domingo, 20 de janeiro de 2019

Batalha de Campo Grande, Eusebio Ayala, Paraguai (Batalha de Campo Grande) - Pedro Américo



Batalha de Campo Grande, Eusebio Ayala, Paraguai (Batalha de Campo Grande) - Pedro Américo
Eusebio Ayala - Paraguai
Museu Imperial, Petrópolis, Brasil
OST - 332x530 - 1871



A Batalha de Campo Grande é uma pintura a óleo de 1871 atribuída ao artista brasileiro Pedro Américo. Ela retrata a batalha de Campo Grande que ocorreu durante a Guerra do Paraguai, a cena mostra um momento culminante em que tropas brasileiras, comandadas pelo Conde d'Eu (D. Gaston de Orléans), estavam atravessando o rio para combater as tropas paraguaias. O momento escolhido por Pedro Américo ocorreu na última batalha da guerra, em 16 de agosto de 1869, quando os paraguaios contra-atacaram, mas, mesmo assim, foram derrotados pelas tropas brasileiras. O pintor destaca o momento em que os paraguaios colocam em risco a vida do Conde d'Eu e que o Capitão Francisco de Almeida e Castro segura as rédeas de seu cavalo com o intuito de proteger o conde.
A pintura de Pedro Américo preocupa-se com a riqueza de detalhes de figuras como, os trajes militares, os cavalos e a fisionomia dos personagens. Isso se deve a uma intensa pesquisa de fotos e depoimentos realizadas pelo pintor. Os detalhes da pintura transmitem autenticidade e a aproximam de uma documentação histórica. Com esse nível de minuciosidade e busca pela verdade, a obra de Américo se diferencia da pintura histórica tradicional pintada por artistas da época, como por exemplo, Victor Meirelles, cujo quadro Batalha Naval do Riachuelo foi encomendado pelo governo.
Para divulgar a obra Pedro Américo fez uma hábil estratégia de divulgação. Desde a elaboração do projeto da tela já podem ser encontrados artigos em jornais comentando-a. Dessa forma, até a conclusão da pintura diversos críticos de arte e personalidades comentaram sobre a pintura em grandes jornais, o que gerou curiosidade da população. No fim de 1871, a pintura Batalha de Campo Grande já era amplamente conhecida antes mesmo de ser exposta oficialmente. A exposição ao público só ocorreu em março de 1872, dois meses depois que o governo cedeu às pressões e comprou a tela por 13 contos de réis. A obra foi exposta na XXII Exposição Geral da Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, estima-se que 60.000 pessoas visitaram a mostra.
A pintura de Pedro Américo retrata a Batalha de Campo Grande (conhecida também como Batalha de Los niños ou Acosta Ñu). Um conflito que ocorreu no final da Guerra do Paraguai, no dia 16 de agosto de 1869. Na ocasião, as tropas do líder paraguaio Solano López já estavam em retirada, e a conquista do Paraguai pela Tríplice Aliança era apenas uma questão de tempo. Entretanto, Conde d'Eu, genro de D. Pedro II, organizou seu exército de 20.000 homens da tríplice aliança para lutar contra os 1000 veteranos e 3500 crianças que protegiam a fuga de López para Acosta Ñu. A maioria dos que defendiam López não tinham nem 15 anos, e utilizavam barbas falsas para parecerem mais velhos.
No conflito morreram 2000 paraguaios e 1.300 foram presos, enquanto que entre os aliados 45 foram mortes e 431 feridos. Estima-se que a batalha durou cerca de oito horas. Atualmente, utiliza-se a data para comemorar o dia das crianças no Paraguai, como uma homenagem às crianças que morreram na batalha de los niños. A batalha de Campo Grande foi o último grande conflito da Guerra do Paraguai, a qual terminou em 1º de março de 1870 com a morte de Solano López em Cerro Corá, onde foi assassinado por Chico do Diabo com um tiro de fuzil.
A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado que envolveu a América do Sul. Ela se iniciou em 13 de dezembro de 1864, quando Solano López declarou guerra ao Brasil e invadiu a região que atualmente corresponde ao Mato Grosso do Sul, naquele ano o Brasil havia invadido o Uruguai e destituído o presidente. O conflito terminou apenas seis anos depois, com a morte de Solano López.
As razões que motivaram o Paraguai a enfrentar a Tríplice Aliança, composta por Brasil, Uruguai e Argentina, ainda são controversas. Alguns estudiosos acreditam que o conflito foi uma estratégia de Solano López de expandir seu território, enquanto que outros defendem que foi uma reação desproporcional de López à invasão do Uruguai pelo Império Brasileiro.
Apesar das causas do conflito ainda não serem completamente claras, os estudiosos concordam que as consequências da Guerra do Paraguai foram desastrosas para o país, que até hoje ainda não conseguiu superar os desastres da guerra e encontra-se como o país mais atrasado entre seus vizinhos, no que se refere a questões de desenvolvimento. O conflito fez com que o país perdesse parte de seu território, a infraestrutura que possuía e o extermínio de 90% dos homens de sua população. O Paraguai também saiu do conflito com uma dívida de guerra ao Brasil, a qual só foi perdoada em 1943, no governo Getúlio Vargas.
Pedro Américo de Figueiredo e Melo (Areia, Paraíba, Brasil, 23 de abril de 1843 - Florença, Itália, 7 de outubro de 1905) foi um , poeta, cientista, filósofo,teórico de arte, ensaísta, professor, romancista e pintor brasileiro, as diferentes atividades desempenhadas por Pedro Américo refletem sua personalidade plural e o seu destaque no modesto cenário cultural do Brasil do século XIX. Na literatura, Américo escreveu cerca de 14 trabalhos literários de história, filosofia natural, belas Artes, romances e discursos. Entretanto, ele se tornou mais conhecido por sua carreira como um dos mais importantes pintores históricos do Brasil. Entre suas grandes obras estão a Batalha de Campo Grande (1871) e a Batalha do Avaí (1877).
Em 1851, o naturalista francês Louis-Jacques Brunet foi enviado ao Brasil para uma expedição que visava explorar e retratar a geografia, fauna e flora do país. Entre suas viagens, Brunet e o alemão Bindseil (desenhista da expedição) conheceram Pedro Américo na pequena cidade de areias, na Paraíba. Os artistas se encantaram pelo talento do menino considerado prodígio, assim, Pedro Américo, com apenas 9 anos, passou a integrar a comitiva por 20 meses e percorreu toda Paraíba, parte de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do norte e Piauí, fazendo desenhos científicos da flora nordestina.
Quando Américo completou 13 anos, em 1854, ele ingressou na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Durante o período em que estudou na academia de artes, o pintor ganhou diversas medalhas e produziu muitos desenhos, principalmente, de cunho religioso, como por exemplo, uma série de pinturas religiosas pedidas pelo bispo Félix Maria.
Em 1859, Pedro Américo saiu do país graças à proteção de D. Pedro II. A viagem foi financiada pelo governo imperial. Na França, o pintor estudou na escola de Belas Artes de Paris, no instituto de física e na Faculdade de Ciências da Sorbonne. Esse período na Europa foi decisivo para uma mudança nas obras de Américo, pois o pintor passou a refletir a respeito da proximidade da ciência com a arte, o que trouxe a minuciosidade e o realismo característico de suas obras.
Américo só retornou ao Brasil em 1864 quando se tornou professor concursado da Academia Imperial de Belas Artes. Porém, já em 1865 ele decidiu retornar a Europa para aprofundar seus estudo artísticos e filosóficos, onde passou mais cinco anos. Em 1870 ele retornou novamente ao Brasil, já casado com Carlota de Araújo Porto-Alegre, e assumiu a cadeira de estética na Academia Imperial de Belas Artes. Nesse momento Américo iniciou uma célebre fase de sua carreira, pois iniciou a elaboração das pinturas históricas. Destacam-se nesse período as obras, Batalha de Campo Grande (1871) e Batalha do Avaí (1877), ambas sobre a Guerra do Paraguai.
Após esse período de grandes obras, Pedro Américo morou na Itália entre 1878 e 1885. Posteriormente, ele retornou ao Rio de Janeiro onde retomou seu cargo de professor. No período de 1886 até 1888, ele pintou a tela Independência ou Morte, para o Salão de Honra do museu do Ipiranga, o qual, atualmente, é conhecido como museu paulista da Universidade de São Paulo. Em 1890, quando ocorreu a Proclamação da República, Américo foi eleito deputado e participou da elaboração da Constituição Brasileira de 1891.
Em 1900, ele retornou à Florença onde permaneceu até a sua morte. As pinturas de sucesso lhe renderam boas economias, porém, a crise brasileira de 1890 e 1892 acabou levando o dinheiro de Pedro Américo que morreu pobre. Com 62 anos, no dia 07 de outubro de 1905 ele faleceu. Seu corpo está enterrado em Areia, sua cidade natal, na Serra da Borborema.
As obras de Pedro Américo fazem parte do pintura histórica do século XIX, quando a arte, o nacionalismo e a documentação se uniram. A pintura deste gênero acaba assim tendo um papel de documentação histórica e ajuda na composição do ideário nacional. Américo com seus quadros Independência ou Morte (1888), Batalha do Avaí (1877) e Batalha de Campo Grande (1871), acabou contribuindo para a construção do imaginário do período imperial. Por exemplo, o quadro Independência ou morte foi o responsável por inventar uma independência e uma identidade visual do nascimento do Brasil como nação. Entretanto, nesse ponto, também fica mais claro entender a linha de pintura histórica seguida por Pedro Américo, pois o pintor sempre defendeu que esta não deve ser composta apenas por realidade (como documentos e depoimentos), mas, também, com um pouco de fantasia, com as convenções das artes e do belo ideal.
Ao contrário da maioria das pinturas históricas da época, a obra Batalha de Campo Grande de Pedro Américo não foi encomendada pelo governo brasileiro. O pintor aproveitou o entusiasmo nacionalista da época para produzir uma obra sobre o tema, utilizando uma hábil estratégia na escolha de personagens e, posteriormente, na divulgação da obra. Primeiramente, ele escolheu abordar a participação do Exército na guerra, o que ainda não havia sido tratado em nenhum dos outros quadros comemorativos aos feitos da Marinha, Passagem de Humaitá e Combate Naval do Riachuelo. Além disso, Pedro Américo representa a figura do Conde d'Eu, genro de D. Pedro II e comandante das forças brasileiras. Dessa forma, o pintor consegue agradar tanto o Exército quanto a família imperial. Sendo assim, mesmo sem ter sido encomendada a obra foi comprado pelo Ministro da Guerra, Barão de Jaguaribe, em 28 de janeiro de 1872, por 13.000 contos de réis.
O quadro a batalha de Campo Grande é caracterizado pelo seu realismo e riqueza de detalhes que o aproximam da fotografia e da pintura histórica e documental. Na pintura de Pedro Américo é possível perceber que o cenário é composto por uma divisão entre um terreno pantanoso e coberto por água, enquanto que outra parte mais alta é repleta de ervas daninhas que queimam como consequência das peças de artilharia. Ainda com relação ao cenário geral, percebe-se a preocupação do pintor em organizar a tela seguindo planos e perspectivas. Ao todo, são cinco planos principais.
No centro da obra encontra-se uma pirâmide composta pelas figuras centrais da obra: o príncipe, o Conde d’Eu (general comandante) e Enéas Galvão (chefe do exército e da armada brasileira). O cavalo é rigorosamente freado pelo capitão Almeida Castro, que possui uma ferida em sua mão esquerda. Ao fundo, ainda na vertical, pode se observar o Major Benedicto de Almeida Torres, um pouco mais a frente à esquerda está o Capitão de engenheiros Dr. Taunay e atrás dele localiza-se o Coronel Moraes. A direita do quadro é possível olhar ao longe o general Pedra em luta com um homem do exército inimigo, o qual tenta acertar o militar com uma lança. Na extrema esquerda superior do quadro é representado o Capitão marítimo João Mendes Salgado, que passa por cima da montanha que queima ao fundo.
Ainda do lado esquerdo, porém, na parte inferior é possível ver o Frei Fidelis d’Avila e o capitão Arouca que foi ferido por uma bala. Por fim, mais ao fundo é possível ver brasileiros e paraguaios lutando. No primeiro plano, na parte inferior, muitos paraguaios resistem aos golpes dos soldados.
A obra de Pedro Américo visa mostrar o exato instante em que a vida do comandante das forças brasileiras na guerra do Paraguai, Conde d'Eu está em perigo durante a batalha de Campo Grande, no dia 16 de agosto de 1869. Por isso, percebe-se que um ajudante de ordens segura-lhe as rédeas de seu cavalo para o proteger.
Primeiramente, analisada do ponto de vista artístico, a obra se destaca por alguns pontos principais: geometria, harmonia de cores e minuciosidade em seus detalhes. No que se refere à geometria, ao todo, são formados oito grupos de pessoas, destes, quatro se organizam em forma de pirâmide. A geometria é responsável por conseguir destacar na pintura certos personagens, ainda que ela esteja repleta deles. No caso, Pedro Américo procurou através da estrutura realçar o Conde d'Eu, entretanto, a figura do conde foi retratada de modo esguio e sem volume, o que acabou fazendo o efeito inverso e deu mais destaque aos assistentes.
As cores empregadas na execução são muito harmônicas, com destaque para o azul que revela um domínio das leis de ilusão de óptica. Por fim, merecem destaque os desenhos que são executados com muita precisão, principalmente, os trajes militares, e os músculos. Além disso, pode-se perceber que as figuras não se encontram na mesma posição, cada qual está realizando a ação instantânea que parece executar.
Percebe-se na obra a presença de várias escolas como a italiana, que está no colorido e no desenho dos homens. A francesa está na forma como os cavalos são desenhados. Por fim, a espanhola está na aproximação da pintura com o idealismo.
Para divulgar sua obra Pedro Américo elaborou uma estratégia. Quando o quadro Batalha de Campo Grande ainda era um projeto, um artigo assinado por Ladislao Netto foi publicado no Jornal do Comércio, como era um amigo íntimo do pintor, a crítica do jornalista foi repleta de elogios. Um ano depois a obra foi apresentada a família imperial. Depois disso várias personalidades influentes da sociedade carioca foram conhecer o quadro. Assim, antes mesmo da obra ser exposta ao público em geral, diversos artigos favoráveis e desfavoráveis foram escritos o que despertou o interesse e curiosidade de todos.
Com o aumento das atenções para a obra o Jornal da Tarde publicou um artigo informando ao público que o deputado do Rio Grande do Norte havia considerado a obra um trabalho patriótico. Tal publicação foi um meio da mídia sugestionar a compra da tela pelo governo.
Aqueles que escreviam artigos desfavoráveis ao trabalho de Américo criticavam, principalmente, sua auto publicidade. Com exceção do Visconde Taunay que teceu severas críticas em seu livro de memórias, principalmente, no que se refere a verossimilhança da obra, segundo ele, que estava presente no momento da cena, as posições era forçadas e impossíveis, até mesmo as dos cavalos. Além dele, Duque Gonzaga, um dos principais críticos atuantes do período, criticou a escolha da posição em que o Conde D'eu, aparentemente herói do combate, com uma posição muda.
No dia 27 de janeiro de 1872, o governo brasileiro cedeu às pressões e comprou a obra por 13 contos de réis. Dois meses depois, a Batalha de Campo Grande foi exposta ao público na XXII Exposição Geral da Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro. Depois dessa obra, Américo ganhou ampla popularidade e o governo passou a encomendar obras a ele.
A Batalha de Campo Grande (conhecida como "Batalha de Los Niños" ou "Acosta Ñu" pelos paraguaios) aconteceu dia 16 de agosto de 1869. Foi a última grande batalha da Guerra do Paraguai com vitória da Tríplice Aliança.
A batalha foi comandada por Conde d'Eu, marido da Princesa Isabel, que assumiu o exército já no final da guerra, em 1869. Sua personalidade e participação histórica é conflitante, situada entre uma imagem de herói que pôs fim à guerra, liquidando a ameaça de Solano López, e aquele que simplesmente comandou uma caça pelo inimigo.
O exército paraguaio havia sido praticamente destruído nas batalhas anteriores, chegando à última com um número muito pequeno de soldados veteranos. Devido a escassez de homens adultos surgiram os batalhões de crianças. Dos cerca de 6 mil paraguaios que lutaram na Batalha de Campo Grande sob o comando do general Bernardino Caballero, a maioria eram crianças de no máximo 15 anos. Eles lutaram contra 20.000 homens da Tríplice Aliança durante oito horas.
O local onde se deu a batalha era uma vasta planície, como o próprio nome diz, no caminho até Caraguataí. Localizada entre o arroio Piribebuí e o arroio Iuquiri, hoje conhecido como o distrito Eusebio Ayala.
A Guerra do Paraguai se iniciou em dezembro de 1864, quando o presidente paraguaio Francisco Solano López ordenou a invasão de Mato Grosso e Corrientes, uma província da Argentina. O conflito durou 5 anos, chegando ao fim em março de 1870 com a morte de Solano López.
O líder paraguaio se tornou o grande inimigo da Tríplice Aliança. Ele era tomado como um ditador tirânico cuja permanência no poder significava grande ameaça para a paz do país e para a segurança das fronteiras brasileiras. A ideia de que López era o grande responsável pela guerra era tão forte no Brasil que muitas vezes a Guerra do Paraguai foi chamada de "A Guerra do López".
No inicio de 1869, já se esperava que a guerra tivesse chegado ao fim com as vitórias de dezembro de 1868, no entanto, López havia fugido durante a batalha de Lomas Valentinas, refugiando-se na Cordilheira dos Altos para se recuperar e voltar à luta. O comandante brasileiro Luís Alves de Lima e Silva, o marquês de Caxias (posteriormente consagrado com o título de duque), sugeriu que a guerra estava militarmente encerrada, mas Dom Pedro II, imperador do Brasil, exigia que o conflito continuasse até a rendição ou exílio de López. O marquês se afastou da guerra em 9 de fevereiro de 1869 alegando problemas de saúde e foi substituído por Luís Filipe Gastão de Orléans, o Conde d'Eu, genro do imperador.
Após assumir o "tão espinhoso cargo", como chamou, Conde d'Eu pôs seu exército em marcha no dia 1º de maio, rumo à Cordilheira. No dia 5 do mesmo mês a fundição de Ibicuí, de onde saiam os canhões paraguaios, foi destruída. Depois, a estrada de ferro foi tomada pelos aliados. As tropas brasileiras, no caminho para as Cordilheiras, se empenharam em diversas ações, como a ocupação de Cerro León e Paraguarí.
Para prejudicar o exército aliado, Solano López evacuava territórios ameaçados para dificultar que seus inimigos encontrassem alimentos e outros recursos. A tática funcionou, mas quem mais sofreu com tal ação foi a população civil paraguaia, que acabou sendo afetada pela escassez de recursos.
Durante todo o mês de julho e início de agosto, as tropas aliadas que marchavam até a Cordilheira, que então eram formadas por 19.190 brasileiros, 900 argentinos e 1.000 uruguaios, se empenharam na Batalha de Peribebuí que ocorreu no dia 12 de agosto e chegou ao fim com mais uma vitória da Tríplice Aliança. Essa batalha também teve participação de crianças.
Conde d'Eu e as principais tropas aliadas avançaram e tomaram Caacupé em 15 de agosto, onde, supostamente, López estava se escondendo, mas ele, na verdade, havia seguido para Caraguataí dias antes, deixando o general Bernardino Caballero na retaguarda. Sabendo disso, Conde d'Eu quis acelerar a marcha para alcançar logo o general paraguaio, mas isso não foi possível devido ao cansaço do exército. Ele enviou então uma divisão brasileira da cavalaria para a passagem até Campo Grande. A divisão foi reforçada, mais tarde, pela 2ª unidade tática do exército, que contava com os soldados argentinos comandados pelo coronel Luís Maria Campos.
As tropas aliadas alcançaram a retaguarda das forças paraguaias em San Bernardino em 16 de agosto. A batalha começou às oito e meia da manhã em Campo Grande, uma vasta planície de cerca de doze quilômetros quadrados que era ideal para a cavalaria brasileira. Esta, porém, estava na retaguarda e não conseguia avançar pelo caminho estreito, o que impediu sua ação em um primeiro momento. Devido a isso, o ataque brasileiro teve de iniciar com a infantaria, na qual um batalhão era comandado pelo coronel Manoel Deodoro da Fonseca.
A batalha durou oito horas, com os paraguaios, em minoria, oferecendo uma feroz resistência. Após os primeiros ataques, as tropas do general Caballero recuaram para o outro lado do rio Juquerí onde eles tinham oito canhões e cobertura. Eles colocaram fogo na grama para esconder seus movimentos com a fumaça.
A infantaria aliada fez o primeiro avanço para cruzar o rio, mas foi repelida. Conde d'Eu, então, ordenou que sua artilharia abrisse fogo, o que causou grandes perdas no lado paraguaio. Nesse momento a cavalaria brasileira havia, finalmente, alcançado o campo de batalha e conseguira cruzar o rio e fazer um devastador ataque contra a posição paraguaia. As tropas do general Caballero se defenderam utilizando uma clássica formação em quadrado com baionetas. Ainda assim, suas tropas sofreram grandes baixas.
A infantaria aliada atacou novamente com baionetas, assumindo os oito canhões e a posição paraguaia. No fim, 2.000 paraguaios foram mortos e 1.200 capturados. O 1º corpo do exército dos aliados teve 30 mortos, 269 feridos, 30 contusos e 17 extraviados; o 2º, 15 mortos e 90 feridos, totalizando 45 mortos e 389 feridos. Um número pequeno em relação ao das baixas paraguaias.
Alguns historiadores acusaram Conde d'Eu de ter ateado fogo ao capinzal para matar os soldados paraguaios que estavam caídos e feridos no campo de batalha, no entanto essa versão foi refutada por historiografias mais recentes. Segundo relatos do Visconde de Taunay, que atuava como Chefe do Gabinete General do Estado Maior no período e estava presente na batalha, foram os próprios paraguaios, buscando ocultar seus movimentos com a fumaça, que iniciaram o incêndio. O coronel Conrado Bittencourt ordenou que Dionísio Cerqueira e seu batalhão controlassem as chamas, mas Dionísio passou a tarefa para um sargento que não conseguiu fazer a tarefa corretamente. O incêndio não foi controlado e se alastrou pelo campo, matando os feridos queimados ou sufocados.
Sobre esse ocorrido Taunay relata:
“Aqueles mal-aventurados, caídos no cumprimento do áspero dever, vendo o incêndio vir ao encontro dos seus pobres corpos exangues ou com os membros quebrados, cerca-los de todos os lados, empolgá-los, abafá-los em rolos de espesso fogo, sufocá-los, já martirizados por medonha sede ou então queimá-los aos poucos em vida!"
Essa foi a última grande batalha da Guerra do Paraguai. Ela foi seguida de movimentos irregulares das tropas brasileiras, uma verdadeira caçada à Solano López que iria, finalmente, terminar meses depois com a morte do ditador em Cerro Corá. A Batalha de Campo Grande está representada no famoso quadro "Batalha de Campo Grande", de Pedro Américo, e no livro "Recordações de Guerra e de Viagem", do Visconde de Taunay.
No Paraguai, o Dia das Crianças passou a ser celebrado em 16 de agosto. É um feriado nacional em memória das crianças que perderam suas vidas nessa batalha.
Conde d'Eu retornou à Corte com o apelido de "marechal decorativo" devido a sua curta participação na guerra e já em um momento em que ela estava praticamente encerrada. Apesar de seu papel como general tê-lo ajudado perante o império, não foi o suficiente para coloca-lo entre os líderes e heróis nacionais.
O general Caballero foi capturado pelos brasileiros no dia 8 de abril de 1870, perto do Rio Apa. Foi solto pouco tempo depois, em maio de 1871 e voltou para Assunção, onde se engajou na política. Se tornou, em 1880, presidente do Paraguai (1880-1886) e participou da fundação do Partido Colorado em 1887.
Manoel Deodoro da Fonseca comandou um dos batalhões da infantaria brasileira e foi, mais tarde, o primeiro presidente do Brasil republicano (1889-1891).
A Guerra do Paraguai foi responsável por algumas mudanças na sociedade brasileira: o governo imperial e a classe dominante tiveram de contar com recursos humanos fora da rígida estrutura social escravista da época. Transformaram escravos e pessoas de classe baixa em soldados, abrindo uma discussão sobre os direitos dessas pessoas. O exército brasileiro, agora formado por oficiais de classe média urbana e soldados escravos e pobres, tornou-se uma importante força política que veio a apoiar os movimentos republicanos e abolicionistas que se seguiram.
A historiografia referente a Guerra do Paraguai passou por três momentos historiográficos, sendo que em cada um deles houve mudanças na narrativa sobre os personagens e os acontecimentos principais do conflito. A princípio o conhecimento sobre a guerra era baseado nos documentos escritos durante ou logo após o conflito. Foi a partir de 1960 que as pesquisas ganharam força, em grande parte sob a inspiração das ideologias de esquerda, e mudaram completamente a narrativa tradicional. Essa leitura se deu até meados da década de 80, quando mais uma vez a historiografia começou a mudar, dessa vez voltando sua atenção para os primeiros registros.
Os fatos conhecidos sobre a Batalha de Campo Grande também foram mudando juntamente com esses períodos revisionistas:
Historiografia tradicional
A vitória na guerra foi recebida com alívio no Brasil. Chefes militares receberam títulos de nobreza e quadros foram pintados, glorificando as vitórias brasileiras. No entanto, nos anos que se seguiram, o movimento republicano ganhou força e com ele vieram diversas críticas à Guerra do Paraguai, não ao conflito em si, mas principalmente às ações dos homens que estavam no comando das tropas e, claro, à monarquia. Segundo o historiador Rodrigo Goyena Soares, que organizou o livro "Diário de Conde d'Eu", caso o Brasil chegasse a ter um terceiro reinado o Conde teria papel fundamental nas decisões, então, para desmoralizar sua imagem, os republicanos reforçaram os rumores de que ele fora um general cruel, capaz de queimar vivas crianças paraguaias feridas em batalha e incendiar um hospital.
Historiografia revisionista
Em 1979 é lançado o livro “Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai”, do jornalista Julio José Chiavenatto. Nele, o jornalista critica ferrenhamente o papel do império brasileiro na guerra, assim como dos chefes militares, principalmente do duque de Caxias e do Conde d’Eu. Apesar de ser um livro declaradamente passional, escrito sem critérios metodológicos historiográficos, ele foi tomado como referência por diversos historiadores revisionistas.
Nessa obra o jornalista escreve: “Acosta Ñu é o símbolo mais terrível da crueldade dessa guerra: as crianças de seis a oito anos, no calor da batalha, apavoradas, agarravam-se às pernas dos soldados brasileiros, chorando, pedindo que não as matassem. E eram degoladas no ato”.
Historiografia pós-revisionista
Esse processo teve início com a publicação do livro “O expansionismo brasileiro: o papel do Brasil na bacia do Prata; da colonização ao Império” (Rio de Janeiro: Philobiblion), de Luiz Alberto Moniz Bandeira. Essa nova historiografia se caracteriza, principalmente, por pesquisa sólida em fontes primárias. O livro “Maldita guerra: nova história da guerra do Paraguai” de Francisco Doratioto é considerado como referência nesse contexto.
Nesse momento da historiografia algumas acusações feitas ao Conde d’Eu foram revistas. Chiavenatto utilizou como fonte os registros do Visconde de Taunay para acusar o Conde de alguns crimes, dentre eles o de atear fogo aos feridos paraguaios. Os pós-revisionista, no entanto, apresentam o texto do próprio Taunay para dizer o contrário: “havia balas que ainda explodiam no campo por causa do incêndio da macega ateado, no princípio da ação, pelos paraguaios, para ocultarem o seu movimento tático”. Também é conhecida a menção de que o Conde d'Eu teria ordenado que incendiassem um hospital com feridos, o que teria resultado na morte de mais de uma centena de pessoas. O mais provável é que o hospital tenha queimado em conseqüência dos bombardeios aliados no início da batalha, direcionados as fortificações paraguaias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário