Museu Paulista São Paulo
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Passarola é o projeto de um aeróstato supostamente construído entre 1709 e 1720 e cuja
invenção é atribuída a Bartolomeu de Gusmão, padre e cientista português nascido no Brasil Colônia. Embora não existam evidências concretas de sua construção, o invento
ganhou notoriedade quando uma iconografia de sua aparência surgiu pela primeira vez no ano de
1784 falsamente datada de 1774 na imprensa europeia. A imagem, segundo relatos da
época, foi co-criada pelo Conde de Penaguião, filho do Marquês Fontes e Abrantes com o intuito de afastar
curiosos que assediavam o padre após este ganhar fama com suas demonstrações em
escala reduzida de balões de ar quente em 1709. A imagem ressurgiu
diversas vezes na imprensa do final do século XVIII, e geralmente era utilizada
para ridicularizar e descreditar o padre da invenção dos aerostatos
em função da polêmica entre Bartolomeu de Gusmão e os Irmãos Montgolfier, que construíram de fato o primeiro balão em escala real e tripulado em 1783.
Bartolomeu de
Gusmão era um padre jesuíta nascido em Santos, no território português do Brasil que, depois de se matricular na Universidade de Coimbra em 1715,
começou aí a desenvolver dois dos seus interesses de há muito, a Matemática e a Física.
Na sequência dos seus estudos em aerostação,
no ano de 1708, Bartolomeu de Gusmão pediu ao Rei de Portugal, D. João V, uma petição de privilégio para o que chamou o
seu instrumento de andar pelo ar.
Em 19 de Abril de 1709, por alvará é-lhe concedido esse privilégio. Além disso,
D. João V decide passar a financiar o projeto de desenvolvimento e construção
do aparelho.
Alguns meses depois, em 8 de Agosto de 1709,
perante uma importante assistência presente na Sala dos Embaixadores da Casa da Índia que incluía o Rei, a Rainha, o Núncio
Apostólico (Cardeal Conti, mais tarde Papa Inocêncio XIII), bem como outros importantes elementos
do Corpo Diplomático e da
Corte Portuguesa, Bartolomeu de Gusmão fez voar um balão aquecido a ar, que
subiu até ao teto da sala e foi destruído com varas para evitar que se
incendiasse o recinto.
Quando a invenção de 1783 dos Irmãos
Montgolfier foi popularizada na Europa, os portugueses tentaram resgatar o crédito do invento
a Bartolomeu de Gusmão, publicando a imagem e os relatos da época de suas
demonstrações a corte portuguesa. Isso motivou a republicação da iconografia da
passarola em deboche pois obviamente tal invento, como foi desenhado, não
poderia se manter no ar pelo princípio de Arquimedes.
Na Torre do
Tombo encontra-se a transcrição do documento em que Alexandre Gusmão expõe
ao rei D. João V o invento
de um tipo de aeronave e seus possíveis usos:
Petição
do Padre Bartholomeu Lourenço sobre o instrumento que inventou para andar pelo
ar e suas utilidades.
Diz o licenciado Bartholomeu
que ele tem descoberto um instrumento para andar pelo ar da mesma sorte que
pela terra, e pelo mar, com muita mais brevidade, fazendo muitas vezes duzentas
e mais léguas de caminho por dia, nos quais instrumentos se poderão levar os
avisos de mais importância aos exércitos e terras mais remotas, quasi no mesmo
tempo em que se resolvem - no que interessa a Vª Majestade muito mais que todos
os outros Princípes pela maior distância de seus Domínios, evitando-se desta
sorte os desgovernos das conquistas, que provem em grande parte de chegar tarde
a notícia deles. Além do que poderá V. Mag. mandar vir todo o preceito delas
muito mais brevemente e mais seguro. Poderão os homens de Negócio passar letras
e cabedais a todas as Praças sitiadas: poderão ser socorridas tanto de gente,
como de víveres, e munições a todo o tempo, e tirarem-se delas as Pessoas que
quiserem, sem que o inimigo o possa impedir.
Descobrir-se-ão as regiões
mais vizinhas aos Pólos do Mundo, sendo da Nação Portuguesa a glória deste
descobrimento, além das infinitas conveniências que mostrará o tempo. E porque
deste invento se podem seguir muitas desordens cometendo-se com o seu uso
muitos crimes, e facilitando-se muito na confiança de se poderem passar a outro
Reino, o que se evita estando reduzido o dito uso a uma só Pessoa, a quem se
mandem a todo o tempo as ordens convenientes a respeito do dito transporte, e
proibindo-se a todas as mais sob graves penas. E é bem se remunere ao
suplicante invento de tanta importância.
Pede a V. Majestade seja
servido conceder ao suplicante o privilégio, de que pondo por obra o dito
invento nenhuma pessoa de qualquer qualidade que for possa usar dele em nenhum
tempo neste Reino, ou suas conquistas sem licença do suplicante, ou seus herdeiros
sob pena de perdimento de todos os bens, e as mais que a V. Majestade
parecerem.
Consultou-se
No Desembargo do Paço a El Rey
com todos os votos e que o prémio que pedia era muito limitado e que se devia
ampliar.
Saiu
Despachado
Como parece à Mesa, e além das
penas acrescento a de morte aos Transgressores, e para com mais vontade o
suplicante se aplicar ao novo Instrumento, obrando os efeitos que relata, lhe
faço mercê da primeira Dignidade, que vagar nas minhas colegiadas de Barcelos,
ou Santarém, e de Lente de Prima de Mathematica da minha Universidade de
Coimbra com 600 mil réis de renda, que crio de novo em vida do suplicante
somente.
Lisboa, 7 de Abril de 1709
(com a rubrica de Sua
Majestade)
Um pouco mais sobre o tema pode ser visto aqui : https://fenix.tecnico.ulisboa.pt/downloadFile/395146459933/Extended%20Abstract%20final.pdf
Um pouco mais sobre o tema pode ser visto aqui : https://fenix.tecnico.ulisboa.pt/downloadFile/395146459933/Extended%20Abstract%20final.pdf
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