segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Fiat Tempra SW, Brasil








Fiat Tempra SW, Brasil
Fotografia


Parece mentira, mas no começo dos anos 90 o mercado nacional tinha seis peruas oferecidas por quatro fabricantes. Nem a inflação galopante anterior ao Plano Real era capaz de segurar o ânimo das famílias, que sempre davam um jeito de cair na estrada.
Uma das peruas favoritas era a Fiat Elba, notória por ser pequena, econômica, ter quatro portas e o maior porta-malas da categoria.
Na mesma época, a Fiat decidiu apostar no Tempra, sua primeira aventura no segmento dos sedãs médios. A turma de Betim não mediu esforços e investiu pesado para adequá-lo às condições do país e ao gosto dos consumidores, incluindo uma exclusiva versão de duas portas.
A aceitação do sedã Tempra foi tão grande que a fábrica trabalhava a todo vapor: não havia capacidade para fabricar a tão sonhada perua Tempra S.W.
Mas os ventos sopraram a favor: a redução do imposto de importação (de 35% para 20%) facilitou a vinda da Tempra S.W. da Itália, de onde ela já trazia o igualmente bem-sucedido hatch Tipo. Custando US$ 29.400, ela era pouco mais cara que as versões intermediárias da VW Quantum e Ford Royale, derivadas de um antiquado projeto dos anos 80.
Detalhes como os vidros rentes à carroceria só eram encontrados na Chevrolet Suprema, perua de categoria superior. Foi uma das estrelas do Salão do Automóvel de 1994, com virtudes até então exclusivas para o mercado europeu. A mais chamativa era o painel de instrumentos com mostradores digitais em cristal líquido, nunca oferecido no Tempra nacional.
Outro destaque era o ar-condicionado automático, também digital. As suspensões independentes mantinham o esquema original do Tempra italiano: dianteira McPherson e traseira por braços arrastados.
Os freios eram a disco nas quatro rodas, com ABS opcional. As rodas de aro 14 pareciam com as do modelo nacional, mas se diferenciavam pela válvula dos pneus inserida em um dos quatro raios. Outras minúcias eram a grade menor, o capô mais largo, os faróis de milha nas extremidades dos para-choques e os espelhos retrovisores iguais ao do Tipo.
Sua principal vantagem sobre o Tempra estava na linha ascendente do teto, 7 cm mais alto que no sedã. O porta-malas (de 509 litros) era novamente o maior da categoria, com a tampa de acesso dividida em duas seções. Sua aerodinâmica era refinada ao ponto de adotar uma entrada de ar em baixo-relevo no teto, mantendo o vidro traseiro sempre limpo.
Pesando 1.390 kg, a perua era impulsionada pelo mesmo motor do Tempra 8 válvulas, mas com injeção eletrônica multiponto Magneti Marelli IAW 603, a principal responsável pelo bom rendimento de 109 cv a 5.750 rpm. A entrega de potência era suave e linear, graças a árvores de balanceamento que reduziam a aspereza do motor em altas rotações.
O câmbio de cinco marchas de relações longas deixava a perua com o pior resultado entre as concorrentes nas retomadas de 40 a 100 km/h: nada menos que 29,68 segundos. Os engates difíceis também comprometeram a prova de aceleração: 0 a 100 km/h em 13,46 segundos. Os 188 km/h declarados pela Fiat só não foram alcançados em virtude da curta pista de testes da época.
Encontrar uma Tempra S.W. hoje é uma tarefa hercúlea: graças ao seu estilo controverso, há quem diga que a oferta jamais passou do lote inicial de 1.200 unidades. O exemplar das fotos foi preservado pelo colecionador José Lindolfo Castro, que não mede esforços para mantê-la em perfeito estado de conservação.
A turnê da Tempra S.W. pelas terras brasileiras teve fim após os desmandos da nossa política econômica, que da noite para o dia elevou o imposto de importação de 20% para 70%. Inviável economicamente, sua importação foi suspensa junto com a de outros modelos igualmente emblemáticos da Fiat: o Tipo SLX 2.0 e o Tipo Sedici Valvole.

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