Magnífica 70 2015-2018 - Magnífica 70
Série de TV
Brasil - 60 minutos
Poster da série
Magnífica 70 foi uma série de televisão brasileira criada por Cláudio Torres, Renato Fagundes e Leandro Assis e dirigida por Torres e Carolina Jabor, baseado em um roteiro escrito por Toni Marques. Retrata o universo dos filmes da Boca do Lixo, além das suas relações com os órgãos de censura da ditadura militar na década de 1970 no Brasil, e é exibida pela HBO Brasil desde 24 de maio de 2015.
A série foi encerrada na terceira temporada, exibida em 2018.
A série foi gravada no Rio de Janeiro durante quinze
semanas, numa área de multilocação onde foi construída uma cidade cenográfica
retratando os principais cenários da trama, como o Bar Imperador, a Magnífica
Produções, a casa da família de Vicente e o Departamento de Censura Federal,
entre outros ambientes. Foi uma coprodução da HBO Latin America Group com a Conspiração Filmes. Os recursos utilizados para
o investimento da série foram da própria HBO, sem a necessidade da captação de
recursos públicos pela ANCINE, por meio da Lei de Incentivo à Cultura. A vinheta
de abertura da série mescla cenas e elementos da mesma ao som de "Sangue Latino",
do grupo musical Secos & Molhados. Pode-se notar um
erro nela, quando são mostrados maços de notas de cem mil cruzeiros,
que só seriam lançadas em 1985, enquanto a série se passa doze anos antes.
O ano é 1973. Vicente é um censor do Departamento de Censura
Federal do Estado de São Paulo. Ele vive um casamento monótono com
Isabel, filha do General Souto. Durante a avaliação de uma pornochanchada,
ele acaba vetando o filme, mas no entanto, acaba se encantando pela atriz Dora
Dumar, estrela do filme. Fascinado pela garota, que lembra uma falecida cunhada
sua, Ângela, ele mergulha no universo da Boca do Lixo,
onde começa a trabalhar com Dora e Manolo, com quem passa a formar um triângulo
amoroso. A atmosfera da época, com a repressão imposta pela Ditadura Militar no
poder relacionada com os filmes do gênero, desmerecidos pela alta sociedade
devido ao conteúdo, é o principal mote da trama.
A efervescente produção da Boca do Lixo, polo cinematográfico
de São Paulo que revelou cineastas como Carlos Reinchebach e Walter Hugo Khouri
nos anos 1970, serve de pano de fundo para "Magnífica 70", nova série
da HBO que estreia neste domingo (24). Primeira produção de época brasileira do
canal, ela retoma esse universo para contar a história do envolvimento entre um
censor da ditadura e uma atriz da pornochanchada, gênero do cinema brasileiro
que mistura sexo e comédia.
O projeto nasceu como roteiro de um filme de comédia sobre um
censor que se torna diretor da Boca do Lixo, escrito por Toni Marques. Mas ele
chegou às mãos da HBO já transformado em uma série de drama, que ganhou
direção-geral de Claudio Torres. O cineasta se interessou logo pela temática:
"É muito rico esse período, porque é um período paradoxal. É o auge da
ditadura, mas existia um cinema que permitia a nudez."
Os paradoxos da trama vão além do período histórico e se
estendem aos personagens. Vicente (Marcos Winter) é o censor que, motivado por
culpa, se envolve com o universo da Boca do Lixo e com Dora (Simone Spoladore),
atriz de um dos filmes que ele censurou. Dora, na verdade, se chama Vera, e é
uma golpista que entra na produtora Magnífica para roubar o dinheiro do filme,
mas se apaixona pelo universo do cinema. O produtor que conduz tudo, Manolo
(Adriano Garib), é um ex-caminhoneiro que caiu de paraquedas na Boca após
começar a sofrer de impotência sexual. E há também Isabel (Maria Luísa
Mendonça), mulher de Vicente, que deseja uma vida mais estável com o marido.
"Acho que essa série fala sobre repressão individual, do
Estado, e da liberdade através da arte", define Torres. "Eu acho que
durante a série a gente vai entender como é viver em um Estado no qual um
departamento controla o que você pode ou não ver. É uma grande reflexão sobre
isso, levado, de forma paralela, ao ponto de vista do indivíduo, de como é
perigoso se auto-reprimir. Os personagens tem uma auto-repressão, eles escondem
alguma coisa dos outros e de si mesmo".
Para Marcos Winter, o desafio do elenco foi não cair no
caricatural – tão associado às chanchadas brasileiras. "A gente fica no
limite de não “chanchar”, de não extrapolar. Porque é muito fácil ali entrar em
uma caricatura. Poder falar disso, dessa época, desse tema, mostrar o bastidor
de cada um desses personagens e carregar um drama de culpa, não tem
volta".
"Magnífica 70" faz uma grande homenagem ao cinema,
mencionando logo no capítulo de estreia José Mojica Marins, o Zé do Caixão. E a
equipe de produção contou com a consultoria de um importante expoente da Boca
do Lixo: o cineasta Alfredo Sternheim, que dirigiu longas como "Anjo
Loiro" (1973), estrelado por Vera Fischer.
"Ele foi um consultor primordial na construção do universo
que a gente criou", contou o diretor Claudio Torres. "A gente
perguntava para ele como era naquela época. Por exemplo, o som. 'Ah, não tinha
som direto, tinha no máximo um gravador'. Ele foi o nosso guia, foi primordial
nisso. Ele estava no primeiro grupo que gestou esse universo".
O próprio formato da trama foi pensado para se assimilar com as
etapas de produção de um filme, contou Torres. "Eles juntos vão fazer
um filme, que o Vicente vai escrever, a respeito da família dele com a Isabel e
o general. E essa estrutura que a gente encontrou foi uma experiência muito
interessante porque ela te dá um senso de fechamento para cada episódio e ao
mesmo tempo te dá a mecânica de um arco maior, que contém todas as fases de um
filme, do roteiro à divisão de lucros".
O cinema ainda exerce um papel fundamental na libertação dos
personagens, acredita Adriano Garib. "As vidas dessas pessoas se
transformam a partir do contato com o cinema. Esse meio de expressão pode não
só resolver os problemas pragmáticos de vida, de dinheiro, mas também suas
expressões como seres humanos. esse oportunismo os humaniza".
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