viajaram para a Argentina para vê-lo.
Para a curadora do Malba, o Abaporu no acervo é uma mostra de "irmandade e vínculo" entre os países. Mesmo assim, não foram poucas as ofertas para que Constantini vendesse o quadro para colecionadores brasileiros.
Apesar de em entrevistas o empresário argentino afirmar que não a venderia nem por milhões, a sobrinha-neta de Tarsila diz, que em conversa com a ex-presidente Dilma Rousseff, ele chegou a colocar valor na obra.
"Eu estava do lado dela e do Constantini. Realmente ele pediu um valor absurdo, mas eu falei para ela que foi a primeira vez em que ele falou em vender o quadro. Dilma disse não, quando abaixar a bola dele".
Apesar de o Abaporu ser uma das obras mais importantes do modernismo e do movimento antropofágico, Tarsila estudava em Paris durante a Semana de Arte Moderna de 1922 e ficou sabendo do movimento modernista e dos eventos daquela semana de fevereiro através das cartas da amiga Anita Malfatti.
"Ela chega ao Brasil em junho, a Anita apresenta os amigos dela modernistas, e aí logo que ela conhece o Oswald, foi aquela paixão à primeira vista e eles começam a namorar", conta Tasilinha.
"Digo que ela não estava presencialmente, mas acho que o espírito dela já estava lá em São Paulo"
Para a sobrinha-neta da artista, Tarsila é hoje a pintora mais lembrada do modernismo "porque se tornou a artista mais popular do Brasil, talvez ´o´ artista mais importante". "Quando a gente fala ´a´ artista, a gente costuma achar que é só entre as mulheres, então ouso dizer que ela é ´o´ artista mais importante e mais popular do Brasil", conclui.
O Abaporu acabou sendo arrematado pelo empresário argentino Eduardo Constantini por cerca de 1,5 milhão de dólares (em torno de R$ 7,6 milhões) — e se tornava, naquele momento, o primeiro quadro brasileiro que ultrapassou a faixa do milhão de dólares.
Costantini aproveitou que obras icônicas latino-americanas voltaram a circular no mercado das artes com a crise econômica mexicana de 1994, conhecida como "Efeito Tequila", e aumentou suas aquisições artísticas. E foi em meio a outra crise econômica, a da Argentina de 2001, que ele fundou o Malba.
Duas décadas depois, a presença do famoso óleo sobre tela brasileiro em solo vizinho não está isenta de polêmica. "Já vi muitas reações, gente emocionada, gente muito contente e gente muito, muito brava", afirma Diego Murphy, um dos educadores do Malba responsáveis pela criação e condução das visitas guiadas pelas obras.
"Quem fica bravo pergunta como pode ser que a obra esteja aqui, que é do Brasil, da história brasileira. Chamo o Abaporu de Gioconda brasileira, porque a Itália não perdoa que a Monalisa esteja na França, É como se o Brasil não perdoasse o Abaporu estar aqui"
Para Tarsilinha, a obra estar no Malba favorece a arte brasileira. "O Eduardo foi um cara muito bacana: construiu o museu, doou grande parte da sua coleção para o Malba e o Abaporu está lá há muitos anos. Só posso agradecer a ele, que sempre o empresta para as exposições quando pedimos, faz publicações lindas e um trabalho muito bacana", diz.
"Sempre falo que enquanto ele fizer isso pelo Abaporu, ele também está fazendo pela arte brasileira"
Murphy conta que nas vezes em que a obra é emprestada para outros museus, a ausência do quadro de Tarsila chega a causar lágrimas de brasileiros que viajaram para a Argentina para vê-lo.
Para a curadora do Malba, o Abaporu no acervo é uma mostra de "irmandade e vínculo" entre os países. Mesmo assim, não foram poucas as ofertas para que Constantini vendesse o quadro para colecionadores brasileiros.
Apesar de em entrevistas o empresário argentino afirmar que não a venderia nem por milhões, a sobrinha-neta de Tarsila diz, que em conversa com a ex-presidente Dilma Rousseff, ele chegou a colocar valor na obra.
"Eu estava do lado dela e do Constantini. Realmente ele pediu um valor absurdo, mas eu falei para ela que foi a primeira vez em que ele falou em vender o quadro. Dilma disse não, quando abaixar a bola dele".
Apesar de o Abaporu ser uma das obras mais importantes do modernismo e do movimento antropofágico, Tarsila estudava em Paris durante a Semana de Arte Moderna de 1922 e ficou sabendo do movimento modernista e dos eventos daquela semana de fevereiro através das cartas da amiga Anita Malfatti.
"Ela chega ao Brasil em junho, a Anita apresenta os amigos dela modernistas, e aí logo que ela conhece o Oswald, foi aquela paixão à primeira vista e eles começam a namorar", conta Tasilinha.
"Digo que ela não estava presencialmente, mas acho que o espírito dela já estava lá em São Paulo"
Para a sobrinha-neta da artista, Tarsila é hoje a pintora mais lembrada do modernismo "porque se tornou a artista mais popular do Brasil, talvez ´o´ artista mais importante". "Quando a gente fala ´a´ artista, a gente costuma achar que é só entre as mulheres, então ouso dizer que ela é ´o´ artista mais importante e mais popular do Brasil", conclui.
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