Farus Quadro 2000, Brasil
Brasil
Após o
advento da Fiat do Brasil, alguns poucos fabricantes de carros fora-de-série,
fugindo do lugar-comum das carrocerias de fibra sobre plataformas Volkswagen,
passaram a utilizar em seus veículos órgãos mecânicos oriundos da fábrica
mineira. A Farus Indústria de Veículos Esportivos Ltda., de Belo Horizonte
(MG), foi uma delas.
O projeto do
seu carro teve início em 1977, e foi desenvolvido por um grupo liderado pelos
italianos Alfio e Giuseppe Russo, pai e filho, proprietários da Italmecânica,
fábrica de equipamentos para a indústria alimentícia em Minas Gerais. A Farus
(das letras iniciais de Família
Russo) foi constituída em 1979 e, em junho do ano seguinte, apresentou à
imprensa sua primeira criação – o cupê de dois lugares ML 928, com grupo mecânico do Fiat Rallye (motor 1.3
de 72 cv e caixa de quatro marchas), montado transversalmente, entre eixos, e
tração traseira. O chassi, especialmente projetado, era de chapas de aço
dobradas e soldadas, em duplo Y, formando grandes caixões de seção quadrada.
Tinha suspensão independente nas quatro rodas (McPherson, originária da
dianteira do Fiat) e freios a disco, hidráulicos e de duplo circuito, também
nas quatro rodas. A carroceria (de fibra) era unida ao chassi sobre calços de
borracha; tinha faróis retangulares escamoteáveis, grandes lanternas traseiras
(do Ford Corcel
II) e dois porta-malas, a tampa do traseiro abrindo para o lado esquerdo, para
também permitir acesso ao motor; o radiador de água era montado na frente.
Internamente, apresentava painel completo, console central, bancos e volante
esportivos, vidros elétricos e, na versão luxo, ar condicionado, estofamento de
couro e teto solar. A produção seriada do novo modelo teve início em fevereiro
de 1981, à razão de 15 unidades mensais; cem carros foram fabricados no
primeiro ano.
A Farus montou
um grande stand no XII Salão do Automóvel, em novembro de 1981, onde mostrou
uma inesperada surpresa, o modelo TS
1.6, com os mesmos elementos mecânicos do ML 928, porém com motor (96
cv) e caixa Volkswagen Passat, ainda entre-eixos,
porém com montagem longitudinal. Externamente os dois modelos se diferenciavam
em detalhes: nas entradas de ar adicionais para o radiador (quatro pequenas
grades sob o para-choque dianteiro mais largo), nas aberuras para a ventilação
do motor, sobre a tampa traseira (circulares e horizontais no ML, oblongas e
verticais, no TS), nas lanternas traseiras (do VW Voyage no novo modelo) e nos
faróis auxiliares (montados mais abaixo, ao lado das novas grades de
ventilação). No interior, ar condicionado e porta-luvas, inexistentes no modelo
anterior. Em 1982, a griffe Gucci lançou
uma série especial do Farus TS, com para-choques da cor da carroceria, ar
quente, som stereo e grande quantidade de logotipos do costureiro distribuídos
pelo exterior e interior do carro. Ainda em 1982 a Farus começou a desenvolver
um utilitário com motor diesel Fiat, nas versões picape, furgão e van para 15
passageiros, à qual daria o nome Fargo,
mas não concluiu o projeto. No ano seguinte a razão social da empresa foi
alterada para Embrabi Comércio
Indústria Ltda. e suas instalações industriais transferidas para Contagem (MG).
No final de
1984, no XIII Salão do Automóvel, foram mais uma vez mudados fornecedor e
cilindrada dos motores. A novidade chrgou com o Beta, lançado no Salão nas versões cupê e conversível, com o conjunto motriz 1.8
do Chevrolet Monza
(96 cv, a álcool, ou 83 cv a gasolina) e caixa automática, ou manual de quatro
ou cinco marchas. (Em 1986 o motor já seria outro – o Monza 2.0.) Como de
regra, foram poucas as alterações estéticas: novas rodas, para-choques maiores
com novo posicionamento das lanternas e apenas duas entradas de ar para o
radiador, novas luzes de placa; as colunas B e a grade sobre o capô foram
pintadas de preto, enquanto que o interior foi redesenhado. Chassi, suspensões
e freios permaneceram inalterados.
Em 1986, a
Farus quase chegou a acordo com uma empresa norte-americana interessada em
importar grande quantidade de veículos (de 800 a 1.000 por mês), equipados com
motor Chrysler 2.2, mediante contrato de longo prazo. Para tal as duas empresas
se associariam, instalando nova fábrica para a produção seriada, possivelmente
no Paraná. A Farus chegou a participar do Salão Internacional de Nova Iorque de
1987, onde seus carros foram bem cotados, mas o acordo acabou por não ser
formalizado (desde 1982 o fabricante buscava penetrar no mercado externo,
chegando a negociar a montagem dos seus carros na África do Sul).
Nova mudança
nos motores e detalhes estéticos ocorreu em 1988, por ocasião do XV Salão,
quando o Beta recebeu a mecânica 2.0 do VW Santana, caixa de cinco marchas,
embreagem hidráulica e servo-freio. Mais uma vez foram alterados para-choques
(agora da cor do carro), entradas de ar e lanternas (as traseiras passaram a
ser as do Santana). Com a redução das dimensões do túnel central o espaço
interno foi revisto. Em 1989, com o lançamento do Quadro, a Farus abandonaria a configuração “cupê de dois lugares
com motor central”, que vinha adotando desde sua criação. Do carro antigo, o
Quadro trazia apenas o conjunto motor/caixa VW 2.0 e os contornos gerais da
carroceria (especialmente sua parte mais mal resolvida – o trecho lateral entre
as colunas B e C). De resto, tudo era novo: chassi tubular periférico, motor e
tração dianteiros, freios a disco apenas na frente, suspensão do Santana
(dianteira McPherson e traseira semi-independente, com molas helicoidais e
braços longitudinais). A carroceria permanecia de fibra de vidro, com duas
portas e faróis retráteis, mas agora tinha 2+2 lugares e lanternas traseiras do
Gol.
Em 1990 a
Farus foi vendida para um grupo paulista; a indústria permaneceu em Contagem,
porém com outro nome – Tecvan,
Tecnologia de Vanguarda Ltda. A nova empresa, que esteve presente no XVI Salão,
não logrou sobreviver à abertura das importações promovida no início da década,
pelo governo Collor, cerrando as portas em 1991. Com cerca de 1.200 unidades
produzidas em menos de dez anos (mais de 80 exportadas), a Farus foi uma
história de sucesso no segmento dos fora-de-série nacionais.
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