Ford Belina Luxo Especial, Brasil
Fotografia
O
jacarandá-da-baía é considerado a mais valiosa das madeiras nacionais. A
textura lisa e as listras pretas contrastando com o fundo marrom conferem uma
estética própria a objetos de decoração,
móveis de luxo e instrumentos
musicais.
Um material
tão belo que foi escolhido pela Ford para a decoração externa da Belina Luxo
Especial.
Apesar de ter sido desenvolvida em conjunto com a
Renault francesa, essa versão da Belina surgiu na capa da QUATRO RODAS de março de 1970
com um visual tipicamente americano.
A inspiração
foi a prima Country Squire, que desde os anos 50 deixava a fábrica de Detroit com apliques na carroceria
imitando madeira.
Esse esmero
tinha uma razão: a Belina brigava com a forte VW 1600 Variant, que desde 1969
reinava solitária no segmento das peruas. Não bastava à Ford demonstrar a
superioridade da Belina: ela também precisava parecer superior à concorrente.
A batalha
publicitária foi interessante. A VW se vangloriava do motor escondido da
Variant (que resultava em um porta-malas dianteiro e outro traseiro), enquanto
a Ford apresentava a Belina como “o carro que não tem nada a esconder”, em
referência ao motor dianteiro e ao amplo porta-malas de 855 litros (1.680 litros com os bancos
traseiros rebatidos).
O acabamento
exibia frisos, cromados e pneus de faixa
branca. O interior se equiparava ao do Corcel GT, com tapete de buclê e a rara opção do banco dianteiro
inteiriço, apesar da alavanca do câmbio no assoalho.
Trazia rádio,
luzes de cortesia e para-brisa com
desembaçador, lavador e limpador com duas velocidades. O enorme volante era o
mesmo do Aero Willys.
Ela era
estável sem abrir mão do conforto, mérito da tração dianteira e do acerto da
suspensão: independente por braços sobrepostos à frente e eixo rígido atrás.
Com direção
leve e precisa, o comportamento era mais previsível que o da Variant: tendência
ao subesterço, carregada ou não. Os freios dianteiros a disco eram eficientes.
Outra vantagem
da Belina era o motor de quatro
cilindros em linha, de 1,3 litro e
68 cv. Não era o mais adequado aos 994 kg da perua, mas era silencioso,
econômico e contava com um sistema de refrigeração
selado com vaso de expansão,
praticamente dispensando a verificação periódica do nível do líquido de arrefecimento.
Na prática, a
temperatura ficou abaixo de 80oC
durante as provas de desempenho.
Superdimensionado, o motor suportava altas rotações sem grande esforço. Com 12
litros a mais que o Corcel, o tanque de 63
litros garantia boa autonomia na estrada.
O modelo 1971
trouxe pequenas alterações: a grade foi redesenhada e ganhou o emblema do
cavalo no centro. As lanternas dianteiras foram reposicionadas logo abaixo do
para-choque, e o painel passou a ser pintado na cor da carroceria. A suspensão
foi revista e ficou mais silenciosa graças a novos coxins de borracha.
Em 1972,
pistões maiores elevaram a cilindrada para 1,4 litro, resultando em 75 cv e
11,6 mkgf de torque. Era o mesmo
motor XP (extra performance) do Corcel GT, mas com carburador de corpo simples.
As lanternas
traseiras passaram a ser horizontais, luzes de ré
foram adicionadas, e o volante passou a ser o mesmo do Galaxie.
Foi o último
ano da versão. No mesmo ano, a publicidade informava que os painéis imitando
jacarandá poderiam ser instalados nas concessionárias, em qualquer versão.
“Acredito que
eles encerraram a versão e ficaram com um grande estoque de painéis na fábrica”, diz Sérgio Minervini,
dono desta Luxo Especial 1971.
Uma versão
mais requintada da Belina só voltaria a ser ofertada em 1975, com o surgimento
da versão LDO (luxuosa decoração opcional), que se estendeu pela segunda
geração da perua.
De lá para
cá, as Belinas Luxo Especial ficaram na mesma situação do jacarandá-da-baía:
foram quase extintas, o que elevou consideravelmente seu valor no mercado de automóveis antigos.
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