sexta-feira, 29 de março de 2019

Passarola (Passarola) - José Wasth Rodrigues

Passarola (Passarola) - José Wasth Rodrigues
Museu Paulista São Paulo
OST - 54x48


Passarola é o projeto de um aeróstato supostamente construído entre 1709 e 1720 e cuja invenção é atribuída a Bartolomeu de Gusmão, padre e cientista português nascido no Brasil Colônia. Embora não existam evidências concretas de sua construção, o invento ganhou notoriedade quando uma iconografia de sua aparência surgiu pela primeira vez no ano de 1784 falsamente datada de 1774 na imprensa europeia. A imagem, segundo relatos da época, foi co-criada pelo Conde de Penaguião, filho do Marquês Fontes e Abrantes com o intuito de afastar curiosos que assediavam o padre após este ganhar fama com suas demonstrações em escala reduzida de balões de ar quente em 1709. A imagem ressurgiu diversas vezes na imprensa do final do século XVIII, e geralmente era utilizada para ridicularizar e descreditar o padre da invenção dos aerostatos em função da polêmica entre Bartolomeu de Gusmão e os Irmãos Montgolfier, que construíram de fato o primeiro balão em escala real e tripulado em 1783.
Bartolomeu de Gusmão era um padre jesuíta nascido em Santos, no território português do Brasil que, depois de se matricular na Universidade de Coimbra em 1715, começou aí a desenvolver dois dos seus interesses de há muito, a Matemática e a Física.
Na sequência dos seus estudos em aerostação, no ano de 1708, Bartolomeu de Gusmão pediu ao Rei de PortugalD. João V, uma petição de privilégio para o que chamou o seu instrumento de andar pelo ar. Em 19 de Abril de 1709, por alvará é-lhe concedido esse privilégio. Além disso, D. João V decide passar a financiar o projeto de desenvolvimento e construção do aparelho.
Alguns meses depois, em 8 de Agosto de 1709, perante uma importante assistência presente na Sala dos Embaixadores da Casa da Índia que incluía o Rei, a Rainha, o Núncio Apostólico (Cardeal Conti, mais tarde Papa Inocêncio XIII), bem como outros importantes elementos do Corpo Diplomático e da Corte Portuguesa, Bartolomeu de Gusmão fez voar um balão aquecido a ar, que subiu até ao teto da sala e foi destruído com varas para evitar que se incendiasse o recinto.
Quando a invenção de 1783 dos Irmãos Montgolfier foi popularizada na Europa, os portugueses tentaram resgatar o crédito do invento a Bartolomeu de Gusmão, publicando a imagem e os relatos da época de suas demonstrações a corte portuguesa. Isso motivou a republicação da iconografia da passarola em deboche pois obviamente tal invento, como foi desenhado, não poderia se manter no ar pelo princípio de Arquimedes.
Na Torre do Tombo encontra-se a transcrição do documento em que Alexandre Gusmão expõe ao rei D. João V o invento de um tipo de aeronave e seus possíveis usos:
Petição do Padre Bartholomeu Lourenço sobre o instrumento que inventou para andar pelo ar e suas utilidades.
Diz o licenciado Bartholomeu que ele tem descoberto um instrumento para andar pelo ar da mesma sorte que pela terra, e pelo mar, com muita mais brevidade, fazendo muitas vezes duzentas e mais léguas de caminho por dia, nos quais instrumentos se poderão levar os avisos de mais importância aos exércitos e terras mais remotas, quasi no mesmo tempo em que se resolvem - no que interessa a Vª Majestade muito mais que todos os outros Princípes pela maior distância de seus Domínios, evitando-se desta sorte os desgovernos das conquistas, que provem em grande parte de chegar tarde a notícia deles. Além do que poderá V. Mag. mandar vir todo o preceito delas muito mais brevemente e mais seguro. Poderão os homens de Negócio passar letras e cabedais a todas as Praças sitiadas: poderão ser socorridas tanto de gente, como de víveres, e munições a todo o tempo, e tirarem-se delas as Pessoas que quiserem, sem que o inimigo o possa impedir.
Descobrir-se-ão as regiões mais vizinhas aos Pólos do Mundo, sendo da Nação Portuguesa a glória deste descobrimento, além das infinitas conveniências que mostrará o tempo. E porque deste invento se podem seguir muitas desordens cometendo-se com o seu uso muitos crimes, e facilitando-se muito na confiança de se poderem passar a outro Reino, o que se evita estando reduzido o dito uso a uma só Pessoa, a quem se mandem a todo o tempo as ordens convenientes a respeito do dito transporte, e proibindo-se a todas as mais sob graves penas. E é bem se remunere ao suplicante invento de tanta importância.
Pede a V. Majestade seja servido conceder ao suplicante o privilégio, de que pondo por obra o dito invento nenhuma pessoa de qualquer qualidade que for possa usar dele em nenhum tempo neste Reino, ou suas conquistas sem licença do suplicante, ou seus herdeiros sob pena de perdimento de todos os bens, e as mais que a V. Majestade parecerem.
Consultou-se
No Desembargo do Paço a El Rey com todos os votos e que o prémio que pedia era muito limitado e que se devia ampliar.
Saiu Despachado
Como parece à Mesa, e além das penas acrescento a de morte aos Transgressores, e para com mais vontade o suplicante se aplicar ao novo Instrumento, obrando os efeitos que relata, lhe faço mercê da primeira Dignidade, que vagar nas minhas colegiadas de Barcelos, ou Santarém, e de Lente de Prima de Mathematica da minha Universidade de Coimbra com 600 mil réis de renda, que crio de novo em vida do suplicante somente.
Lisboa, 7 de Abril de 1709
(com a rubrica de Sua Majestade)

Um pouco mais sobre o tema pode ser visto aqui : https://fenix.tecnico.ulisboa.pt/downloadFile/395146459933/Extended%20Abstract%20final.pdf

Nenhum comentário:

Postar um comentário