sexta-feira, 1 de março de 2019

Leão de Veneza, Itália

Leão de Veneza, Itália
Veneza - Itália
Monumento


Leão de Veneza é uma estátua de bronze na forma de um leão instalada no topo de uma coluna na Piazzetta, um espaço adjacente à Praça de São Marcos em Veneza. É o mais conhecido símbolo da cidade.
O leão está de pé, tem asas e um livro sob suas patas dianteiras. Suas origens são desconhecidas. Seu primeiro registro está em um documento de 1293 do Grande Conselho, ordenando que fosse restaurado ou "adaptado" (a palavra usada, aptari, tem tradução dúbia), mas a obra não é descrita. Parece que era dourado nesta época. A coluna onde se assenta é de granito, produzida no Egito, e segundo a tradição foi levada a Veneza em 1172, quando foi acrescentado um capitel ornamental. Presume-se que o leão tenha sido instalado pouco depois. O atual Leão de Veneza é o produto de diversos restauros e modificações ao longo dos séculos. Pelo menos quatro intervenções foram detectadas como tendo ocorrido até o fim do século XVIII. Só permanecem originais a cabeça, o peito, os flancos e partes das pernas.
As pesquisas para determinar sua origem e datação foram inconclusivas, mas parece certo que não se trata de obra veneziana medieval, e sim bem mais antiga. Foram propostos vários locais de procedência — ChinaÍndiaEtrúriaAssíriaBáctria ou Império Sassânida — mas em geral se pensa que tenha uma origem similar aos Cavalos de São Marcos, produzidos em algum lugar do mundo greco-helenístico e saqueados de Constantinopla em 1204. O leão pode ter sido parte do mesmo saque. O estilo do corpo trai a influência grega, mas a cabeça é distante dos padrões naturalistas cultivados na Grécia pós-clássica, e devem muito à influência estilizante oriental, o que não chega a ser uma contradição, havendo nesta época grande entrecruzamento de tendências diversificadas entre a região grega propriamente dita e áreas do Oriente Médio. Bianca Maria Scarfì, editora de uma coleção de estudos recentes sobre a peça, alegando haver muitas evidências, propôs que tenha sido criada em torno de 300 a.C. e instalada em um monumento em TarsoCilícia, dedicado ao deus Sandon, patrono da cidade, que tradicionalmente era representado sobre um leão alado e chifrudo. Defeitos na cabeça do Leão de Veneza foram interpretados como o local de onde teriam saído os ditos chifres, mais tarde supostamente removidos para adaptá-lo ao novo uso. As conclusões de Scarfì foram apoiadas por instâncias oficiais venezianas, mas não se tornaram um consenso e sua origem continua controversa. Outra hipótese que foi longamente debatida era a possibilidade de que primitivamente não tivesse asas, que teriam sido acrescentadas pelos venezianos, mas ela foi descartada a partir da identificação de vestígios da base de asas na parte do corpo que é original.
Desde a independência de Veneza São Marcos foi eleito patrono da cidade, substituindo o antigo, São Teodoro, que pertencia ao período do domínio bizantinoO leão foi associado a Marcos na tradição bíblica e aparece em uma lenda veneziana, narrando que o santo havia naufragado ao largo da costa e teria encontrado abrigo nas praias da laguna. Um anjo em forma de leão alado teria aparecido para confortá-lo, dizendo as palavras Pax tibi Marce, evangelista meus. Hic requiescet corpus tuum (A paz esteja contigo, Marcos, meu evangelista. Aqui teu corpo repousa). A lenda sobre o santo reza que ele foi martirizado no Egito, e a tradição veneziana foi reforçada quando despojos de um santo que se acreditava ser São Marcos foram roubados no Egito em 828 e levados para Veneza por alguns mercadores. Em sua homenagem a grande Basílica de São Marcos foi erguida, e desde então santo e leão alado ficaram indissoluvelmente vinculados a Veneza. A primeira frase do anjo tradicionalmente se repete nas representações marcianas e foi inscrita no livro que o leão da Piazzetta tem debaixo de suas patas. Imagens desse leão se multiplicaram nas cidades sob o domínio veneziano desde meados do século XIII, em moedas, estandartes, estátuas, pinturas e relevos, tornando-se o símbolo por excelência da República.
Quando Napoleão derrotou a República de Veneza em 1797, o leão foi baixado da coluna e levado a Paris junto com outros espólios de guerra, mas sofreu sérios danos durante o transporte. Foi exposto no Museu do Louvre e depois de restaurado foi instalado no topo de uma fonte diante do Palácio dos Inválidos. A peça foi reclamada pelos venezianos em 1815, mas nenhum operário francês se dispôs a removê-la, não desejando privar a França de tão precioso tesouro. Foram então contratados operários austríacos, e no meio do trabalho de desmontagem o leão foi derrubado, não se sabe se por acidente ou por intenção, e despedaçou-se. Sendo obra carregada de associações políticas, o desastre suscitou gritos de júbilo na multidão que assistia.
Devolvido enfim a Veneza em pedaços, algumas partes se perderam no caminho, inclusive as asas, a cauda, o livro, partes das pernas e um fragmento do topo da cabeça. Um restauro foi encomendado ao escultor Bartolomeo Ferrari, que o recompôs e reintegrou as partes ausentes sem muita habilidade. A cauda foi sensivelmente modificada, sendo estendida para trás. Antes se enrolava debaixo das pernas traseiras. As asas também sofreram mudanças importantes em seu formato e detalhamento, e o livro foi reconstruído em chumbo. Depois voltou ao topo da coluna. Em 1892 foi submetido a uma restauração completa por Giacomo Boni, que fez um trabalho primoroso.
No início da II Guerra Mundial foi removido e escondido por razões de segurança, e antes de sua reinstalação em 1945 passou por novo restauro. Outro iniciou em 1985, e levou anos para ser concluído. Em 1990 foi levado para ser exposto em Amsterdã e Londres, coincidindo com a visita do presidente italiano. Na ocasião foi organizado em Londres um seminário onde se debateu mais uma vez sua origem e datação, sem que se chegasse a um consenso. Voltou a Veneza em 1991, sendo recolocado na coluna em meio a grandes festejos.

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