Artigo
O porta-aviões A-11 Minas Gerais prestou inestimáveis serviços a Marinha de guerra do Brasil por 50 anos. Ao substituí-lo pelo A-12 São Paulo, a liderança da Marinha Brasileira acreditava que um novo e portentoso ciclo se repetiria. Um porta-aviões “moderno” e finalmente com o uso de caças, de jatos de verdade e, o melhor, de propriedade da Marinha do Brasil (MB). Mas não.
O A-12, ex porta-aviões Foch, comissionado em 1963 e que operou com a Marinha francesa (Marine Nationale), e que foi adquirido pela MB em 2000, mostrou-se o oposto do valoroso Minas Gerais. O São Paulo foi uma grande dor de cabeça para à MB, ceifando vidas e passando mais tempo no estaleiro do que no mar. Em 2017 a MB desistiu dele, descomissionando-o.
A retirada de serviço do A-12 não foi um duro golpe para apenas para a MB, mas para toda a nação. O Brasil é um país de dimensões continentais e possui uma das maiores e mais ricas costas do planeta! Não ser capaz de projeção de força sobre sua área de exploração econômica é simplesmente uma vergonha, para não dizer um descaso político-militar.
Além disso, a MB só voltou a operar aeronaves de asa-fixa e de alto desempenho com o fim de uma lei estúpida, resultado da disputa de egos entre a FAB e a MB nos anos 1960. Perder o A-12 também significa perder a capacidade de operar a contento a Ala Aérea embarcada.
Em 2018 a Marinha decidiu comprar da Grã-Bretanha o ex-HMS Ocean, que já foi Nau Capitania da Marinha Real e que estava parado desde 2005. Foi uma verdadeira compra de oportunidade e custou ao Tesouro Público R$ 440 milhões. O São Paulo custou US$ 12 milhões em 2000, cerca de R$ 50 milhões atuais.
Renomeado Porta-Helicópteros Multipropósito A140 Atlântico, o navio é capaz de transportar 17 helicópteros, sendo que 7 podem ser operados simultaneamente no convoo.
A Marinha não confirma, mas a aquisição do Atlântico foi para compensar a perda do A-12. Mas, valeu o investimento?
Do ponto de vista de dar a MB uma capacidade de operar próximo a costa, sim, é para isso que servem os porta-helicópteros em todas as Marinhas de guerra do mundo. Mas para a projeção de força, além-mar, não.
Logo que foi anunciada a compra do Atlântico, muitos especialistas em defesa viram uma pequena – mas real – oportunidade da MB vir a dotar o A140 de aeronaves de asa-fixa. Óbvio que só existe um tipo de nave de asa-fixa capaz de operar num porta-helicópteros: um avião VTOL.
E mais óbvio ainda é que só existem dois modelos VTOL no mundo capazes de operar num porta-helicópteros: o Sea Harrier e o F-35B.
O Sea Harrier/AV-8 é um caça em fim de carreira, prestes a ser descomissionado. Já o F-35B é novo, ainda está entrando em operação com os Fuzileiros Navais dos EUA.
Atualmente as Marinhas que operam com porta-helicópteros, como a japonesa e a australiana, estão considerando programas de reforma que podem dar a esses navios a capacidade de operarem com o F-35B. O avião VTOL da Lockheed foi uma grata surpresa, permitindo as Marinhas obter uma capacidade de projeção de força além-mar, com um caça furtivo de 5ª Geração e operando em navios que custam menos de 1/3 dos super porta-aviões.
Não é impossível para a MB operar o F-35B no Atlântico, mas para uma Marinha que não conseguiu manter um porta-aviões da década de 1960, o preço de aquisição e operação do F-35B é proibitivo. Aqui Nelson Jobim teria razão, “é demais pra nós”.
Também não seria impossível para a MB operar o AV-8, mas é um avião velho, em fim de carreira. Adquirir o Sea Harrier seria repetir o erro de aquisição do A-4.
Sem dinheiro para um novo porta-aviões convencional e sem a menor perspectiva de dotar o Atlântico com uma Ala Aérea de asa-fixa, existe alguma solução para a Marinha do Brasil projetar força sobre o mar? Lembrando que bases na costa pertenceriam a Força Aérea, mas sim! Existe. Um porta-aviões STOBAR.
Um porta-aviões STOBAR livraria a MB dos custos e complexidade de operação da catapulta. O porta-aviões poderia ser construído pela indústria nacional, gerando milhares de empregos diretos e outros milhares de indiretos. Quem sabe um NAe STOBAR realizaria o sonha da MB, de ter duas frotas, a do Norte e a do Sul? Imagine – apenas imagine – a MB operando um no Sul, um no Norte e um terceiro servindo de escola para o treinamento de futuros tripulantes.
Um STOBAR tem limitações? Tem, como por exemplo, não poder operar aeronaves de alerta antecipado, como os ingleses sentiram na pele em 1982, tendo de recorrer para isso a helicópteros e a uma cobertura radar fornecida pelos radares do grupo de batalha. Aeronaves de alerta antecipado são essenciais sobre o mar por causa da curvatura da Terra.
A Marinha chinesa e a Marinha indiana optaram por esse modelo como forma de aprenderem e terem capacidade de projetar força sobre o mar, sendo que a Marinha indiana já operou porta-aviões CATOBAR. Ambas as Marinhas estão migrando, num futuro próximo, para o uso de catapultas, mas provavelmente magnéticas.
Um navio STOBAR daria sim a MB uma capacidade de projeção de força no “nosso quintal”. Também permitiria o uso de aeronaves melhores e mais capazes do que esse punhado de A-4s que compõem a frota da MB, muito embora o leque de opções de aeronaves STOBAR se resuma ao MiG-29K, Su-33 e J-11. A Saab ainda sonha com o seu Sea Gripen e a Boeing afirma que o Super Hornet pode operar com a rampa.
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