Louis Blériot Atravessa o Canal da Mancha, 25/07/1909, Calais, França, Dover, Inglaterra
Calais, França e Dover, Inglaterra
Fotografia - Cartão Postal
O prêmio de aviação Daily Mail, foi anunciado pela primeira vez
em 1908, oferecendo um prêmio de £ 500, oferecido para um voo de travessia
antes do final daquele ano. Quando 1908 passou sem nenhuma tentativa séria, o
prêmio em dinheiro passou para £ 1.000 (mil libras esterlinas), e a oferta perdurava até o fim de 1909.
Assim como alguns dos outros prêmios oferecidos pelo jornal, ele foi
considerado por muitos apenas como uma maneira de divulgar o nome do jornal a
baixo custo. O jornal francês Le Matin, chegou a comentar que "não havia chance do
prêmio ser ganho".
O Canal da
Mancha já havia sido cruzado anteriormente por um balão de hidrogênio não
tripulado em 1784 e um outro tripulado por Jean-Pierre Blanchard e John Jeffries o seguiu em 1785.
Blériot tinha
três rivais para o prêmio, sendo o mais sério, Hubert Latham, um cidadão
francês pilotando um monoplano Antoinette IV. Os outros
eram: Charles de Lambert, um aristocrata russo de
ascendência francesa que era pupilo de Wilbur Wright, e Arthur Seymour, um inglês que possuía um biplano
Voisin. De Lambert conseguiu estabelecer uma base em Wissant, próximo à Calais, mas Seymour nada
fez a não ser enviar sua inscrição ao Daily Mail. Lord Northcliffe, que fez amizade com Wilbur
Wright durante as sensacionais demonstrações públicas de 1908 na França,
ofereceu o prêmio na esperança de que Wilbur obtivesse a vitória. Wilbur queria
fazer uma tentativa, e telegrafou para o irmão Orville nos Estados Unidos.
Orville, que na época se recuperava de ferimentos graves devido a uma queda,
respondeu pedindo que ele não fizesse uma tentativa antes que ele (Orville)
pudesse vir à França para ajudar. Na época, Wilbur já tinha conquistado uma
fortuna em prêmios em dinheiro relativos a recordes de altitude e duração dos
voos, além de ter assegurado contratos para o "Wright Flyer" com
franceses, italianos, britânicos e alemães. A sua turnê pela Europa estava
praticamente completo no verão de 1909. Ambos os irmãos viram a tentativa de
travessia do canal por apenas mil libras como de pouco interesse, considerando
os perigos do voo.
Latham chegou
em Calais no início de Julho, e preparou sua base em Sangatte nas construções semi abandonadas de uma
tentativa abandonada de escavar um túnel sob o canal. O evento foi objeto de
grande interesse público: foi registrado que houve 10.000 visitantes em Calais, e um público similar em Dover,
e a Marconi Company instalou
um link de rádio especial para a ocasião, com uma estação em Cap Blanc Nez em
Sangatte e a outra no telhado do Lord Warden Hotel em Dover. O
público precisou esperar: os ventos estavam fortes e Latham não fez nenhuma
tentativa até 19 de Julho, quando a 9,7 km do seu destino, o motor do seu
avião teve problemas e ele foi forçado a fazer a primeira amerrissagem do
Mundo. Latham foi resgatado pelo destróier francês Harpon e levado de volta à França, onde ele ficou sabendo
que Blériot havia entrado na competição. Blériot, acompanhado por dois
mecânicos e seu amigo Alfred Leblanc, chegou à Calais em 21 de Julho e estabeleceu
sua base numa fazenda próxima à praia em Les Baraques, entre Calais e Sangatte.
No dia seguinte, um avião substituto para Latham foi enviado da fábrica
Antoinette. Os ventos continuaram fortes até o dia 24, adiando a próxima tentativa.
Leblanc foi
dormir a meia noite, mas estava muito nervoso para dormir bem, e as dus da
manhã já estava de pé, e julgando que as condições climáticas eram as ideais,
acordou Blériot, que em geral era pessimista e precisou ser convencido a tomar
o café da manhã. As três e meia, sua esposa Alice foi colocada a bordo do
destróier Escopette, que deveria escoltar o voo.
As 4:15 da
manhã do dia 25 de Julho de 1909, assistido por um público bastante animado,
fez um voo curto de teste, e depois de receber um sinal de que o Sol havia
saído (as regras da competição determinavam que o voo deveria ocorrer entre o
nascer e o por do Sol), ele decolou as 4:41 para a tentativa de travessia. Voando
a aproximadamente 72 km/h e 76 m de altitude, ele iniciou a travessia do
canal. Sem ter uma bússola, Blériot seguiu a direção do Escopette, que
estava se dirigindo para Dover, mas ele logo perdeu o destróier de vista. A
visibilidade havia piorado e mais tarde ele relatou: "por mais de dez
minutos, eu estive sozinho, isolado, perdido no meio do mar imenso, e não via
nada no horizonte e nenhum navio".
No entanto,
ele avistou uma linha cinza (da costa inglesa), à sua esquerda; o vento tinha
aumentado e o havia empurrado para Leste do curso pretendido. Alterando o curso,
ele seguiu a linha da costa por cerca de 1,6 km até avistar Charles
Fontaine, o correspondente do jornal Le Matin acenando uma grande bandeira tricolor como um
sinal. Diferente de Latham, Blériot não havia visitado Dover para localizar um
lugar apropriado para o pouso, e a escolha foi feita por Fontaine, que
selecionou uma área de terra fofa chamada Northfall Meadow, perto de Dover Castle, onde havia um ponto baixo nas colinas. Uma vez
sobre a área, ele circulou por duas vezes para perder peso e cortou o motor a
uma altitude de cerca de 20 m, fazendo um pouso um tanto desastrado devido às
rajadas de vento. O trem de pouso foi avariado, uma das lâminas da hélice
destruída, mas Blériot saiu ileso. O voo durou 36 minutos e 30 segundos.
Notícias de
sua partida foram enviadas por rádio à Dover, mas a expectativa geral era de
que ele tentaria pousar na praia à Oeste da cidade. O correspondente do Daily
Mail, quando soube que Blériot havia pousado perto de Castle, foi até lá
de carro em alta velocidade, e trouxe Blériot de volta ao porto, onde ele se
encontrou com sua esposa. O casal, cercado pela torcida e fotógrafos, foi
conduzido ao Lord Warden Hotel. Blériot tornou-se uma "celebridade
instantânea".
O Memorial
Memorial, a silhueta do avião feita em granito sobre a grama, marca o ponto
do pouso sobre as colinas perto de Dover Castle.
Guilherme II, Imperador
da Alemanha, fez uma
declaração sobre este acontecimento que se tornou famosa na época: "A
Inglaterra não é mais uma ilha".
"Esta
transformação da geografia é uma vitória da navegação aérea sobre a navegação
marítima. Um dia, talvez, graças a você, o avião atravessará o Atlântico". Trecho da carta em que Santos Dumont parabeniza Blériot.
Devido às suas
realizações na aviação, Louis Blériot recebeu o brevê Nº 1 com data retroativa de 7 de janeiro de 1909 do Aéro-Club de France.
Após a
travessia do Canal da Mancha, o monoplano foi colocado em exposição na
Selfridge & Co, onde foi visto por mais de 12.000 pessoas.






Nenhum comentário:
Postar um comentário